Gratidão como caminho para a individuação 0/5 (1)

Our Score
Click to rate this post!
[Total: 0 Average: 0]
Download PDF

Gratidão como caminho para a individuação

Toda A EXISTÊNCIA HUMANA É UMA JORNADA FORMOSA que capacita o individuo para a conquista dos elevados objetivos psicológicos a que se propõe.

Uma vida sem significado psicológico é uma existência destituída de sentido e de busca. Reduz-se ao amontoado de fenômenos fisiológicos, em que os automatismos funcionam com mais vigor do que os sentimentos e as expressões da razão, do discernimento,que,embora ainda adormecidos,surgem e desaparecem,não logrando ser aplicados pelo self.

A predominância do ego é caracterizada pelos interesses mesquinhos, num estágio de consciência de sono, sem imediatos vislumbres da realidade.

Não havendo ideais relevantes, o sentido existencial é tímido, contentando-se com as satisfações orgânicas e os prazeres dos instintos, encarcerados nas sensações. Faltando a capacidade da estesia e da estética, da emotividade superior,a sombra mantém-se vigilante e ativa, elegendo apenas aquilo que lhe basta, fazendo o ser humano transitar entre as alegrias sensoriais e os desencantos físicos. Enquanto,porém, consegue manter os gozos,tudo segue bem e lhe é suficiente até o instante em que outros fenômenos inevitáveis,aqueles que atingem o corpo no processo degenerativos, tais como as enfermidades, os transtornos emocionais, as dificuldades sociais e a perda daquilo em que se compraz,transformam a caminhada terrestre num martírio, num verdadeiro sofrimento em que a revolta e a queixa se instalam perversamente.

A lei de progresso, encarrega-se de impulsionar o Espírito, mesmo quando negligente e irresponsável,a outras experiências que o desperte para o vir a ser. O sofrimento de qualquer matiz é normalmente o instrumento de que a vida se utiliza para demonstrar ao inadvertido que a existência física não é uma viagem ao agradável exclusivamente,ao desfrutar dos contentamentos imediatos,sem nenhum respeito pelo esforço pessoal, pelas lutas e mesmo pelas reflexões afligentes que alteram a percepção da realidade.

Na claridade dos dias de jíbilos, o discernimento ainda embrionário não consegue romper as algemas do primarismo para entender a necessidade do crescimento ético e da real conquista da saíde. Esse trânsito do adormecimento para o despertar sempre se apresenta quando se é obrigado a caminhar pela noite escura da alma, conforme acentuava São João da Cruz, que a viveu demoradamente até conseguir a crucificação do ego e das suas paixões, morrendo em holocausto pessoal, para ressuscitar em madrugada de bençãos e de conhecimentos da verdade, perfeitamente lícido e feliz.

Quase sempre,porém,quando se é convidado a transitar por essa noite, aqueles que ainda não se adaptaram aos processos de mudança dos estágios inferiores, nos quais as necessidades são fisiológicas em predominância, para outros menos orgânicos e mais emocionais e psíquicos,em vez do esforço pelo conseguir, esse paciente rebela-se, entrega-se aos queixumes,transforma as experiências em rosário de lamentações,de infelicidade.

Nele permanece a criança maltratada, sempre ansiosa por apoio e carinho, negando-se ao crescimento psicológico, ao desenvolvimento dos valores espirituais que existem no seu interior assim como em todos os seres humanos.

O amadurecimento psicológico exige não raro muita aflição e cansaço da situação de comodidade que perde o encantamento,na razão direta em que é vivenciada, produzindo saturação emocional no gozador.

Certo genitor laborioso e dedicado ao dever tinha um filho que, ao contrário, era fítil, vivendo como parasita explorador do pai. Aplicava o tempo nos gozos materiais e na consumpção das energias morais,mesmo que escassas.

O pai, maduro e sábio,sempre o advertia e lhe explicava que, pelo fenômeno natural da vida, seria o primeiro a morrer, e que os haveres, por mais abundantes, quando gastos sem renovação tendiam para o desaparecimento,para a extinção. Informava-o que os amigos que o cercavam não lhe tinham a menor estima,antes se interessavam pelos recursos de que dispunha e,quando esses escasseassem, também desapareceriam …

Os conselhos soavam como velha balada conhecida e recusada.

Oportunamente, o idoso trabalhador mandou construir nos fundos da propriedade um celeiro,colocando no seu interior uma forca,tendo fixada uma placa informativa com os seguintes dizeres: Eu jamais ouvi os conselhos do meu pai. Posteriormente, quando tudo estava concluído,chamou o filho,levou-o ao celeiro e explicou-lhe: – Filho, encontro-me velho,cansado e enfermo. Quando eu falecer,tudo que me pertence passaráà sua propriedade. Caso você fracasse,porque atirará fora todos os bens que lhe transfiro,peço-lhe que me prometa que usará esta forca, como medida de reparação do mal que nos fez a ambos.

O moço, sem entender exatamente o que o pai desejava dizer-lhe,silenciou,a fim de o não contrariar.

O genitor desencarnou tempos depois e o jovem herdou-lhes os bens,passando a dissipá-los com mais extravagâncias e desperdícios. Pouco tempo transcorrido,deu-se conta que havia malbaratado todos os negócios e recursos,e estava reduzidoà miséria,à solidão, até mesmo porque os falsos amigos abandonaram-no. Recordou-se do pai e chorou copiosamente. No pranto,recordou-se da promessa que lhe fizera,de que se enforcaria após o fracasso.Trêmulo de emoção desordenada, dirigiu-se ao celeiro e lá encontrou a forca assim como os dizeres terríveis. Teve uma iluminação,concluindo que essa seria a ínica vez na sua existência em que poderia agradar ao homem nobre que fora seu pai e sempre vivera decepcionado com a sua conduta.

Subiu então na forca,colocou o laço no pescoço e atirou-se no ar…

O braço da engenhoca era oco e partiu-se,caindo dele diversas jóias: diamantes,rubis,esmeraldas, uma verdadeira fortuna com um bilhete,que informava: Esta é a sua segunda chance. Eu o amo de verdade. Seu pai…

A partir dali a sua vida tomou novo rumo e ele mudou completamente a maneira de encarar a oportunidade.

Quando a existência é vã e inítil, sempre surge uma segunda chance, mas o melhor será que cada um cresça com o esforço pessoal e saiba aproveitar o processo de amadurecimento,a fim de que não se veja forçadoà mudança após situações desesperadoras.

É inevitável o amadurecimento psicológico do ser humano,mesmo quando se imponha impedimentos momentâneos.

O filho,como é compreensível, poderia ter evitado o período de sofrimento e de amargura,caso houvesse atendido ao pai,agradecido a tudo quanto recebia sem crédito ou mérito e atirava ao desprezo.

Se houvesse cultivado o mínimo de gratidão,compreenderia que o esforço do pai, cansado e sempre trabalhador,merecia pelo menos respeito de sua parte.

A gratidão pode expressar-se como respeito e consideração pelo que os outros fazem, oferecem e a que se dedicam de enobrecedor.

A sua ausência dá lugar a um tipo de cupim emocional que devora interiormente o ser,qual ocorre com aquele inseto de vida social que se nutre da planta viva ou morta,alimentando-se com voracidade, enquanto a consome.(Do Livro Psicologia da gratidão,psicografia de Divaldo Pereira Franco)

Loading