Intercâmbio com os Desencarnados – Odilon Fernandes 3.33/5 (3)

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Odilon Fernandes

Que Jesus nos abençoe, nesta noite de paz e aprendizado para todos nós – de aprendizado, porque, sem dúvida, uma sessão mediúnica é sempre uma nova oportunidade de esclarecimento, oportunidade de acréscimo ao conhecimento que já possuímos.

Ainda antes do inicio da cessão, estivemos registrando o pensamento de um dos integrantes do grupo, exteriorizando uma dúvida que, confesso, também era minha quando imerso no corpo denso:

– Por que a necessidade do intercâmbio mediúnico?!… Por que os desencarnados tem que se comunicar? Por que não são todos esclarecidos na Vida Maior, já que se encontram despojados do corpo material?!…

Digo-lhes que não são fáceis as respostas a semelhantes indagações. Nós próprios ainda estamos estudando, fora do corpo, esse mecanismo complexo, que é a alma, com as necessidades que lhe dizem respeito. Quase sempre os espíritos que aqui comparecem para esclarecimento, através do diálogo elucidativo em torno da realidade da existência, encontram-se ainda imantados às sensações da vida física, excessivamente sugestionados pelas experiências que os marcaram e das quais não lograram se despojar.

Esses nossos irmãos dialogam, sim, conosco, na Vida Espiritual; permutamos impressões, mas se assemelham, não raro, a soldados que, embora recolhidos ao leito do hospital para refazimento, anseiam regressar ao campo de batalha, como de lá tivessem deixado pedaços de seus próprios membros, como se lá tivessem sepultado seus sonhos e fracassos, como se lá tivessem esquecido o tempo que anelam retomar, – se lhes fossem possível o retrocesso! – como se quisesse dizer a si mesmos que tudo não passou de estranho pesadelo e que lhe será possível viver distantes dos caminhos sinuosos e dos atalhos nos quais, infelizmente, se perderam. Esses nossos companheiros, muitos deles suicidas, alcoólatras, toxicômanos, criminosos, cépticos ou simplesmente mendigos da luz da Verdade pela qual nunca se interessaram no mundo, anseiam em suas comunicações, obter o perdão da Humanidade, anseiam obter o beneplácito da paz, ouvir o eco de uma voz familiar que lhes fale da realidade, para eles ainda muito mais palpável e nova do que a realidade da Vida nos diferentes planos da matéria na Espiritualidade…

Esses nossos companheiros estão presos ao peso da culpa, da decepção; não se animam a seguir adiante deixando tantos problemas insolúveis na retaguarda; não têm suficiente serenidade para olvidar os laços afetivos, com os quais, não raro, nunca se importaram… Quantos deles, em dominando as faculdades do médium, anseiam permanecer no aconchego do corpo que tomam por empréstimo em alguns breves minutos… Sonham com uma nova vida, mas temem a reencarnação, receiam voltar a ser crianças e, quando se sentem envolvidos pelo calor humano, que emana das células físicas, por instante supõem que estão vivenciando experiências em um corpo já adulto e que poderão, embora com a mesma personalidade, trilhar um caminho diferente. Dói, mesmo em nós dói perceber esses companheiros hipnotizados, pelas suas próprias lembranças, como se quisessem iludir a si mesmos, fugindo à Verdade. Alguns deles seguem conosco, afastam-se, quase que de imediato, do cenário terrestre, no entanto sofrem dolorosamente com o processo de adaptação nos planos da Vida Mais Alta e, então, recomenda a fraternidade que os conduzamos às reuniões que funcionam para eles como sessões de descondicionamento mental.

Para a grande maioria, muitas sessões de terapia desobsessiva são necessárias; não acreditem que mudem de um instante para outro, porque não o há quem os faça mudar, seja na Terra ou na Vida Espiritual; não acreditem que poucas palavras tenham sobre eles um efeito imediato… Concordam com os conselhos, concordam com as palavras de bondade de indulgência, para daí a pouco caírem em repetidas crises de angustia, de abatimento e de desesperança.

Sabem, certamente sabem, que estão vivenciando uma nova etapa do próprio progresso; certamente sabem, mas não admitem, lutam contra as evidências, como o réu que desmente, peremptoriamente, a culpa em que incorreu, como se estivesse tentando fugir aos alvitres da consciência em vista das dificuldades penosas do reajuste.

Penso, nas reflexões de quem ainda estuda, penso que alguns dos motivos devem ser esses que acabamos de expor… Não acreditem que seja fácil desencarnar, que a desencarnação seja para o Espírito o que o espaço é para o pássaro liberto… Muitos não sabem o caminho da Espiritualidade Superior; muitos apenas conhecem os trilhos em que sempre viveram, em sua rotina diária: receiam avançar… Para onde? Em que direção?!… Até mesmo aqueles que odiaram no mundo então lhes servem como ponto de referência mais seguro… Quantos se posicionam ao lado dos que odiaram na Terra, não para os continuar odiando, mas para continuar a lhes usufruir o calor da companhia, para não se sentirem tão sozinhos, à maneira do cão que segue o dono, embora este o tenha afastado com palavras e atitude ásperas!

Os nossos irmãos sentem essa necessidade. Anêmicos, carecem dessa transfusão; desesperançados, precisam desse ânimo; combalidos, suplicam a caridade de quem, lhes abrindo a porta do psiquismo, os acolha na sala de estar do coração e os ouça em confidência, lhes falando com brandura e misericórdia e lhes oferecendo pão, se famintos, água, se sedentos, luz, se cegos, verdade dosada em amor, se ignorantes delas… Eles virão, continuarão vindo à procura do medianeiro de boa vontade, capaz de se esquecer em serviço, olvidar melindres e incompreensões diminutas para estender-lhes a mão na caridade anônima e genuína do intercâmbio entre os dois planos da Vida.

Nessa reconstrução simbólica da Escada de Jacó, que o Espiritismo possibilita à Humanidade, é aqui, neste recinto, que eles são ouvidos, que eles têm voz e que eles têm vez, porque,lá fora, eles influenciam sem que sejam influenciados, batem as portas que se não lhes abrem e permanecem assim, até que um crieneu da Espiritualidade os conduza a uma casa como esta…

Estão aqui, aglomerados, ouvindo-me falar e choram… Emociono-me com eles e percebo o quanto ainda as duas Humanidade, a visível e a invisível, necessitam trabalhar neste processo de abençoada parceria para que o mundo e a psicosfera que o envolve possam ser saneados.

Que o senhor abençoe os médiuns desta casa e lhes possibilite compreender a tarefa cuja grandeza não são capazes de avaliar e que, por isto, muitas vezes a subestimam, sobrepondo a ela os seus melindres e os seus achaques, as suas crises de personalismo no comprometimento de tudo.

Que Deus nos abençoe, fortaleça e nos mantenha lúcidos, hoje e para sempre.

Odilon Fernandes

Livro: Mediunidade, Corpo e Alma.

Carlos A. Baccelli

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