Médiuns nos dois planos de vida – Odilon Fernandes 4.4/5 (5)

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Odilon Fernandes

A época talvez nos seja propícia a reflexões em torno do que nos aguarda no novo ano, prestes a iniciar-se. Talvez pudéssemos, neste momento, efetuar um balanço íntimo da nossa postura diante da mediunidade, da tarefa mediúnica que abraçamos em nome de Jesus. Será que, de fato, efetuamos progressos, do ponto de vista da mediunidade, ao longo deste ano? Será que servimos com disposição? Será que nos encorajamos um tanto mais no que se refere à renúncia? Será que não recusamos o contato com as entidades sofredoras, com aquelas que de nós se aproximaram durante as nossas reuniões semanais, com o propósito de ouvir uma palavra amiga, de conforto, de esclarecimento? Será que nós mesmos não fomos um obstáculo ao exercício da mediunidade? Será que não impedimos que as nossas possibilidades medianímicas deslanchem? Porque, muitas vezes, na condição de médiuns, não conseguimos nos isentar dos nossos problemas pessoais e trazemos para a reunião as nossas mazelas, os nossos melindres, os nossos rescaldos; trazemos para a reunião os nossos aborrecimentos e, não raro, aqui, nos colocamos a mentalmente esgrimar com os companheiros com os quais não nos afinizamos, com os que consideramos como nossos desafetos ou, então, com as nossas lembranças, lembranças de problemas que deixamos lá fora, em casa, no ambiente de trabalho profissional…

Forçoso chegarmos à conclusão que, se muito nos foi possível realizar, por outro lado, muito deixamos de fazer, não por falta de cobertura espiritual daqueles que nos tutelam do Mais Alto, mas, sem dúvida, porque nós mesmos, médiuns nos Dois Planos da Vida, nos constituímos em obstáculo quase inamovível, no cumprimento de dever.

Um ano praticamente se passou, mais um ano, e seria interessante que nós efetuássemos as contas, não as contas alheias mas aquelas que nos dizem respeito… Quantas vezes não deixamos de comparecer ao compromisso, por espírito de desagravo ou para enviar aos companheiros determinadas “mensagens” de nossa desaprovação pessoal, em decisões com as quais não concordamos?

Sem dúvida, existe sempre prejuízo para os tarefeiros espirituais, quando a equipe mediúnica não corresponde à expectativa. Os companheiros espirituais empenham o seu tempo, a sua dedicação, as suas esperanças, mas o prejuízo maior fica sempre com o médium; permanece com o grupo de irmão encarnados que se mostraram vulneráveis ao assédio das entidades infelizes, as quais lhes vampirizam o psiquismo, com o intuito de atrasar-lhes o passo na senda do progresso; no entanto também carecemos de considerar o problema da auto-obsessão… Somos vítimas de coisas que não existem, alimentamos a imaginação doentia, tiramos conclusões falsas e, assim, nos prejudicamos sensivelmente, porque acalentamos uma idéia, uma emoção que passa a ser dentro de nós um foco de enfermidades espirituais… Quantos não mostram, infelizmente, vocação para o desequilíbrio fácil? Quantos não se exaltam se exasperam, se revelam suscetíveis? Quantos não absorvem emanações deletérias, vibrações negativas e as incorporam com muito maior facilidade do que incorporam as entidades espirituais enfermas, que aqui comparecem pedindo caridade?…

Os médiuns, porque possuem as faculdades sensoriais à flor da pele, experimentam com maior facilidade as influências negativas e, não raro, as somatizam, ou seja, as transformam em sintomas físicos que nada mais representam que sintomas espirituais camuflados, de desequilíbrio, de desgaste emocional, de pensamentos doentios sistematicamente cultivados. Quantos os que ainda não conseguiram se despojar de determinadas idéias que os acompanham, desde muitos meses? Quantas idéias haveremos de levar conosco para o ano que se inicia idéias que não correspondem à realidade, que nos acorrentam na disposição de servir, nos impedindo de tomar a iniciativa de cooperar mais decididamente em prol da Causa que abraçamos!

Seria extremamente valioso que cada medianeiro efetuasse a sós, no silêncio de suas reflexões, um balanço de suas atividades, de sua postura diante da Doutrina, questionando-se a respeito do que tem feito com o talento da mediunidade que o Senhor lhe concedeu para ser multiplicado em benefício de muitos, porquanto, se aqui os nossos irmãos médiuns estão lidando com entidades desencarnadas, estão somando experiências, adquirindo lucidez, melhorando a sintonia, para que lá fora, no dia-a-dia, lidem com maior proveito com as entidades encarnadas, dentro do lar, na vida social… Essas entidades encarnadas, que carecem dos recados do Mais Além, se nomeiam filhos, sobrinhos, irmãos, tios, amigos próximos…

Reflitamos neste contexto e procuremos enfrentar a nova etapa, nas primícias do Terceiro Milênio da Era Cristã, para que a mediunidade nos seja um instrumento útil ao progresso e não um obstáculo, um fardo que nos pese excessivamente aos ombros.

Precisamos confiar mais. Com extrema facilidade posterga deveres espirituais, dando evidência às atividades materiais, às quais, a rigor, ele se dedica praticamente o dia inteiro; o dia todo quase, o homem encarnado está absorvido pelas atividades materiais e acha penoso, ao fim do período, consagrar-se durante alguns minutos às atividades de natureza espiritual. A todo momento, consulta o relógio para ver se a reunião está prestes a terminar, a todo instante se inquieta, se impacienta, se aflige, porque não consegue sustentar a concentração, não consegue orar, não tem firmeza e se rende, inapelavelmente, aos receios, aos medos, às fobias, as síndromes mais variadas que lhe vampirizam o psiquismo, e ele se deixa encarcerar, se deixa envolver, olvida que uma reunião tal como esta pode significar, para o espírito o que significa um oásis, em pleno deserto, para o beduíno cansado.

Bibliografia

Bacelli, Carlos A.; Fernandes, Odilon. Falando de mediunidade. Cap. 25. 2003.

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