SIGNIFICADO DO SOFRIMENTO NA VIDA – Livro – Amor Imbativel Amor 1.67/5 (3)

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Para melhor expressar-se, o amor irrompe de for­mas diferentes, convidando à reflexão em torno dos valores existenciais. Muito do significado que se carac­teriza pelo poder — mecanismo dominante da realiza­ção do ego — desaparece, quando o amor não está pre­sente, preenchendo o vazio existencial. Essa ânsia de acumular, de dominar, que atormenta enquanto com­praz, torna-se uma projeção da insegurança íntima do ser que se mascara de força, escondendo a fragilidade pessoal, em mecanismos escapistas injustificáveis que mais postergam e dificultam a auto-realização.
A perda da tradição é como um puxar do tapete no qual se apoiam os pés de barro do indivíduo que se acreditava como o rei da criação e, subitamente se en­contra destituído da força de dominação, ante o desa­parecimento de alguns instintos básicos, que vêm sen­do substituídos pela razão. O discernimento que con­quista é portador de mais vigor do que a brutalidade dos automatismos instintivos, mas somente, a pouco e pouco, é que o inconsciente assimilará essa realidade, que partirá da consciência para os mais recônditos re­folhos da psique.
Nesta transformação — a metamorfose que se ope­ra do rastejar no primarismo para a ascese do raciocí­nio — o sofrimento se manifesta, oferecendo um novo tipo de significado e de propósito para a vida.
Impossível de ser evitado, torna-se imperioso ser compreendido e aceito, porqüanto o seu aguilhão pro­duz efeitos correspondentes à forma porque se deva aceitá-lo.
Quando explode, a rebeldia torna-se uma sensa­ção asselvajada, dilaceradora, que mortifica sem sub­meter, até o momento em que, racionalmente aceito, faz-se instrumento de purificação, estímulo para o progres­so, recurso de transformação interior.
O desabrochar da flor, rompendo o claustro onde se ocultam o perfume, o pólen, a vida, é uma forma de despedaçamento, que ocorre, no entanto, no momento próprio para a harmonia, preservando a estrutura e o conteúdo, a fim de repetir a espécie.
O parto que propicia vida é também doloroso pro­cesso que faculta dilaceração.
O sofrimento, portanto, seja ele qual for, demons­tra a transitoriedade de tudo e a respectiva fragilidade de todos os seres e de todas as coisas que os cercam, alterando as expressões existenciais, aprimorando-as e ampliando-lhes as resistências, os valores que se con­solidam. Na sua primeira faceta demonstra que tudo passa, inclusive, a sua presença dominante, que cede lugar a outras expressões emocionais, nada perduran­do indefinidamente. Na outra vertente, a aquisição da resistência somente é possível mediante o choque, a experiência pela ação.
O ser psicológico sabe dessa realidade, O SeU iden­tifica-a, porém o ego a escamoteia, fiel ao atavismo an­cestral dos seus instintos básicos.
O sofrimento constitui, desse modo, desafio evo­lutivo que faz parte da vida, assim como a anomalia da ostra produzindo a pérola. Aceitá-lo com resignação dinâmica, através de análise lúcida, e bem direcioná-lo é proporcionar-se um sentido existencial estimulante, responsável por mais crescimento interior e maior va­lorização lógica de si mesmo, sem narcisismo nem uto­pias.
Todos os indivíduos, uma ou mais vezes, são con­vidados ao enfrentamento, sem enfermidades graves ou irreversíveis, com dramas familiares inabordáveis, com situações pessoais quase insuportáveis, defrontan­do o sofrimento.
A reação irracional contra a ocorrência piora-a, alu­cina ou entorpece os centros da razão, enquanto que a compreensão natural, a aceitação tranqüila, propiciam a oportunidade de conseguir o valor supremo de ofe­recer-se para a conquista do sentimento mais profun­do da existência.
A morte, a enfermidade, os desastres econômicos, os dramas morais, os insucessos afetuosos, a solidão e tantas outras ocorrências perturbadoras, porque inevi­táveis, produzindo sofrimento, devem ser recebidas com disposição ativa de experienciá-las. Para alguns desses acontecimentos palavra alguma pode diluir-lhe os efeitos. Somente a interação moral, a confiança em Deus e em si mesmo para a convivência feliz com os seus resultados.
Esta disposição nasce da maturidade psicológica, do equilíbrio eutre compreender, aceitar e vivenciar. Aqueles que não os suportam, entregando-se a lamen­tações e silícios íntimos, permanecem em estado de in­fância psicológica, sentindo a falta da mãe superprote­tora que os aliviava de tudo, que tudo suportava em vãs tentativas de impedir-lhes a experiência de desenvolvimento evolutivo.
A aceitação, porém, do sofrimento como significado existencial e propósito de vida, não se torna uma cruz masoquista, mas se transforma em asas de liberta­ção do cárcere material para a conquista da plenitude do ser.

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