ANGÚSTIA – Livro – Amor Imbativel Amor 2.5/5 (2)

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O filósofo Kierkegaard considera a angústia como sendo uma determinação que revela a condição espi­ritual do homem, caso se manifeste psicologicamente de maneira ambígua e o desperte para a possibilida­de de ser livre.
A angústia é a terrível agonia que limita o ser na estreiteza das paredes da insatisfação, face à falta de objetivo e de essencialidade da existência.
Resultado de inúmeros desconfortos morais, ex­pressa-se em desinteresse doentio e afugente, que pun­ge o ser, levando-o a graves transtornos psicológicos.
Radicada no Espírito, exterioriza-se como ressen­timento da vida, processo de desestruturação da per­sonalidade, azedume e infelicidade.
Na infância, sem dúvida, se encontram os fatores que produziram o amargor, quando a rejeição dos pais e familiares conspirou contra o amadurecimento emo­cional, alardeando pessimismo em torno da criança, que foi brutalizada, desestimulada de promover qualquer reação em favor de si mesma e dos valores que se lhe encontravam adormecidos, suprimindo-lhe o direito a uma existência saudável.
A morte dos objetivos existenciais deu-se, a pouco e pouco, graças aos espículos das injustiças implacá­veis que a desnortearam quando ainda em formação, apresentando-lhe sempre a sua incapacidade para tri­unfar, a ausência de recursos para merecer respeito e consideração, a insistente e rude violação dos seus di­reitos como ser humano.
Sentindo-se desrespeitada e odiada, não tendo espaço para a catarse dos dramas íntimos que se lhe desenhavam nos painéis da mente, deslocou-se do mundo infantil iluminado, refugiando-se na caverna sombria da amargura, que passou a comandar as suas aspirações, embora de pequena monta, termi­nando por turbar-lhe as paisagens do sentimento e da emoção.
À medida que se foram estabelecendo os contor­nos e conteúdos da amargura, os resíduos psíquicos pessimistas se acumularam em forma de toxinas que passaram a envenenar-lhe os comandos mentais, en­torpecendo-lhe os neurotransmissores e perturbando-lhe as comunicações.
Ainda aí se podem contabilizar, nesse doloroso processo de instalação da angústia, os efeitos do com­portamento desastroso em existência transata, quando malbaratou as oportunidades felizes que lhe foram con­cedidas pela Vida, ou as utilizou indevidamente, pro­duzindo desaires e desconforto, quando não gerando desgraça de efeitos demorados.
Essas vítimas, tornaram-se cobradores inconse­qüentes daquele que delinqüiu, hoje reencarnando-se na condição de pais e demais familiares, que se atribu­íram, embora inconscientemente, os direitos de rejei­ção ao ser que a Divindade lhes confiou para o proces­so de crescimento e de reparação, nesse complexo e extraordinário movimento que é a vida.
Trazendo insculpida no inconsciente profundo a culpa, após um despertar doloroso para a realidade, o Espírito, que se reconhece indigno de auto-estima, mer­gulha no abismo da autopunição sem dar-se conta, tor­nando-se angustiado e, sobretudo, magoado em rela­ção a todos e a tudo.
A culpa não diluída é terrível flagício que dilacera o ser, seja conscientemente ou não, impondo a necessi­dade da reparação do dano causado. Por isso mesmo, o perdão ao mal de que se foi objeto ou àquele que o in­fugiu é de relevante importância. Não porém, apenas a quem agride, acusa ou malsina, mas também, e princi­palmente, a si mesmo. É indispensável que o indivíduo se permita o direito do erro, considerando, entretanto, o dever da reparação, mediante cujo esforço supera o constrangimento que a consciência do equívoco lhe impõe.
Não se trata de uma atitude permissiva para no­vos equívocos, e sim, de um direito de ser humano que é, de lograr sucesso ou desacerto nos empreendimen­tos que se permite, aprendendo mediante a experimen­tação, que nem sempre se faz coroar de êxito. Não obs­tante, quando se tem consciência do gravame, com ha­bilidade e interesse, é possível transformá-lo em bên­ção, porqüanto, através dele, se aprende como não mais agir.
Não sendo assim conduzida, a ação tomba, em al­gum tipo de processo perturbador, como o de natureza angustiante.
A óptica do paciente angustiado é distorcida em relação à realidade, porque as suas lentes estão emba­çadas pelas manchas morais dos prejuízos causados a outras vidas, tanto quanto em razão das injunções do­lorosas a que se sentiu relegado.
Somente através do esforço bem direcionado em favor do reequilíbrio e utilizando-se de terapia especí­fica, é que se torna possível a libertação do estertor da angústia, restabelecendo o comportamento saudável, recuperando os objetivos existenciais perdidos em ra­zão do estabelecimento de novos programas de vida.
Acostumado à rejeição, e somando sempre os va­lores negativos que defronta pela jornada, o indivíduo enfermo estabelece o falso conceito da irreversibilida­de do processo, negando-se o direito de ser feliz, felici­dade essa que lhe parece utópica.
Adaptado emocionalmente ao cilício do sofrimento interno, qualquer aspiração libertadora assume propor­ções difíceis de serem ultrapassadas. Não obstante, o amor desempenha papel fundamental nesse contubér­nio, transformando-se em terapia eficiente para o con­flito desesperador.
Despertando para a afetividade, que lhe foi nega­da, e que brota inesperadamente na área dos sentimen­tos profundos, é possível ao paciente arregimentar po­deres, energias para romper o círculo de força que o sitia, propondo-lhe uma releitura existencial e emulan­do-o ao avanço.
O amor preenche qualquer vazio existencial, por despertar emoções inusitadas, capazes de alterar a es­trutura do ser.
Quando asfixiado, continua vibrando até o momen­to em que irrompe como força motriz indispensável ao crescimento interior que faculta amadurecimento e vi­são correta das metas a serem alcançadas. Concomitan­temente, o auxílio especializado de profissional com­petente torna-se essencial, contribuindo para a recom­posição das paisagens emocionais danificadas.
O esforço pessoal, no entanto, é fator preponde­rante para o sucesso da busca da saúde psicológica.
Apesar de todo o empenho, porém, convém consi­derar-se que surgem momentos na vida, nos quais, epi­sódios de angústias se apresentam, sem que se torne abalada a harmonia emocional.
Desde que se façam controláveis e superados a bre­ve tempo, expressam fenômeno de normalidade no transcurso da existência humana, porqüanto, num com­portamento horizontal, sem as experiências que se al­ternam, produzindo bem ou mal-estar, não se podem definir quais são as diretrizes de uma conduta real­mente saudável e digna de ser conseguida.
Toda fixação que se torna monoideísta, eliminando a polivalência dos inúmeros fenômenos que fazem parte do mecanismo da evolução, transforma-se em transtorno do comportamento, que conduz a patologi­as variadas, dentre as quais, a amargura, que se expres­sa como força autopunitiva, mecanismo psicótico-ma­níaco-depressivo que, não cuidado no devido tempo, sempre culmina em mal de conseqüências irreversíveis.

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