Livro O que é o Espiritismo – Capítulo I – O MARAVILHOSO E O SOBRENATURAL – Allan Kardec 5/5 (1)

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O MARAVILHOSO E O SOBRENATURAL

V.
— O Espiritismo tende, evidentemente, a ressuscitar as crenças fundadas no maravilhoso e no sobrenatural, o que me parece difícil neste nosso século positivista, pois que equivale a defender as superstições, as concepções geradas da ignorância popular e que a razão repele.

A.
K.
— As ideias podem ser taxadas de supersticiosas quando falsas; cessam de o ser no momento em que se lhes reconhece a exatidão.

A questão está, pois, em saber se há ou não há manifestações dos Espíritos; e o senhor não pode qualificá-las de superstições enquanto não haja provado que não existem.

Dirá, porém, o senhor: Minha razão repele-as.
Acontece, porém, que todos os que as admitem, e que não são estúpidos, apóiam-se também na própria razão; mais do que isto, apóiam-se nos próprios fatos.
Quem está com a verdade? O juiz supremo desta questão, como o foi de todas as pendências científicas, industriais, etc.
, qualificadas inicialmente como irrealizáveis e absurdas, é o futuro.

O senhor julga a priori, de acordo com sua razão.
Quanto a nós, só julgamos depois de termos visto e observado longamente.

Adianto-lhe que o Espiritismo avançado como está hoje em dia, tende, muito ao contrário, a destruir as ideias supersticiosas, uma vez que demonstra a veracidade e a falsidade das crenças populares, bem como os absurdos mesclados às mesmas pela ignorância e pêlos preconceitos.

Vou mais longe, ainda, e digo que é precisamente o positivismo do século que vos leva a adotar o Espiritismo.
A ele se deve, em parte, a sua rápida propagação e não, como pretendem alguns, a uma recrudescência do amor ao maravilhoso e ao sobrenatural.

O sobrenatural se esvai à luz da ciência, da filosofia, e do raciocínio, assim como os deuses do paganismo desapareceram à luz do cristianismo.

Sobrenatural, é o que está fora dos limites regidos pelas leis da natureza.
O positivismo só admite estas — mais nada.

Conhece-as, porém, todas? Em todos os tempos, os fenómenos cuja causa era desconhecida foram considerados sobrenaturais.
Cada nova lei descoberta pela ciência veio dilatar os limites anteriores.
O Espiritismo vem revelar uma nova.
A comunicação com o espírito de um morto, repousa numa lei tão natural quanto as da eletricidade, o que permite que dois indivíduos, separados por quinhentas léguas, estabeleçam contato.
O mesmo dá-se com os outros fenómenos espíritas.

O Espiritismo repele, no que lhe diz respeito, todo acontecimento maravilhoso, quero dizer, fora das leis da Natureza.
Não obra milagres ou prodígios, mas explica, baseado em certa lei, fatos até agora reputados como miraculosos e prodigiosos, demonstrando ao mesmo tempo sua possibilidade de realização.
Amplia, assim, os domínios da ciência e, sob esse ponto de vista, ele próprio é também uma ciência.
Como, porém, o descobrimento dessa nova lei originou consequências morais, o código destas fez do Espiritismo uma doutrina filosófica.

Sob este aspecto, corresponde às aspirações do homem no que diz respeito ao futuro; e como apoia essa teoria em bases positivas e racionais, amolda-se ao espírito positivista do século e isto o senhor compreenderá quando se der ao trabalho de o estudar.
(O Livro dos Médiuns, cap.
II.
Veja-se também o Capítulo II desta obra).

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