Livro O que é o Espiritismo – Capítulo I – MÉDIUNS E BRUXOS – Allan Kardec 0/5 (1)

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MÉDIUNS E BRUXOS

V.
— Se a mediunidade é o meio de estabelecer relações com os poderes ocultos, as palavras médiuns e feiticeiros são, pouco mais ou menos, sinónimos.

A.
K.
— Em todas as épocas tem havido pessoas médiuns por natureza ou inconscientes que, por produzirem fenómenos insólitos e não compreendidos, são qualificadas de bruxos ou feiticeiros e acusadas de ter pacto com Satanás.
O mesmo aconteceu à maioria dos sábios que possuíam conhecimentos superiores aos do vulgo.
A ignorância exagerou-lhes os poderes e muita vez essas próprias pessoas abusaram da credulidade pública, explorando-a; daí a justa reprovação de que foram objeto.

Basta comparar o poder atribuído aos feiticeiros com a faculdade dos médiuns propriamente ditos, para se estabelecer a diferença.
A maioria dos críticos, porém, não se dá a esse trabalho.

Longe de ressuscitar a bruxaria, o Espiritismo a destruiu para sempre, despojando-a do seu pretenso poder sobrenatural, de suas fórmulas, despachos, amuletos e talismãs, reduzindo às suas devidas proporções os fenómenos possíveis e que em verdade não ultrapassam o âmbito das leis naturais.

A semelhança que certas pessoas pretendem estabelecer decorre do erro em que incorrem, supondo que os Espíritos estão à disposição dos médiuns.
Revoltam-se com a ideia de que possa depender, do primeiro pretensioso que apareça, o fazer voltar, ao seu bel-prazer e onde bem entenda, o Espírito deste ou daquele personagem, mais ou menos ilustre.
E nisto estão com toda a razão.
Se, antes de condenar o Espiritismo, tomassem o trabalho de o conhecer melhor, ficariam sabendo que ele ensina terminantemente que os Espíritos não estão sujeitos aos caprichos humanos e que ninguém pode dispor deles, a seu bel-prazer e à sua revelia.
Disso pode deduzir-se que os médiuns não são feiticeiros.

V.
— Assim sendo, todos os fenómenos que certos médiuns acreditados obtém, mercê de sua vontade própria, e em público, são, para o senhor, mera charlatanice?

A.
K.
— Não o afirmo de maneira absoluta.
Determinados fenómenos não são impossíveis, porque há Espíritos de um grau evolutivo inferior, que a eles se podem prestar e que se divertem com isso, pois muito possivelmente tiveram em vida o ofício de charlatães.
Existem também médiuns, por especialidade, apropriados a esse género de manifestações.

O raciocínio mais canhestro, porém, repudia a ideia de que os Espíritos, por menos evoluído que sejam, venham fazer parceria em comédias e alardear poderes para divertimento de curiosos.

A obtenção desses fenómenos, à vontade dos que os obtêm e principalmente em público, é sempre suspeita.
Nesses casos a mediunidade e a prestidigitação andam tão próximas que frequentemente é difícil distingui-las.
Antes de se ver nesses fatos a ação dos Espíritos, é mister que se perca tempo em minuciosas observações e ainda se leve em conta não apenas o caráter e os antecedentes do médium, mas uma infinidade de circunstâncias, cuja apreciação só um profundo estudo da parte teórica dos fenómenos espíritas pode permitir.

É de notar-se que esse género de mediunidade, se mediunidade for com efeito, limita-se à produção do mesmo fenómeno, com variações mínimas, o que não vem muito a propósito para dissipar dúvidas.

O absoluto desinteresse é sempre a melhor garantia de honestidade.

Qualquer que seja, porém, a realidade, como efeitos mediúnicos, dos ditos fenómenos, eles produzem sempre bom resultado, qual seja o de divulgar o ideal espírita.

A controvérsia que sobre esse particular se estabelece, induz muitas pessoas ao estudo minucioso da questão.
Não é aí, certamente, que se devem buscar elucidações mais profundas acerca do Espiritismo ou da filosofia de sua doutrina.
É, todavia, um meio de atrair a atenção dos indiferentes e de obrigar os mais recalcitrantes a falar a seu respeito.

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