Sobre Mediunidade e Curas No Espiritismo – Pedro Jacinto Cavalheiro 2.5/5 (2)

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Amigos,

Estamos assistindo o desenrolar do caso João de Deus , de Abadiana.
Resolvi aproveitar o momento para deixar uma contribuição aqui, com os amigos que fiz neste ano de 2018.
Não se trata de falar sobre ele, porque não participo das investigações e nada tenho a dizer sobre os fatos denunciados.
Aproveito apenas o momento para fazer uma breve reflexão.

Como é sabido, a faculdade humana de entrar em contato com o plano espiritual, de várias formas e em vários níveis, não é uma exclusividade de espíritas e nem foi inventada pelo Espiritismo.
O Espiritismo a explicou, classificou, significou e deu-lhe nomenclatura própria.

Tanto à faculdade em si como às suas diversas formas de manifestação.
O caso, que ora se discute na mídia, atinge indiretamente o Espiritismo e os espíritas à medida que João Teixeira de Faria se enuncia como médium , nomenclatura espírita, muito embora ele não seja espírita.
O que é comum ocorrer hoje em dia devido à divulgação do Espiritismo.
Sem questionar ou entrar no mérito acerca de sua sensibilidade, destaco apenas que existem e existiram muitos nomes para quem manifestou e manifesta essa mesma faculdade, tais como Xamã, Pajé, Cavalo de Santo, Pitonisa, Profeta, Sensitivo, mas a palavra médium , cunhada por Kardec é nomenclatura própria do Espiritismo.
Kardec se preocupou em criar nomenclatura nova para um estudo que era diferente de tudo o que existia.
E quando utilizou palavras que já existiam, tomou o cuidado de esclarecer detalhadamente o que elas significam para o Espiritismo.
As palavras carregam semânticas próprias que as distinguem e não é diferente com a palavra “médium”.

A palavra médium , do Latim, significa intermediário.
O que está no meio.
O médium está para a atuação dos espíritos como os fios de força estão para a instalação elétrica na sua casa.
Os fios não brilham.
Os fios jazem silentes nos conduítes, fora do alcance dos nossos olhos.
Os fios estão ali para cumprir a função de conduzir a força e podem ser substituídos caso se degenerem.

Quando um médium quer brilhar, ganhar os holofotes da casa espírita em que atua ou da mídia, ou quando ele pensa que é a fonte da força que nem sempre sente passar por si, age como se o fio elétrico resolvesse que ele mesmo é a lâmpada ou a usina geradora de força.
Como se o fio elétrico se julgasse autossuficiente.
Quando isso acontece, o médium se desliga da fonte, por pensar que é a fonte, e simplesmente não consegue mais transmitir a energia que faz a luz brilhar.
Se para qualquer pessoa os processos obsessivos são possíveis, para o médium é ainda mais, porque o desequilíbrio que leva à obsessão encontra nele um fio condutor instalado.
A obsessão leva o médium a comportamentos estranhos, como o estrelato como se fosse sua pessoa a dignitária de concessões das altas esferas espirituais.

O médium que se arroga ao estrelato, que pede ou simplesmente admite pompa em suas

entradas teatrais na casa espírita, ou está no caminho que vai da obsessão à fascinação, por se desligar da verdadeira fonte divina de trabalho no bem, ou já percorreu esse caminho.
Muitos se perguntam como um médium com anos de serviço pode cair.
É simples: basta deixar a vaidade provocada pelos agradecimentos e elogios, que não merece, insuflar seu orgulho; basta deixar que o orgulho lhe convença que é um ser especial, um mensageiro, um missionário e depois.
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um semideus; basta se colocar acima dos homens comuns; basta não orar e não vigiar.

Médium não tira nada e não põe nada com suas mãos.
Suas mãos são, como todo seu corpo, fio condutor para os espíritos que realmente fazem o que tem que ser feito.
Na prática mediúnica, o médium não deve imaginar suas mãos com as mesmas funções que têm na vida comum, ou seja, como pinças ou como garras de pegar, mas como terminais para a passagem de uma energia sobre a qual o médium tem uma pálida ideia, assim como o fio elétrico doméstico sente apenas o efeito reduzido da usina de força.
Para cair, basta não estudar, basta imaginar-se poderoso e sobrenatural, sendo humano, falho e natural.

Médium não é quiropraxista.
Médium não deve tocar no atendido.
Nem de leve.
Porque tocar é indesejado, inadequado, desrespeitoso e, além de tudo, inútil do ponto de vista espiritual.

O médium bem sucedido em sua missão é aquele que só é notado depois que passou.
É aquele que deixa no ar um suave perfume do bem que pode intermediar, mas que atua com tal discrição e humildade que os beneficiados por sua intermediação apenas agradecem à Deus, sem sequer lembrarem da imagem do servidor.

Se você conhece algum médium que se perdeu no estrelato de ilusão, tente adverti-lo.
Se não consegue dissuadi-lo à reflexão, se afaste e ore por ele.
Mas não compactue.
Não fortaleça sua egolatria.
Não seja agente, ainda que por ingenuidade, do plano inferior.
Se você é dirigente de casa espírita e nela algum médium entrou por esse caminho, tente corrigi-lo e se não conseguir, melhor acabar com a reunião que ele protagoniza do que consentir.
Para o bem de todos, inclusive do médium.
Jesus disse “se o teu olho for motivo de escândalo, arranca-o”.

Por fim, nas casas espíritas não devem existir atendimentos individuais em salas privadas.
Se o médium tiver que receber qualquer intuição sobre qualquer atendido, com o objetivo de ajudá-lo, por que imagina que só poderá recebê-la em ambiente privativo? Por não confiar nos espíritos.
Por que imaginam muitos médiuns que tiram e põem com as mãos algum fluido no atendido? Porque não confiam nos espíritos.
E porque acham que sabem o que estão fazendo se não sabem o que o atendido necessita e se soubessem não saberiam o que ministrar já que não conhecem a farmacopeia do plano espiritual? Porque não confiam nos espíritos.
Quanto mais teatral o médium, menos confiança tem nos espíritos.

As casas espíritas devem nesse momento tomar cuidado para que uma chuva de denúncias vazias não desabe sobre elas, motivada pela onda que pode se formar a partir do caso mencionado em epígrafe.
E os médiuns devem lembrar que mediunidade é ferramenta divina para se fazer o bem e que o bem se faz sem que a vossa mão esquerda saiba o que faz a vossa mão direita .
E, no caso do médium, sem que ambas sequer resvalem no atendido.
Abraço a todos.

Pedro Jacinto Cavalheiro

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