A Crença e a Descrença na Vida Espiritual
Autor Espiritual: Professor Vladmir Ynstay
Pela Médium Eunice Gondim
Por que tanta descrença na vida espiritual?
O homem admite e até realiza grandes pesquisas gastando enormes somas em dinheiro para provar a existência de vida material em outros planetas. E por que não acredita no mundo espiritual e em outra vida além dessa que ele conhece?
Se pensarem de forma racional, perceberão que a vida dos espíritos é tão natural quanto a vida da carne. Como já foi comprovado através de provas irrefutáveis, o espírito é um ser material, embora não carnal. Sendo formado pelo fluido universal o espírito é composto por substâncias diferentes das que compõem o corpo carnal dos que habitam o planeta Terra, mas que não fogem às características da matéria química. Ao conseguirem despir-se de idéias preconcebidas e preconceituosas, os homens sentir-se-ão livres para conceber um outro tipo de vida fora das idéias que já assimilaram como únicas e verdadeiras.
Jesus em seus ensinamentos já apresentava uma vida futura a essa que aqui é vivida. Na época ele não pode ser muito explicito sobre esse assunto, pois o nível de compreensão dos homens não era compatível com ensinamentos de tamanha profundidade.
No livro O Evangelho Segundo o Espiritismo de Allan Kardec, capítulo II, intitulado Meu reino não é deste mundo o autor tece o seguinte comentário referindo-se à vinda de Moisés e Jesus à Terra: Moisés não pudera dizer mais do que isso a um povo pastor e ignorante, que precisava ser tocado, antes de tudo, pelas coisas desse mundo. E mais adiante no mesmo capitulo: Jesus, porém, conformando seu ensino com o estado dos homens da época, não julgou conveniente dar-lhes luz completa, percebendo que eles ficariam deslumbrados, visto que não a compreenderiam.
Está claro nesse texto que tanto Moisés como Jesus não puderam fazer os devidos esclarecimentos sobre a existência de outro mundo além desse conhecido pelos homens e de uma vida futura, por que o grau de conhecimento e de entendimento dos homens da época impedia a compreensão e a aceitação dessas verdades. Por isso, se utilizaram de formas mais humanizadas ou materiais para que os homens, mesmo na sua grosseria e ignorância, procurassem seguir seus ensinamentos. Mesmo assim não obtiveram pleno êxito em seus objetivos.
Mas atualmente a humanidade se encontra mergulhada num mundo onde a difusão acelerada do conhecimento, através da moderna tecnologia, facilita o desenvolvimento da mente e da intelectualidade dos homens, o que favorece de forma bastante significativa a compreensão dos ensinamentos que lhes são passados sobre a existência de outros mundos e, conseqüentemente, de uma vida futura. Através desses preceitos passados atualmente aos homens pelos espíritos superiores, mas que distam de milênios de sua existência atual, é possível que, com empenho e boa vontade, eles possam construir aqui na Terra, a sua vida futura. Isso só é possível, no entanto, se eles derem o primeiro passo que consiste em se despir de suas velhas vestes preconceituosas e aceitar uma nova vestimenta, onde brilhem a luz e a verdade. Se o homem insistir em continuar com suas concepções antigas, onde acreditar no mundo invisível é sinal de fraqueza e de falta de inteligência, ele não terá a capacidade necessária para usufruir a verdade divina que tão bem é ensinada e divulgada atualmente através do espiritismo. Somente com um processo bem significativo de abertura de mente e entrega total aos ensinamentos de Cristo, será possível ao homem atual reconhecer que o estado de coisas reinante atualmente no planeta Terra, não condiz com o processo de evolução espiritual que Deus tanto deseja para os seus filhos. E somente com esse reconhecimento ele poderá entregar-se à luta divinal embora sacrificial, que o tornará merecedor de usufruir futuramente de um reino de paz, amor e felicidade eternos junto ao Pai todo poderoso e toda a espiritualidade.
Essa vida futura também defendida e divulgada por Jesus quando da sua passagem pelo plano terreno, mostra-se bem descrita no livro O Evangelho Segundo o Espiritismo de Allan Kardec, capítulo II, onde lemos o seguinte: Com o espiritismo, a vida futura deixa de ser simples artigo de fé, mera hipótese; torna-se uma realidade material, que os fatos demonstram, porquanto são testemunhas oculares os que a descrevem nas suas fases todas e em todas as suas peripécias, e de tal sorte que, além de impossibilitarem qualquer dúvida a esse propósito, facultam à mais vulgar inteligência a possibilidade de imaginá-la sob seu verdadeiro aspecto, como toda gente imagina um país cuja pormenorizada descrição leia
O autor se refere às comunicações dos espíritos através das quais eles próprios descrevem detalhadamente suas vidas em outros mundos quer sejam em planos superiores ou inferiores, de tal forma que não deixam duvidas nem para os mais incrédulos ou os mais ignorantes. O espiritismo favorece ao homem a obtenção desse privilégio que é ouvir dos próprios espíritos, através dos médiuns, a descrição pormenorizada de suas vidas no mundo espiritual, não deixando assim nenhuma dúvida sobre a existência desse mundo e de uma vida futura.
Ainda no livro O Evangelho Segundo o Espiritismo de Allan Kardec, capítulo II, o autor se refere a essa vida futura separando os que nela acreditam e os que não a aceitam.
Sobre os que não acreditam, ele comenta: Pelo simples fato de duvidar da vida futura, o homem dirige todos os seus pensamentos para a vida terrestre. Sem nenhuma certeza quanto ao porvir, dá tudo ao presente. Nenhum bem divisando mais precioso do que os da Terra, torna-se qual a criança que nada mais vê além de seus brinquedos. E não há o que não faça para conseguir os únicos bens que se lhes afiguram reais. E acrescenta: … e lamenta que essas criaturas efêmeras a tantas canseiras se entreguem para conquistar um lugar que tão pouco as elevará e que por tão pouco tempo conservarão
E sobre os que acreditam: Aquele que se identifica com a vida futura assemelha-se ao rico que perde sem emoção uma pequena soma; Aqueles cujos pensamentos se concentram na vida terrestre, assemelha-se ao pobre que perde tudo o que possui e se desespera.
Com essas afirmações o autor deseja esclarecer que a crença verdadeira numa vida futura faz com que os homens encarem de forma mais amena as atribulações da vida terrena. A tudo suportam com paciência, pois sabem que os fatos terrenos são de curta duração. Dessa forma não se desesperam nem se angustiam com as perdas que para os incrédulos representam motivo de sofrimento e desespero total.
Para os crentes na vida futura, os bens materiais servem para dar-lhes condições de vida confortável enquanto aqui permanecerem, mas reconhecem-nos como inúteis após o seu desencarne.
Resta aos homens procurarem conhecer através do espiritismo, em que consiste a vida futura ou vida espiritual e como devem proceder para que ela seja feliz e venturosa.
Allan Kardec afirma que Jesus apresentou a vida futura como um princípio, como uma lei da natureza a cuja ação ninguém pode fugir.
Todo cristão, pois, necessariamente crê na vida espiritual, visto que foi apresentada por Cristo.
Para ilustrar o caráter efêmero da vida terrena e sua insignificância em relação à vida espiritual, Allan Kardec coloca como exemplo esse narrativa de um espírito ao desencarnar e chegar ao mundo espiritual:
Uma Realeza Terrestre.
Quem melhor do que eu pode compreender a verdade destas palavras de Nosso Senhor: O meu reino não é deste mundo? O Orgulho me perdeu na Terra. Quem, pois, compreenderia o nenhum valor dos reinos da Terra se eu o não compreendia? Que trouxe eu comigo da minha realeza terrena? Nada, absolutamente nada. E, como que para tornar mais terrível a lição, ela nem se quer me acompanhou até o túmulo! Rainha entre os homens, como rainha julguei que penetrasse no reino dos céus. Que desilusão! Que humilhação, quando, em vez de ser recebida aqui qual soberana, vi acima de mim, mas muito acima, homens que eu julgava insignificante e aos quais desprezava, por não terem sangue nobre! Oh! Como então compreendi a esterilidade das honras e grandezas que com tanta avidez se requestam na Terra. Para se granjear um lugar neste reino, são necessárias a abnegação, a humildade, a caridade em toda sua celeste prática, a benevolência para com todos. Não se vos pergunta o que fostes, nem que posiçã o ocupastes, mas que bem fizestes, quantas lágrimas enxugastes.
Oh Jesus, tu o disseste, teu reino não é deste mundo, porque é preciso sofrer para chegar ao céu, de onde os degraus de um trono a ninguém aproximam. A ele só conduzem as veredas mais penosas da vida. Procurai-lhe, pois o caminho, através das urzes e dos espinhos, não por entre as flores.
Correm os homens por alcançar os bens terrestres, como se os houvessem de guardar para sempre. Aqui, porém, todas as ilusões se somem. Cedo se apercebem eles de que apenas apanharam apenas uma sombra e desprezaram os únicos bens reais e duradouros, os únicos que lhes aproveitam na morada celeste, os únicos que lhes podem facultar acesso a esta.
Compadecei-vos dos que não ganharam os reinos dos céus; ajudai-os com as vossas preces, porquanto a prece aproxima do Altíssimo o homem; é o traço de união entre o céu e a Terra: não o esqueçais.
(Uma rainha da França. Havre, 1863.)