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Ao tempo em que as informações se multiplicam, oferecendo o conhecimento de muitas ocorrências siÂmultaneamente, aquelas que têm primazia nos veícuÂlos de comunicação ” tragédias, excentricidades, vioÂlências e crimes, sexo em desvario, ameaças de morte e de guerra ” deixam o indivíduo inseguro. Porque não dispõe de tempo para digerir e bem absorver as notíciÂas, selecionando-as, abate-se com facilidade ou excita-se, armando-se emocionalmente para os enfrentamenÂtos.
Ocorre-lhe o fenômeno de ruptura da omeostase, que o perturba, física e psiquicamente.
Deixando-se arrastar pelo volume, massifica-se e perde o contato com a própria identidade, passando a ser apenas mais um no grupo, no qual se movimenta ”trabalho, recreios, estudos, em quaisquer atividades ”submetendo-se ao estabelecido, ao gosto geral,à von
tade alheia,às necessidades que os organizadores defiÂnem, sem o consultarem anteriormente. Os seus pasÂsam a ser os prazeres que outrem lhe concede, exiginÂdo que se sinta bem e se divirta, porquanto esse é o convencionado. Membro que é do conjunto, as suas são as opções gerais.
A massificação deságua na desumanização, reconÂduzindo o ser ao anterior estágio dos impulsos e insÂtintos básicos, que eram próprios para a selva antiga, e agora se apresentam como necessários na moderna, que é construída de pedras, cimento e ferro. Nela, não há liberdade plena, nem harmonia gratificante, porquanto é artificial, ruidosa, agressiva, propondo contínuo, exaustivo estado de alerta contra os seus métodos e membros igualmente violentos.
A massa humana, como ser grupal, é destituída de alma, de sensibilidade. Em sua marcha voluptuosa avassala, deixando escombros físicos e psicológicos por onde passa. Porque os seus membros perderam a capaÂcidade de ser indivíduos, estouram a qualquer voz de comando, arrastados pelos que os sediciam, e assim agem, para não ficarem esmagados. Os seus tornam-se os interesses coletivos, e tudo é programado, extinguinÂdo no homem a espontaneidade, que lhe expressa a inÂdividualidade, o nível psicológico e de consciência, no qual se encontra.
O ser animal necessita do grupo, conduzido pelo instinto gregário, que o protege dos inimigos naturais e dá-lhe vida, estímulos, facultando-lhe intercâmbios.
O homem, porém, não prescinde da própria intimidaÂde, dos espaços que ocupa e lhe são fundamentais.
Experimentar mergulhos no Self, fruir momentos de solidão, sem buscar isolar-se, são-lhe atitudes saudáveis, renovadoras, que lhe concedem beleza interior para contrabalançar os choques desgastantes da luta pela vida.
A busca de realização é sempre pessoal e a meta éigualmente particular, correspondente ao estágio de evolução de cada qual. Não obstante haja similitudes entre as aspirações de criaturas diferentes, os valores anelados possuem características e significados muito especiais, nunca se misturando em uma generalidade comum.
O ser humano é um universo com as suas próprias leis e constituição, embora em harmonia com todos os demais, formando imensa famiia. Massificado, perde a capacidade, ou lhe é impedida, de expressar-se, de anelar e viver, conforme o seu paradigma de aspiração e progresso, pois que, do contrário, é expulso do gruÂpo, onde não mais tem acesso. Marginalizado, depriÂme-se, aflige-se.
Cabe-lhe, porém, amadurecer reflexões para viver no grupo sem pertencer-lhe, para estar em sociedade sem perder a sua identidade, para encontrar-se neste momento com os demais, porém, não se permitir os arrastamentos insensatos e compulsivos da massificaÂção.
Como lhe é necessário viver em grupo, é-lhe imÂprescindível ser ele próprio. Sua individualidade deve ser respeitada e mantida, a fim de que experiencie os acontecimentos conforme o seu estado emocional, orÂgânico e intelectual.
O ser humano detém possibilidades inesgotáveis, que se multiplicam por si mesmas. Quanto mais as deÂsenvolve, tanto mais se apresentam aguardando ocaÂsião de expandir-se.
A aquisição da consciência de si, porém, é resultaÂdo de um esforço individual concentrado, que a massiÂficação dificulta, porquanto, no conjunto, basta seguir-se o volume no qual se está mergulhado.
Quando defrontado com o Si profundo, o indivíÂduo opta por controlar e bem direcionar a máquina orÂgânica ao invés de ser conduzido pelos instintos preÂvalecentes. Esse empenho racional converte-se de imeÂdiato em desafio que o engrandece, oferecendo-lhe sigÂnificado existencial, por cujo termo lutará com denoÂdo.
A massificação permite a liberação negativa e perÂturbadora dos conflitos do homem que, somados aos dos demais, torna-se um transtorno desenfreado, que mais inquieta, na razão direta em que se exterioriza. Tornando-se difícil a identificação da pessoa conflitiva, em razão do grupo que a absorve, o paciente sente-seà vontade para expandir a sua mazela, mascarando-se e parecendo estar em outra realidade. Ao escamoteá-lo, porém, mais lhe aprofunda as tenazes nos alicerces do inconsciente, aturdindo-se e infelicitando-se.
A massa absorve, devora as expressões individuÂais e consolida as paixões perversas. A diluição teraÂpêutica do conflito certamente obedeceà sua exterioriÂzação conscientizada, anulando-lhe a causalidade e preenchendo o seu espaço com formulações amadureÂcidas e realizações compensadoras. Tal a resolução, e a ação dinâmica exige humildade, reconhecendo-se o ser frágil e necessitado, por fim, encorajando-se para o coÂmetimento libertador.
Vivendo-se uma atualidade globalizadora, ineviÂtável, pode-se no entanto, evitar a massificação, preÂservando-se a individualidade, sendo-se autêntico consigo mesmo, enfrentando as imposições do ego e harÂmonizando-as com o Self.
Joana de Ângelis – Psicografado por Divaldo franco