Our Score
Click to rate this post!
[Total: 0 Average: 0]
O ser humano, embora antropologicamente seja portador de uma herança animal, é, antes de tudo, um Espírito, com possibilidades inimagináveis, que se lhe encontram em germe, e queà educação cumpre o misÂter de despertar e desenvolver.
Em razão da sua realidade transpessoal, a finaliÂdade da sua existência é crescer, alcançando os pataÂmares que lhe estão reservados, por fatalidade evolutiÂva. No entanto, faceà sua natureza animal, que não poucas vezes desconhece ou que lhe dá predominânÂcia, aturde-se, sem saber como avançar.
Se não valoriza a condição na qual se encontra ” as exigências do corpo ” faz-se um autômato, porque lhe cumpre vivê-las, educando-as, superando os impulsos dos instintos básicos, para desenvolver os valores espiÂrituais latentes.
Vencendo, a pouco e pouco, os automatismos psiÂcológicos, que vão sendo orientados pelo senso crítico e pela razão, deve conduzir o corpo sem paixão, nem escravidão, realizando-se física e emocionalmente.
O corpo, como é natural, impõe inímeros anseios e necessidades, que fazem parte da sua constituição biológica, e devem ser levados em conta, não obstante a sua realidade espiritual ser o comando básico da exisÂtência. O ego, por consequência, tem suas raízes fincaÂdas nele, e se as mesmas são arrancadas violentamenÂte, corre o perigo de tornar-se esquizóide.
Faz-se necessário, portanto, que seja mantida uma inter-relação entre o passado ” animal ” e o presente, a fim de que, negando o seu corpo, não se tome um EspíÂrito sem envoltório material, o que lhe tomaria improÂvável o processo de evolução. Alterando, porém, subÂvertendo a natureza animal ” por falta de consideração pelo Espírito que é ” transforma-se em um títere, um demônio, que desconhece os direitos dos outros e soÂmente cultiva o primarismo dos instintos.
A luta travada pela cultura e pela civilização, a fim de que o corpo seja superado, tem propiciado situá-lo em nível mais elevado, em razão do raciocínio, do aproÂfundamento da consciência, tornando mais radioso e belo o Espírito. Como efeito inevitável, tornou-lhe o corpo mais sensível, mais estético, portador de sensibiÂlidade apurada, de percepção parafísica, alimentandoÂo com equilíbrio, exercendo-lhe as funções com respeiÂto.
Sem necessidade de agredir o corpo, mediante cilíÂcios nem considerações deprimentes que o denigrem, vem o mesmo recebendo a consideração que merece, face ao valor que representa no processo de elevação mental e moral do ser.
Não obstante esse reconhecimento, vários fatores se apresentam como responsáveis pela despersonalizaÂção, tais como os sentimentos de terror, de culpa, que produzem a inibição respiratória e a dos movimentos, enjaulando o paciente nas celas escuras e sem paredes dos conflitos.
Essa conduta produz sensações indescritíveis, que o organismo procura vencer através da morte da sua realidade. O corpo, então, enrijece, a respiração faz-se com dificuldade e a falta de oxigênio no organismo proÂduz males psicológicos e físicos variados.
A autopercepção é profundamente afetada e os pacientes passam a sofrer emocionalmente sensações de difícil catalogação, que os levam ao desespero.
O eminente Eugen Bleuler, analisando a despersoÂnalização que afeta os indivíduos incursos nessa disÂtorção, considera que os sofrimentos creditadosàqueÂles que lhe são vítimas, variam desde surras e queimaÂduras, a espetadas com agulhas, lâminas e punhais em brasa viva, amputações de membros, o semblante deÂformado… e suplícios indescritíveis são experimentaÂdos em um clima de horror crescente, que mais piora a patologia da personalidade.
A ausência de sentimentos responde por esses efeiÂtos, tendo-se em vista que o paciente matou o corpo, em mecanismo psicológico inconsciente, para fugir dos sintomas anteriores produzidos pelo terror. ConcomiÂtantemente, o portador de esquizofrenia, porque destiÂtuído da capacidade de direcionar os sentimentos, tomÂba no vazio da sua própria realidade.
O indivíduo saudável é aquele que orienta as emoÂções organizadamente, lutando contra os obstáculos que se lhe apresentam, e que são parte do processo no qual se encontra mergulhado, o que mais lhe desenÂvolve a capacidade de crescimento e de armazenamenÂto de conhecimentos.
Esse terror, gerador do grave mal, está quase semÂpre vinculado a condutas vivenciadas na infância, quanÂdo se foi vítima da negligência ou da crueldade de pais insensíveis, que promoveram cenas aterradoras e perÂversas, que o paciente atual associou inconscientemenÂte aos fenômenos desafiadores da atualidade.
Comportamentos sexuais promíscuos dos adultos, sob a observação infantil ignorante, expressões agresÂsivas e temerárias, que não puderam ser absorvidas nem superadas pela criança, tormentos decorrentes de agresÂsões físicas e morais destituídas de compaixão e respeiÂto, não podendo ser liberadas, por associação conduÂzem a vítima ao estado de despersonalização.
O corpo passa a ser detestado, e a falta de um conÂceito como de uma imagem corporal saudável, empurÂra-o para o atendimento dos impulsos sexuais mais primários e de maneira promíscua.
Quando o corpo, porém, é recuperado pelo disÂcernimento, e toma-se aceito, ganhando vida e signifiÂcado, modifica-se-lhe o comportamento sexual para melhor, equilibra-se-lhe a conduta emocional, fácilitaÂse-lhe a aspiração da busca do amor e do afeto, pela necessidade de relacionamento estimulador e prazenÂteiro.
Muitas vezes, também, os pais, inadvertida ou conscientemente, passam a nutrir pelo descendente, um sentimento apaixonado, no qual está oculto o desejo de um relacionamento sexual perverso, anuÂlando-lhe a natural constituição da personalidade, que se deveria ir firmando a pouco e pouco de forÂma correta.
Essas condutas estranhas e esdríxulas de muiÂtos pais, com características incestuosas, refletem os seus próprios conflitos e perturbações, que os não auxiliaram no desenvolvimento de um comportaÂmento pessoal saudável, tanto quanto de um desenÂvolvimento sexual harmônico.
Aturdidos e viciados mentalmente, vêm nos fiÂlhos somente objetos para o autoprazer, preservanÂdo a sua personalidade incompleta e insatisfeita inÂteriormente.
A reconquista da personalidade, no entanto, épossível, mediante a recuperação dos movimentos e da respiração, por meio de exercícios de reflexão e auto-análise, eliminando as associações negativas e buscando-se, racionalmente direcionar a ocorrência dentro do quadro de valores que possui, sem supeÂrestima, nem mecanismo traumatizante.
A aquisição da personalidade equilibrada está no relativismo do ego para com o Self, nas aspiraÂções do corpo para com as da mente, no processo de busca de valores e de vivências geradores de alegria e portadores de paz.
Dentro do quadro da psicogênese da despersoÂnalização, é-nos possível também adir, que muitos aspectos desse terror procedem de vivências em outras experiências carnais, passadas, que imprimiÂram suas marcas tão profundamente, que somente na juventude e na idade adulta o inconsciente conÂsegue liberar em forma de clichês e recordações que passam a confundir e a atormentar, aprisionando os seus agentes nesses cárceres da respiração insuficiÂente e dos movimentos paralisados.
Todos os fatos que são praticados pela crueldade, pela insensatez e vilania, mesmo quando ocorre o feÂnômeno biológico da morte, não desaparecem, porque os danos morais continuam gerando consequências, até que o seu causador se recupere e reorganize a paisaÂgem moral afetada.
Conhecendo a própria debilidade, e consciente do abuso perpetrado, o ser transfere de uma para outra experiência carnal a carga das responsabilidades, senÂdo compulsoriamente convidadoà regularização. EsÂsas reminiscências emergem como consciência culpaÂda, terrores sem próxima justa causa, ansiedade, atituÂdes autopunitivas e autodestrutivas, que lhe alteram o comportamento pessoal, modificando, totalmente a personalidade que fica marcada.
Quanto mais se consiga autoconscientização das responsabilidades para com o corpo e para com o EspíÂrito, mais facilmente se fazem a luta pela preservação da saíde física e mental, e as experiências propiciadoÂras do progresso moral e cultural, que contribuem para a existência realmente feliz.
Joana de Ângelis – Psicografado por Divaldo franco