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O ser humano é, na sua essência, um animal social, programado para viver em grupo, através do qual mais facilmente pode desenvolver os sentimentos, transformar os instintos primitivos em razão, ascenÂdendo emocionalmente até atingir o patamar da inÂtuição. Não obstante, a herança ancestral de exclusiÂva vinculação com a espécie, mantém-no, em alguÂmas faixas da experiência humana, com as reações agressivas em referência aos demais membros da soÂciedade.
Essa conduta atávica perturbadora se desenvolve como individualismo, que o isola da comunidade, emÂpurrando-o para a vivência de conduta estranha e alieÂnada.
Outras vezes, para fugir a esse comportamento, persegue o sucesso com avidez tormentosa, nele coloÂcando todas as suas aspirações.
Quando isso ocorre, e não possuindo resistências morais em desenvolvimento nem maturidade psicolóÂgica, torna-se massificado pelas conquistas tecnológiÂcas, pela mídia insensível, desaparecendo no volume da sociedade, confundido com todos, sem possibilidaÂdes de iniciativa pessoal, de auto-realização, de identiÂficação dos objetivos essenciais da existência humana, ocorrendo-lhe a perda do Si.
As suas são as aspirações e os gostos gerais, por sentir-se esmagado pela propaganda que o aturde, quanto mais ele a consome.
Sem opção, porque desidentificado com o Si, o ego, atormentado e inseguro, sucumbe pela indiferença ao assumir atitudes excêntricas como necessidade de autoÂafirmação.
Nessa busca, a sua definição pessoal se faz arroÂgante, com peculiaridades que chamam a atenção e proÂvocam comentários. Sua indumentária, conduta, aparência e gestos mascaram a timidez e a importância emocional de que se sente vítima, numa forma de agresÂsão ao sistema, ao qual não se impôs, e que lhe torna a realização pessoal tormentosa.
A falta de individualidade é compensada pela exÂplosão do ego que aturde.
O indivíduo, nessa situação, tem medo da conviÂvência social, e quando forma o seu grupo, é para esÂconder-se e chocar a sociedade em geral.
Normalmente, trata-se de alguém enfermo. Além dos conflitos psicológicos que o assaltam, sofre de ouÂtros distírbios fisiológicos, especialmente na área do sexo, na qual somatiza as inquietações, mascarando-se para negar a dificuldade e chamar a atenção pelo exoÂtismo em que mergulha.
A sociedade agita-se em torno do sucesso, em raÂzão do ilusório poder que ele proporciona e por decorÂrência de raciocínios que não correspondemà realidaÂde, tais como: a aquisição da paz, a vitória sobre impeÂdimentos e a ausência de problemas.
O êxito veste exteriormente o indivíduo, sem o modificar por dentro, nem conceder-lhe plenitude. Trata-se de um objetivo, que se pode também transÂformar em mecanismo de fuga dos conflitos, que se não tem coragem de enfrentar ou que se prefere igÂnorar.
Não raro, ao conseguir-se o êxito, depara-se com o vazio interior, a desmotivação, o tédio.
São comuns os biótipos de sucesso que se apresenÂtam frustrados, magoados com a vida, sucumbindo em depressão…
Aqueles que lhes invejam o luxo, a família sorÂridente, as extravagâncias, não percebem que tudo isso são exibicionismos que se distanciam da verdaÂde.
Alguns triunfadores, na realidade, são tímidos quando em convívio particular ” astros da mídia e sucessos das finanças ”, denunciando receios injustiÂficáveis, e quando descidos do pedestal da fama conÂfundem-se na massa, tornando-se insignificantes.
A vida plena exige criatividade, movimentação, inÂtegração vibrante e satisfatória na busca do prazer esÂsencial.
Todos os esforços que movem aqueles que triunfaÂram sobre si mesmos, através das atividades a que se entregaram ” artes, ciências, filosofia, religião ”, anelaÂvam pelo encontro, a conquista do prazer e da plenituÂde.
Mas, não somente eles. Outros também que se não tornaram conhecidos e que não se massificaram, manÂtendo os seus ideais e lutando por eles com estoicismo e abnegação, alimentavam o desejo de tornar a existênÂcia prazerosa, compensadora, mesmo quando isso os levava ao holocausto,à perda dos haveres, do nome, da situação, preservando com serenidade a ambição de conquistar a imortalidade.
Na perda do Si ” efeito da vida moderna ” o indiÂvíduo frustra-se ficando atrás daqueles que brilham, consumindo-lhes o sucesso, ao tempo que os ajuda a vender mais, a desfrutar de mais êxito.
A sua invisibilidade sequer é percebida, mas consÂtitui apoio e segurança para aqueles que se destacam.
De outra forma, a ocorrência também contribui para o aumento da criminalidade, para as condutas aberrantes.
A agressividade surge, então, quando o espaço di
minui, seja entre os animais ou entre os homens. ComÂprimidos, tornam-se violentos.
Impossibilitados de alcançar ou de serem alcançaÂdos pelas luzes do sucesso, explodem em perversidaÂdes, em condutas criminosas, que os retiram do anoniÂmato e os transformam em ídolos para os outros psicoÂpatas que os seguirão, neles tendo os seus mitos.
Por sua vez, os seus líderes são indivíduos reais ou conceptuais que a mídia celebriza pela hediondez disÂfarçada de coragem, por que são defensores da Lei e da sociedade, embora os métodos truanescos de que se utilizam ou pela habilidade de burlarem o sistema, de se tornarem justiceiros a seu modo, ou de se imporem pelo suborno, pelo medo, pelo poder que aos outros reduz ao nada.
Uma vida saudável não naufraga na perda do Si por estabelecer os seus próprios ideais, expressos em uma conduta harmônica dentro das diretrizes do sociÂalmente aceito e caracterizada pela autoconsciência.
O sucesso exterior não prescinde daquele interno, que decorre da perfeita assimilação dos objetivos exisÂtenciais e dos interesses pessoais.
Quando se diz que outrem está realizando isso, tal não significa a verdade, mas o que dele se pensa, que ele projeta, ou no que ele crê sob o ponto de vista sociÂal, material, artístico, cultural…
A auto-realização é como um processo de autoconÂquista e de alo-superação, no qual se harmonizam os sentimentos, a razão e as aspirações.
Enquanto o indivíduo na massa desaparece, aqueÂle que é feliz se destaca, irradia poder, prazer, alegria. Pode não ter valores materiais que despertem ambições, mas são ricos de saíde moral, de paz, de equilíbrio. Os
seus olhos têm brilho, a sua face movimenta os míscuÂlos, a sua é a expressão da vida, da conquista interna.
Na massa, a pessoa está amorfa, patibular, morta…
A perda do Si, sem dívida, é uma das muitas enÂfermidades dos tormentos modernos.
Joana de Ângelis – Psicografado por Divaldo franco