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A insegurança emocional responde pelo medo de amar.
Como o amor constitui um grande desafio para o Self, o indivíduo enfermiço, de conduta transtornada, inquieto, ambicioso, vítima do egotismo, evita amar, a fim de não se desequipar dos instrumentos nos quais
oculta a debilidade afetiva, agredindo ou escamoteanÂdo-se em disfarces variados.
O amor é mecanismo de libertação do ser, medianÂte o qual, todos os revestimentos da aparência cedem lugar ao Si profundo, despido dos atavios físicos e menÂtais, sob os quais o ego se esconde.
O medo de amar é muito maior do que parece no organismo social. As criaturas, vitimadas pelas ambiÂções imediatistas, negociam o prazer que denominam como amor ou impõem-se ser amadas, como se tal conÂquista fosse resultado de determinados condicionamenÂtos ou exigências, que sempre resultam em fracasso.
Toda vez que alguém exige ser amado, demonstra desconhecimento das possibilidades que lhe dormem em latência e afirma os conflitos de que se vê objeto. O amor, para tal indivíduo, não passa de um recurso para uso, para satisfações imediatas, iniciando pela projeÂção da imagem que se destaca, não percebendo que, aqueloutros que o louvam e o bajulam, demonstrando-lhe afetividade são, também, inconscientes, que se utiÂlizam da ocasião para darem vazãoàs necessidades de afirmação da personalidade, ao que denominam de um lugar ao Sol, no qual pretendem brilhar com a claridaÂde alheia.
Vemo-los no desfile dos oportunistas e gozadores, dos bulhentos e aproveitadores que sempre cercam as pessoas denominadas de sucesso, ao lado das quais se encontram vazios de sentimento, não preenchendo os espaços daqueles a quem pretendem agradar, igualmenÂte sedentos de amor real.
O amor está presente no relacionamento existente entre pais e filhos, amigos e irmãos. Mas também se expressa no sentimento do prazer, imediato ou que venha a acontecer mais tarde, em forma de bem-estar. Não se pode dissociar o amor desse mecanismo do prazer mais elevado, mediato, aquele que não atormenta nem exige, mas surge como resposta emergente do próprio ato de amar. Quando o amor se instala no ser humano, de imediato uma sensação de prazer se lhe apresenta natural, enriquecendo-o de vitalidade e de alegria com as quais adquire resistência para a luta e para os grandes desafios, aureolado de ternura e de paz.
O amor resulta da emoção, que pode ser definida
como uma reação intensa e breve do organismo a um lance inesperado, a qual se acompanha dum estado afetivo de concentração penosa ou agradável, do ponÂto de vista psicológico. Também pode ser definida como o movimento emergente de um estado de excitamenÂto de prazer ou dor.
Como consequência, o amor sempre se direcionaàqueles que são simpáticos entre si e com os quais se pode manter um relacionamento agradável. Este conÂceito, porém, se restringeà exigência do amor que se expressa pela emoção física, transformando-se em praÂzer sensual.
Sob outro aspecto, háo amor profundo, não necesÂsariamente correspondido, mas feito de respeito e de carinho pelo indivíduo, por uma obra de arte, por algo da Natureza, pelo ideal, pela conquista de alguma coiÂsa superior ou transcendente, para cujo logro se empeÂnham todas as forças disponíveis, em expectativa de um prazer remoto a alcançar.
As experiências positivas desenvolvem os sentiÂmentos de afetividade e de carinho, as desagradáveis propÕem uma postura de reserva ou que se faz cauteÂlosa, quando não se apresenta negativa.
No medo de amar, estão definidos os traumas de infância, cujos reflexos se apresentam em relaçãoàs demais pessoas como projeções dos tormentos soÂfridos naquele período. Também pode resultar de insatisfação pessoal, em conflito de comportamento por imaturidade psicológica, ou reminiscência de soÂfrimentos, ou nos seus usos indevidos em reencarÂnações transatas.
De alguma forma, no amor, há uma natural necesÂsidade de aproximação física, de contato e de contiguiÂdade com a pessoa querida.
Quando se é carente, essa necessidade torna-se torÂmentosa, deixando de expressar o amor real para torÂnar-se desejo de prazer imediato, consumidor. Se for estabelecida uma dependência emocional, logo o amor se transforma e torna-se um tipo de ansiedade que se confunde com o verdadeiro sentimento. Eis porque, muitas vezes, quando alguém diz com aflição eu o amo, está tentando dizer eu necessito de você, que são senÂtimentos muito diferentes.
O amor condicional, dependente, imana uma pesÂsoaà outra, ao invés de libertá-la.
Quando não existe essa liberdade, o significado do eu o amo, o transforma na exigência de você me deve amar, impondo uma resposta de sentimento inexistenÂte no outro.
O medo de amar também tem origem no receio de não merecer ser amado, o que constitui um complexo de inferioridade.
Todas as pessoas são carentes de amor e dele creÂdoras, mesmo quando não possuam recursos hábeis para consegui-lo. Mas sempre haverá alguém que esteÂja disposto a expandir o seu sentimento de amor, sintonizando com outros, também portadores de necessiÂdades afetivas.
O medo, pois, de amar, pelo receio de manter um compromisso sério, deve ser substituído pela busca da afetividade, que se inicia na amizade e termina no amor pleno. Tal sentimento é agradável pela oportunidade de expandir-se, ampliando os horizontes de quem deÂseja amigos e torna-se companheiro, desenvolvendo a emoção do prazer pelo relacionamento desinteressado, que se vai alterando até se transformar em amor legítiÂmo.
Indispensável, portanto, superar o conflito do medo de amar, iniciando-se no esforço de afeiçoar-se a outrem, não gerando dependência, nem impondo condições.
Somente assim a vida adquire sentido psicológico e o sentimento de amor domina o ser.
Joana de Ângelis – Psicografado por Divaldo franco