O DESPERTAR DO ESPÃRITO
Numa comunicação que o Espírito Georges ditouà Sra. Costel, publicada na Revista de 1860 sob o título de O
Despertar do Espírito, foi dito que não há relações amistosas entre os Espíritos errantes; que aqueles mesmos que se amaram não trocam sinais de reconhecimento. Em várias pessoas essa teoria causou uma impressão muito penosa, sobretudo porque os leitores da Revista consideram aquele Espírito elevado, havendo admirado a maioria de suas comunicações. Se essa teoria fosse absoluta, estaria em contradição com o que tantas vezes foi dito, que no momento da
morte os Espíritos amigos vêm receber o recém-vindo, auxiliando-o a se desembaraçar dos liames terrestres e, de certo modo,
iniciando-o em sua nova vida. Por outro lado, se os Espíritos inferiores não se comunicassem com os mais adiantados, não
poderiam progredir. Procuramos refutar essas objeções num artigo da Revista de 1860, sob o título de Relações Afetuosas dos Espíritos, mas eis os comentários que, a pedido nosso, deu o próprio Georges de
sua comunicação: Quando um homem é surpreendido pela morte nos hábitos materialistas de uma vida que jamais lhe deixou tempo para se ocupar de Deus; quando, palpitando ainda de angístias e de temores terrenos, chega ao mundo dos Espíritos, assemelha-se a um viajante que ignorasse a língua e os costumes do país que visita. Imerso na perturbação, é incapaz de se comunicar, não compreendendo nem mesmo as próprias sensações, nem as dos outros. Erra envolto no silêncio; então sente germinarem, eclodirem e se desenvolverem lentamente pensamentos desconhecidos, e uma nova alma floresce na sua. Chegada a esse ponto, a alma cativa sente caírem os laços e, como uma ave a quem a liberdade é devolvida, lança-se para Deus, soltando um grito de alegria e de amor. Então, se comprimemà sua volta os Espíritos dos parentes, dos amigos purificados que, silenciosamente, o haviam acolhido em sua volta. São em reduzido nímero os que podem, logo após a libertação do corpo, comunicar-se com os amigos que reencontram. É necessário ter merecido, e somente os que cumpriram gloriosamente suas íltimas migrações se acham, desde o primeiro momento, bastante desmaterializados para gozar desse favor que Deus concede como recompensa. Apresentei uma das fases da vida espírita; não quis generalizar. Como se vê, não falei senão do estado dos primeiros instantes que se seguemà morte, que poderá ser mais ou menos duradouro, conforme a natureza do Espírito. Depende de cada um abreviá-lo, desprendendo-se dos laços terrenos desde a vida corpórea, já que somente o apegoàs coisas materiais o impede de fruir a felicidade da vida espiritual.
Georges