ABANDONO DO LAR – Casamento 2.5/5 (2)

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Várias são as causas que levam um dos cônjuges a abandonar o lar, com isso desagregando perigosamente a estrutura da família, que deveria permanecer unida. Dentre elas, podemos citar, de escantilhão, as seguintes: ausência de responsabilidade, fraqueza de caráter, tornando o indivíduo leviano e presa fácil de paixões passageiras, mormente em ambientes onde haja certa facilidades de ordem sexual, desarmonias conjugais, provocadas e alimentadas pelo ciúme ou pela falta de compreensão recíproca, agressividade constante, violências físicas e / ou morais, processos obsessivos, etc…
Na realidade, as maiores vítimas são os filhos que, além de perderem a assistência do pai, ou da mãe, sofrem a sua ausência e escutam, permanentemente, acusações contra aquele que os abandonou.
Amigos, é preciso que entendamos que acima dos direitos individuais estão os direitos familiares, sobretudo os direitos dos filhos, para cuja educação há necessidade imperiosa da presença atuante de ambos os dois cônjuges.
Meditamos nos dizeres desta carta que uma adolescente escreveu: “Não se zangue, mamãe! Desculpe. Desculpe porque eu preciso desabafar. Sei que você está hiperpreocupada, supercansada.
“Que você se mata por nós. Ninguém sabe agradecer. Mas todos nós lhe somos gratos.
“Mamãe, não se zangue! Nós queremos é você e não os seus serviços. Quem consegue conversar a sós com você? Você ralha comigo. É o vestido sujo e rasgado, são as mãos imundas, os cabelos despenteados, os objetos esquecidos, o quarto desarrumado. Sempre as mesmas reclamações… inúteis! Nem mais as ouço: já sei tudo de cor…
“Sabe o que esta faltando nesta casa? Está faltando é tempo para conversar. Quando eu volto do colégio, morro de vontade de chegar perto de você e contar tudo: as coisas misteriosas que me disseram, meus namoros, meus sonhos para o futuro. Você está na cozinha, mexendo as malditas panelas. Eu sei que seus quitutes não podem queimar. Mas você sabe que me queima a alma sua frase sempre fervendo de impaciência: ‘Agora, não! Não posso ouvir nada! Daqui a pouco, espere!’ Faz anos que você me diz isso, mamãe. O seu ‘daqui a pouco’ nunca chegou. Estou farta de esperar. À noite, quando os pequenos já pegaram no sono, se eu pudesse ficar a sós com você, eu diria tudo: — “o livro que me impressionou…
— “os segredos de minha única amiga…
— “até os meus pecados. Eu lhe diria tudo, mamãe…
“Você nunca se sentou à beira de minha cama para conversar. Ah! Se você soubesse a desordem que reina em meu coração! Se eu pudesse um dia verificar que meus problemas interessam a você, eu me sentiria crescer. Eu seria boa, juro, eu me tornaria alguém.
“Não se zangue, minha mãezinha! Mas… fale comigo”.
Amigos, eis aí a carta da adolescente, pedindo a atenção da mãe. Em outro trecho deste mesmo livro vocês encontrarão a carta de um filho, endereçada a seu pai, também pedindo atenção para seus problemas, para seus conflitos íntimos. Tudo isso confirma a nossa assertiva: para a educação dos filhos há imperiosa necessidade da presença atuante de ambos os dois cônjuges.
Tanto o pai como a mãe devem servir de modelo na formação da personalidade dos filhos. Como explica bem O Evangelho Segundo o Espiritismo, “o corpo procedo do corpo, mas o Espírito não provém do Espírito, porque preexiste à formação do corpo. Não é o pai quem cria assim o Espírito de seu filho — apenas dá lhe o invólucro corporal, mas deve ajudar seu desenvolvimento intelectual e moral, a fim de fazê-lo progredir”.
Ao que completa O Livro dos Espíritos: “A paternidade chega a ser mesmo uma espécie de delicada missão”.
Pai e mãe não representam tão-somente o esteio econômico da manutenção da prole — mas também (e principalmente) aquela retaguarda moral, aquele suporte espiritual extremamente necessário ao filho durante a infância e ainda mais na adolescência. Por detrás de um aluno-problema em nossas escolas de 1 e 2 graus, que cria terríveis casos de disciplinares, não raro, está exatamente uma criança carente de afeto familiar… Por detrás de um jovem, às voltas com a Policia e a Justiça, por questões de tóxicos e atos de violência, está, de um modo geral, um lar desfeito, onde reinou a incompreensão, o desrespeito, a discórdia permanente. Tal estado de coisas pode, inclusive, ser responsável pelo adulto desajustado no contexto social, cheio de graves traumas e complexos estranhos, infernizado em seu íntimo e infernizando tantos quantos dele se aproximem. Em uma palavra, sofrimento, revolta, infelicidade geral.
À luz do Espiritismo, todavia, tudo tem a sua profunda razão de ser. Nada acontece por simples acaso, existe uma explicação para tanto infortúnio no seio dos próprios lares. Não se sofre sem uma causa justa e necessária. Tanto quanto não é mera casualidade que une Fulano a Sicrano ou a Beltrano na condição de pai ou de filho, de mãe ou de filha, de marido e mulher, nas naturais e necessárias relações domésticas de nossa vida terrena. Há todo um planejamento prévio, antes do processo encarnatório, como que fixando as diretrizes gerais, as linhas mestras do gênero de vivência que haveremos de ter nos próximos anos imersos na carne. Assim é que, o já citado Evangelho Segundo o Espiritismo, explica que: “Os Espíritos que encarnam numa mesma família, sobretudo entre parentes próximos, são muitas vezes Espíritos simpáticos, unidos por ligações anteriores, manifestadas por seu afeto durante a vida terrestre, mas pode também acontecer que estes Espíritos sejam completamente estranhos entre si, divididos por antipatias também anteriores e que igualmente se traduzem por seu antagonismo na Terra, para lhes servir de provação.
Dentre os problemas que angustiam o homem moderno, evidenciam-se os familiares. Muita gente tenta resolvê-los desertando do lar. Muito comum esta pseudo-solução em nossa sociedade. Todavia, amigos, não há e não pode haver, de modo algum, felicidade ou prazer que possa ser conquistado por um pai, ou por uma mãe, às expensas de seus filhos menores abandonados…
Terminando nossas considerações sobre o abandono do lar, evidentemente não se pede de ninguém a anulação total de sua personalidade diante dos problemas conjugais. Não se lhe exige o entorpecimento, a negação de sua sensibilidade no terreno afetivo. Somos humanos. Temos as nossas aspirações e os nossos ideais, bem como as nossas limitações, os nossos condicionamentos, que a vida material nos impõe. No entanto, graças a todo este conhecimento doutrinário-evangélico, de certa forma resumido neste artigo, tem-se motivo para um pouco mais de resignação e tolerância. Um pouco mais de devotamento e de paciência. Tem-se ainda motivo para a fé e persistência naquele firme propósito de tentar — ainda uma vez — o diálogo fraterno e franco com o cônjuge difícil, experimentando o entendimento com serenidade, ao invés da exasperação, da irritação, do desespero, da agressão verbal, que, em verdade, como todos sabemos, não solvem os problemas, não diminuem os abismos, não reduzem as desinteligências, enfim, não trazem solução alguma. Ao contrário, prejudicam os pais, e muito mais ainda, os filhos, que sofrem com os atritos dos progenitores bem como o abandono de seus responsáveis mais imediatos — o pai e a mãe! Autor : Celso Martins Livro: Por Um Mundo Melhor – Cap. 9 – Pág. 38

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