A ingênua crença da salvação pela graça 2.8/5 (5)

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Pedro Fagundes Azevedo, ex-presidente e atual conselheiro da Legião Espírita de Porto Alegre Contribuição de Pedro

Um conhecido meu, avesso a qualquer ideia de espiritualidade, espera se esquivar da justiça divina com as mesmas artimanhas que tem usado para ludibriar a justiça terrena. Assim, para que Deus perdoe suas falcatruas, subornos e adultérios, imagina em se converter a uma dessas religiões tradicionais que pregam a ideia da salvação pela graça. Pensa que, ao entrar na velhice, basta se arrepender, pedir perdão, encomendar algumas orações e pronto: se não conseguir alcançar o céu, no máximo pega um purgatoriozinho transitório. Afinal de contas, Jesus teria morrido na cruz para pagar pelos pecados de todos nós, incluindo aí os bilhões de criaturas que viveram há dois mil anos e de lá para cá, até os dias de hoje. Quer dizer, paga justo pelo pecador, até por antecipação, e Deus ingenuamente aceita essa troca de papéis com toda a indiferença.

Essa crença até faz lembrar um outro costume, vigente quando Jesus andava na Terra. Naquele tempo, Deus perdoaria os erros dos homens através do sacrifício de bois, ovelhas e pombas, pelos sacerdotes de Jerusalém. Assim, se o pecado era cabeludo, se a falta fosse muito grande, a oferenda tinha que ser um animal de porte, como um touro, para que Deus se desse por satisfeito. Entretanto, se o pecado fosse de porte médio, um desfalque nas finanças públicas, por exemplo, o sacrifício de um carneiro já resolveria a situação. E se fosse um roubozinho de menor porte, aí o abate de uma pomba rola era o suficiente para aplacar a suposta ira de Deus. Nessa época, todo o questionamento era proibido e considerado heresia, os homens estavam totalmente impedidos de raciocinar e de expressar suas inconformidades. A fé era imposta pelo medo, sem maiores explicações, na base do “ou crê ou morre”. Naturalmente, com o decorrer dos séculos, todos esses absurdos, dogmas e contradições foram enfraquecendo as religiões que sempre exerceram poderosa influência sobre a sociedade.

No filme brasileiro “O Auto da Compadecida”, o ator Lima Duarte representando o papel de um bispo, tem o seguinte diálogo com um cangaceiro, que prestes a assassiná-lo, pede para ser perdoado. Retruca, então, o religioso: “para ser perdoado, você primeiro tem que se arrepender e desistir de me matar”. E o cangaceiro, no seu raciocínio simplório, responde: “não faz mal, eu me arrependo depois”. O que aconteceu neste episódio? Baseado talvez na salvação pela graça, crença ainda muito arraigada no nordeste brasileiro, este cangaceiro pensando em enganar a Deus, estava enganando a si mesmo. Cedo ou tarde, iria se deparar com a lei universal de causa e efeito que é automática e independe de religiões. Aliás, sobre esse assunto, Jesus deixou bem claro (Mateus, 16:27): “a cada um será dado segundo as suas obras “- e não segundo a sua crença. E o apóstolo Paulo também confirma (Gálatas, 6:7): Deus não se deixa escarnecer, pois tudo o que o homem semear, isso também colherá

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