Possivelmente, uma das questões mais tristes para quem ama é ver os seus amados deixarem esta vida enquanto ainda estão a caminho.
Falamos dos portadores do Mal de Alzheimer, essa enfermidade insidiosa que ocasiona a perda da memória, da atenção, da linguagem e da orientação.
Os seres estão ao nosso lado mas é como se não estivessem, porque não interagem conosco. Falamos com eles, dividimos alegrias, acontecimentos, que eles esquecem no minuto seguinte.
Não podemos aguardar que se alegrem com nossas conquistas senão pelo momento exato em que as comunicamos. Depois, tudo fica relegado ao profundo poço do esquecimento.
Por vezes, isso gera conflitos de relacionamento, considerando que, repetindo e repetindo as mesmas coisas, várias vezes ao dia, rapidamente nos cansamos.
Então, esquecidos da problemática que envolve em névoas os que amamos, desabafamos: Será que não dá para prestar atenção no que eu falo? Preciso ficar repetindo a toda hora?
São momentos decorrentes do nosso cansaço, pelos afazeres e preocupações que a vida nos exige. Logo, nos arrependemos, lembrando que o nevoeiro do esquecimento tomou de assalto as lembranças dos nossos amados.
No entanto, existem exemplos de pessoas que superam essas fases, exercitando a paciência. Pessoas que descobrem fórmulas mágicas de tornar menos duros esses anos de alienação da memória.
E não são poucas. Possivelmente, elas mesmas recordam que, na infância, por uma questão de aprendizagem, exigiram dos seus pais a constante repetição das mesmas respostas, reprisadas dezenas de vezes: Por quê? Mas, por quê?
Uma dessas pessoas se chama Christine Stone, cuja mãe sofre de Alzheimer.
Ao se descobrir grávida, Christine contou para ela, que abriu um largo sorriso, iluminando a face e até bateu palmas.
Na sucessão dos meses, enquanto a barriga ia denunciando a nova vida se desenvolvendo em sua intimidade, Christine tornou a contar e a recontar para sua mãe.
Finalmente, no intuito de eternizar aquele fugaz momento de alegria, de quem se descobre a caminho de ser avó, ela resolveu gravar.
E assim, dia a dia, foi contando a novidade e se surpreendendo com a reação da velha mãe.
Setsuko Harmon sorriu a cada vez e se deixou emocionar.
Grávida? Você, Christine?
Palmas efusivas de uma vez, um acariciar da barriga denunciadora da gravidez de meses de outra.
Gravado… para não ser esquecido por quem veja e reveja as emocionantes cenas.
* * *
Nenhum de nós pode ter certeza do seu amanhã, de como concluirá seus dias, se conseguirá manter a lucidez até o final dos seus anos.
Por isso mesmo, a sabedoria nos diz que devemos aproveitar cada momento, nos relacionamentos humanos, de forma irrestrita, ampla.
Jamais deixar de abraçar, beijar, comemorar. Estar presente em cada vitória, em cada conquista.
Tudo isso enquanto estamos com nossos amados e eles prosseguem conosco. Lúcidos. Presentes.
O amanhã somente a Divindade o conhece. E pode ser que ele nos surpreenda com reviravoltas em nossas vidas, algo que nos impeça de estarmos verdadeiramente junto aos amores.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita, com relato de fato
noticiado pelo www.estadao.com.br, em 7.6.2017.
Em 25.8.2017.