NINGUÉM PODE SERVIR A DOIS SENHORES – Rodolfo Calligaris – O Sermão da Montanha 5/5 (1)

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“Ninguém pode servir a dois senhores; porque, ou há de

aborrecer um e amar outro, ou há de submeter-se a este e

desprezar aquele.
Não podeis servir simultaneamente a Deus e a

Mamon.
” (Mateus, 6:24.
)

Mamon era um dos deuses adorados pelos sírios, na

Antiguidade.
Representava as riquezas e daí suas estátuas serem

fundidas em metal precioso: ouro ou prata.

Malgrado o desaparecimento desses ídolos, Mamon continua

sendo cultuado por grande parte da Humanidade, pelos cristãos

inclusive.

De fato, a luta absorvente pela conquista de bens materiais a

que quase todos nos entregamos, a par das homenagens e

salamaleques que tributamos aos ricaços e poderosos, que

significam senão o mais fervoroso culto a essa divindade

gentílica?

As palavras acima revestem-se, pois, ainda hoje, de grande

oportunidade, constituindo séria advertência a quantos,

invertendo o preceito evangélico: “buscai primeiramente o Reino

de Deus e a sua justiça e o resto vos será concedido por

acréscimo”, atravessamos toda a existência cuidando apenas de

fazer fortuna, vivendo no mais grosseiro materialismo, na

suposição de que depois, por meio de ofícios religiosos, possamos

ganhar, também, o paraíso.

O texto em foco, entretanto, é muito claro e não autoriza

alimentemos tal ilusão.

Não disse o Mestre, notemos bem, que os homens não devem

servir a Deus e a Mamon, mas que o não podem fazer.

Por que não podem?

Por uma razão fácil de entender-se: os interesses mundanos e

os ideais superiores não se correspondem, nem se harmonizam;

são, antes, duas forças divergentes, antagônicas, atuando em

sentidos opostos.

Quem concentra toda a sua atenção nas riquezas e honras

mundanas não tem tempo para pensar nas coisas de cima, e quanto

mais progride materialmente, quanto mais aumenta os seus

tesouros, mais necessita defendê-los.
E, nesse afã, mais fortifica

os liames que o prendem a este plano, mais retarda sua evolução.

Compadecido, certamente, de nossa insensatez, eis o que nos

dita “um Espírito protetor”, em mensagem inserta no cap.
XVI de

O Evangelho segundo o Espiritismo:

Quando considero a brevidade da vida, dolorosamente me

impressiona a incessante preocupação de que é para vós objeto o

bem-estar material, ao passo que tão pouca importância dais ao

vosso aperfeiçoamento moral, a que pouco ou nenhum tempo

consagrais e que, no entanto, é o que importa para a eternidade.

Dir-se-ia, diante da atividade que desenvolveis, tratar-se de uma

questão do mais alto interesse para a Humanidade, quando não se

trata, na maioria dos casos, senão de vos pordes em condições de

satisfazer às necessidades exageradas, à vaidade ou de vos

entregardes a excessos.
Que de penas, de amofinações, de

tormentos cada um se impõe; que de noites de insônia, para

aumentar haveres muitas vezes mais que suficientes! Por cúmulo

de cegueira, frequentemente se encontram pessoas, escravizadas a

penosos trabalhos pelo amor imoderado da riqueza e dos gozos

que ela proporciona, a se vangloriarem de viver uma existência

dita de sacrifício e de mérito – como se trabalhassem para os outros

e não para si mesmas! Insensatos! Credes, então, realmente, que

vos serão levados em conta os cuidados e os esforços que

despendeis movidos pelo egoísmo, pela cupidez ou pelo orgulho,

enquanto negligenciais do vosso futuro, bem como dos deveres

que a solidariedade fraterna impõe a todos os que gozam das

vantagens da vida social? Unicamente no vosso corpo haveis

pensado; seu bem-estar, seus prazeres foram o objeto exclusivo da

vossa solicitude egoística.
Por ele, que morre, desprezastes o

vosso Espírito, que viverá sempre.
Por isso mesmo, esse senhor

tão amimado e acariciado se tornou o vosso tirano; ele manda

sobre o vosso espírito, que se lhe constituiu escravo.
Seria essa a

finalidade da existência que Deus vos outorgou?

Atentos a esse conselho amigo, não nos deixemos dominar pelo

amor ao ouro, nem pelas paixões que a sua posse suscita e

desenvolve nos homens, fazendo até que olvidem o destino

transcendente para o qual foram criados.

Lembremo-nos de que, ao deixarmos este mundo, só levaremos

conosco aquilo que efetivamente nos pertence: as qualidades

morais.

E serão elas, somente elas, que nos garantirão o acesso às

regiões felizes da Espiritualidade.

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