37 O INTERVALO – DIÁLOGO COM AS SOMBRAS HERMÍNIO C. MIRANDA 5/5 (1)

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Muito trabalho, no entanto, desenvolve-se no mundo espiritual, entre uma sessão e outra: trabalho complementar, como vimos, embora de menor vulto, e trabalho preparatório, muito mais amplo, difícil e constante.

Companheiros nossos por várias vezes nos têm falado de verdadeiras sessões mediúnicas que se realizam, nas horas mortas da noite, com os médiuns desdobrados pelo sono fisiológico.
Este trabalho preparatório é particularmente indicado para os casos em que os Espíritos a serem tratados acham-se de tal forma envolvidos em vibrações pesadas, que o contacto direto com o corpo físico do médium poderia acarretar choques penosos e até perigosos.
Nestes casos, os mentores levam, a um ponto de reunião, tanto os componentes encarnados do grupo, quanto os Espíritos necessitados.
A tarefa preliminar desenrola-se sob condições que ainda desconhecemos, mas, ao manifestar-se, afinal, no grupo encarnado, o Espírito está mais predisposto ao entendimento ou, pelo menos, não tão impetuoso e violento, e talvez mais afeito à organização mediúnica.

São inúmeras, porém, as tarefas desenvolvidas durante a semana, entre uma sessão e outra, com os companheiros que se acham em tratamento e já tiveram uma ou mais manifestações no grupo.
Com freqüência ouvimo-los referirem-se aos encontros que mantivemos no mundo espiritual, durante os nossos desprendimentos.
O doutrinador tem que estar bem atento a esse pormenor.
É necessário lembrar-se de que o Espírito manifestante nem sempre está consciente do fato de que os encarnados esquecem-se do que se passa enquanto estão desdobrados pelo sono comum.
Por outro lado, não deve fingir que sabe de tudo, porque, a uma pergunta mais embaraçosa, ele terá que confessar sua ignorância.
A atitude indicada é conservar-se na expectativa e acompanhar, com extrema atenção, o pensamento do companheiro manifestante, naquilo que ele vai dizendo.
Não se esqueça de que os Espíritos nessa condição “pensam alto”, ou seja, praticamente tudo quanto formular no pensamento, o médium transmite.

Um deles me disse, certa vez:

— Eu sei.
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Você já me falou sobre isso no nosso encontro.

Outros me perguntam:

— Por que você me chamou aqui?

É preciso estar preparado para uma resposta que não revele total ignorância e surpresa, nem um conhecimento que nossa memória consciente não guarda.
Em casos como esse, é preferível ser honesto e dizer ao companheiro que ele precisa lembrar-se de que os seres encarnados não costumam registrar na memória consciente aquilo que fizeram em seus desdobramentos.

Um desses disse-me, ao reiniciar o diálogo interrompido na semana anterior:

— Acho que dei um “fora”.
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E contou o caso.
Durante a semana, introduzira-se sorrateiramente em uma reunião que mantivemos, no Espaço, com aqueles que ele chamou de nossos “diretores”.
Ficara escondido atrás de uma coluna, a observar e ouvir, certo de que ninguém ali sabia da sua presença.
Ao que tudo indica, tencionava espionar a nossa reunião.
Depois descobriu que, ao contrário, não apenas sabiam que ele estava ali, senão que o haviam permitido, pois era até esperado.
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Não sei o que foi feito e dito nessa reunião, mas écerto que, ao manifestar-se no grupo mediúnico, na semana seguinte, ele estava profundamente modificado e até mesmo atônito.
Não sabia o que se passara com ele, mas disse que olhara num espelho e não se reconhecera.
Perdera a noção da sua identidade pessoal.
Isto foi o princípio de um processo de regressão de memória em que se precipitou e ao qual me referi alhures, neste livro, e de que resultaria sua libertação.

Em certos grupos de desobsessão, a atividade noturna, nos intervalos das sessões, é muito intensa.
Os mentores espirituais levam os encarnados, desprendidos pelo sono, a reuniões de estudo, de trabalho, de debates e planejamento, ou a descidas profundas e perigosas nos antros milenares da dor, de onde, às vezes, resgatamos companheiros a serem doutrinados em futuras sessões.

Já narrei aqui um caso de zoantropia, em que o infeliz companheiro ficara reduzido à forma “física” de um fauno.
Esse irmão foi resgatado ao mundo tenebroso do sofrimento superlativo, numa incursão de que um de nós, encarnados, conseguiu preservar a lembrança fragmentária, ao despertar.

As imagens eram as de um sonho comum, mas, como sempre acontece nesses casos, de extremo realismo.
Os componentes do grupo, dirigidos pelos benfeitores espirituais, encontravam-se em vasta região desolada, sombria e agreste, que haviam alcançado numa “condução” rústica, que fazia lembrar um jipe terreno.
A certo ponto, pararam, desceram e fizeram o resto do percurso a pé.
As peripécias seguintes da jornada não ficaram documentadas na memória do companheiro desperto.
Lembra-se ele, no entanto, do uma cena fragmentária, no regresso.
Estava do lado de dentro de uma caverna, cujo único acesso ao exterior era uma espécie de chaminé estreita, aberta na rocha.
Alguns companheiros ficaram de fora, enquanto os de dentro passaram para eles, com enorme dificuldade, “algo” que traziam, com extremo cuidado, nos braços, enquanto milhares de formigas pretas e agressivas atacavam feroz-mente aqueles que se empenhavam na tarefa.

Uma ou duas semanas depois, aquele “algo”, que havia sido resgatado, manifestou-se no grupo: era um ser humano!.
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A indignação dos guardiães do pobre irmão foi inconcebível, pois, segundo apuramos, aquele ser, reduzido à mais abjeta condição humana, era figura importante para seus esquemas nefastos.
Na imagem das formigas agressivas, que nos atacavam, ficou documentada a reação tremenda que desenvolveram para impedir-nos.

De outra vez, recordei-me, com extraordinária lucidez, de algumas cenas ocorridas numa dessas incursões em território perigoso e agreste.

Fomos recebidos no local — escuro e opressivo — com alguns sinais de cordialidade ou, pelo menos, sem hostilidade.
Há, depois, um “branco”, do qual nada me lembro.
Vejo-me, a seguir, já no final dessa visita, sendo perseguido por um grupo belicoso, que tentava agarrar-me, para retirar de mim certa quantidade de sangue.
Uma das criaturas — uma mulher — trazia nas mãos uma longa seringa, contendo já um pouco de sangue, grosso e escuro, que pingava no chão.
Nesse momento, comecei a escapar-lhes.
Era como se eu levitasse.
Via-os correrem desesperadamente atrás de mim, a uns poucos metros abaixo, enquanto eu me afastava, como se voasse, pouco acima de suas cabeças.

Algumas semanas depois, apresentou-se o “chefe” daquela região tétrica, numa incorporação mediúnica.
Estava indignado, porque eu havia escapado.
Precisavam do meu sangue para os seus “trabalhos”, e do sangue de nossos companheiros encarnados, também.
Eu ficaria surpreso — disse — se soubesse daqueles que o haviam doado espontaneamente, a troco de favores, em pactos que garantiam a uma parte muitos “sucessos” na vida material, e à outra, o evidente domínio sobre seus espíritos.
Ele veio disposto a arrebatar-nos o sangue, de qualquer maneira.
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Um de nossos médiuns conseguiu registrar, com grande precisão e detalhamento, uma dessas incursões.
A meu pedido, escreveu todo o relato, enquanto ainda bem vivo na memória, o que muito nos serviu depois.

Nem sempre, no entanto, nos lembramos de tais, episódios.
As vezes, os próprios benfeitores espirituais incumbem-se de condicionar-nos ao esquecimento, dado que a recordação poderia prejudicar-nos de alguma forma, ou ao trabalho.

Por outro lado, essas incursões são, às vezes, também, no mundo superior, para onde nos levam, amorosamente, companheiros competentes e seguros, a fim de podermos assistir a reuniões de estudo e planejamento, com nossos maiores.
Ê difícil, porém, conservar a lembrança delas.
Ficam apenas as linhas mestras das instruções recebidas, sob a forma de frases soltas, ou de símbolos, que se imprimiram nos nossos arquivos perispirituaís.

Outro aspecto importante, que precisa ser abordado, no aproveitamento desses intervalos entre uma sessão e outra, é o da prece.
Como as sessões se realizam, usualmente, uma vez por se mana, durante os dias em que aguardamos as próximas manifestações, precisamos ter a atenção voltada para os companheiros que se acham em tratamento no grupo, não apenas aqueles que ainda não foram “convertidos”, mas, também, aqueles que já se acham recolhidos, para tratamento, nas instituições especializadas do Além.
Eles precisam de nossas preces e do nosso pensamento construtivo e amoroso, tanto quanto necessitamos do apoio dos nossos benfeitores.
A prece é o fio que realiza esse milagre.
Não podemos esquecer-nos de que os companheiros desarvorados, que receberam o primeiro impacto de uma incorporação e doutrinação, ficam com os ânimos ainda mais acirrados contra nós.
Durante a semana toda haveremos de sentir-lhes a presença ou as “mensagens” vibratórias de seus pensamentos hostis.
Lembremo-nos de que não o fazem por maldade intrínseca e irredutível e, sim, por desconhecimento e defesa.
Estão convencidos da legitimidade de seus propósitos e da nossa posição de intrusos, que nada têm a ver com os seus problemas pessoais e os seus planos.
Sem dúvida alguma tentarão criar-nos dificuldades, quando nada com as vibrações negativas de seu pensamento.
É claro que provocarão, em nós, sensações de angústia indefinível, mal-estar, depressão e desânimo.
Só a prece pode socorrer-nos, em tais situações.
Oremos por eles, mas com fervor, com amor.
É hora de pôr em prática, com toda a convicção, o preceito evangélico que nos recomenda amar os nossos inimigos.
Embora não os consideremos como tais, eles assim se consideram.
Envolvamo-los numa atmosfera de amor e compreensão, de tolerância e paciência, e procuremos devolver as suas agressões mentais com o nosso pensamento de afeição e carinho, implorando a Deus que os ajude, que lhes mostre a verdade, que lhes ilumine os corações, onde também existe amor, em potencial, pronto a emergir, novamente, das cinzas de muitos sonhos e das sombras de muitas agonias.

A qualquer momento que pudermos recolher-nos para a prece, especialmente nas horas e locais em que costumamos meditar, oremos por eles, com muito amor mesmo.
Não é difícil.
Imaginemo-los como companheiros muito queridos, filhos, parceiros de antigas lutas e até credores nossos, a quem muito devemos.
Com freqüência impressionante o são mesmo, além de irmãos, que serão sempre, invariavelmente.
A doutrinação é um ato de amor.
Aquele que não souber amar sem reservas, ou que somente puder amar aqueles que o amam, não está preparado para essa tarefa.

É extraordinário o poder da prece.
Diria, mesmo, miraculoso, não fosse tão abusada essa palavra extraordinária.
Inúmeras e repetidas vezes temos presenciado o seu poder invencível.

Às vezes, o irmão atormentado, ao manifestar-se pela segunda ou terceira vez, mostra-se extremamente “perturbado” pelas nossas preces.
Um deles disse-me, irritado:

— Você vive rezando.
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Outros se confessam paralisados, em pensamento e ação.
Não conseguem mais raciocinar com clareza e levar avante os projetos em que estavam empenhados: perseguições, obsessões, desmandos de toda sorte.
Um deles me disse, certa vez, que havia interceptado meus “telefonemas”.
A “telefonista” recebera-os em seu lugar, mas sua referência provava que ele tomara conhecimento da minha atividade mental e emocional durante a semana, pelo menos naquilo que fora deliberadamente dirigido para ele.

Para resumir e insistir num ponto, já mencionado, alhures, neste livro: o trabalho de doutrinação não se resume às poucas horas em que conversamos diretamente com os Espíritos incorporados aos nossos médiuns; ele se projeta ao longo dos dias e segue nas realizações da noite, quando, em desdobramento, acompanhamos nossos mentores, nos contactos e nas tarefas que se desenrolam no mundo do Espírito.

Mantenhamos uma atitude vigilante, construtiva, atenta a pequenos detalhes, que poderiam passar despercebidos, mas que se revelam subitamente de enorme importância na decifração do enigma que esses amados companheiros trazem em si e que não podem resolver sozinhos.

Muita gente ainda não descobriu que a essência dos “milagres” evangélicos é o amor.
Quando o Cristo disse que um dia poderíamos fazê-los também, não estava apenas acenando com uma visão quimérica, para que fôssemos bonzinhos — Ele nada disse que não se conformasse com as suas íntimas convicções, antevisões e experiências.

O amor é realmente milagroso, e a prece, o instrumento daqueles que querem realizá-lo.
A tarefa dos seres encarnados, num grupo mediúnico de desobsessão, é pouco mais que isso: assistirem à constante realização do milagre sempre renovado do amor.

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