Um dos relatos mais comoventes, quando se abordam as horas anteriores à prisão de Jesus, é a Sua solidão.
Durante a ceia daquela quinta-feira, Ele fizera recomendações para o futuro e revelações do que aconteceria, logo mais.
Seria de se esperar que os Apóstolos se mantivessem com olhos e ouvidos atentos, na sequência das horas.
Saindo do local onde tivera lugar a comemoração pascal, Jesus se dirigiu para o Getsêmani, um jardim aos pés do Monte das Oliveiras.
Calcula-se que tenha sido uma caminhada de uns dez minutos.
Acompanhado de Pedro, Tiago e João, adentrou-se para o monte povoado de árvores frondosas, que convidavam ao pensamento contemplativo.
Tornou a frisar que aqueles eram os Seus últimos momentos na Terra.
E lhes pediu: Orai e vigiai comigo, para que tenha a glorificação de Deus no supremo testemunho.
Afastou-se, à pequena distância, mantendo-se em prece.
Reconhecendo que, se assim Jesus os convidava, para aquela derradeira hora, é porque confiava neles, dispuseram-se à vigília.
No entanto, logo adormeceram.
Foram despertados, pelo Mestre, que lhes perguntou por que não haviam permanecido em oração.
E lhes narrou que fora visitado por um mensageiro do Pai, que O viera confortar para o sacrifício próximo.
Apesar de mais essa extraordinária revelação, poucos segundos passados, os três tornaram a adormecer.
Acordaram, finalmente, com os ruídos estranhos, a invasão dos soldados do templo, a prisão do Nazareno.
Considerando a tristeza da flagelação, a sentença arbitrária, e morte na cruz, o Apóstolo João entrou a refletir maduramente sobre os acontecimentos do Getsêmani.
Por que dormira, ele, que amava tanto a Jesus? Por que não pudera estar com Ele, naquela prece derradeira? Por que não conseguira atender ao pedido do Amigo?
O tempo passou sem que João conseguisse esquecer aquela falta de vigilância.
Certa noite, numa atmosfera de sonho, em divino esplendor, Jesus o visitou e lhe falou das lições que deveriam ser extraídas daquele episódio.
Disse da marcha solitária de quantos abraçam missões de amor.
Sobretudo, falou a respeito do sono da indiferença, alertando para o Orar e vigiar.
* * *
Hoje, como naquele dia, muitos de nós cultivamos o sono da indiferença.
Um terrível vírus se alastrou pela Terra, nos solicitando reformulação de atitudes, da maneira de viver.
A pandemia nos exigiu mais respeito ao outro, à própria vida.
Fomos convocados à vigilância, preservando-nos do contágio cruel.
Vimos centenas de amores e amigos serem levados pela morte.
Vimos empregos desaparecerem, negócios serem fechados, angústia e dor em todo o planeta.
Vieram as vacinas, a bênção da recomposição da vida, como uma fugidia luz de esperança.
Bastou uma breve pausa da corrida pandêmica, um arrefecimento da sua incidência, e retornamos aos mesmos velhos hábitos descuidados.
Parece-nos que o Governador Planetário se achega e nos indaga: Filhos da alma, tanta dor não os consegue manter atentos, despertos?
Será que prosseguiremos imersos no sono da indiferença?
É hora de despertar.
Orar e vigiar.
Redação do Momento Espírita, com base no cap.
27,
do livro Boa Nova, pelo Espírito Humberto de Campos,
psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed.
FEB.
Em 28.
3.
2022.

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