Perda de afetos – Redação do Momento Espírita 5/5 (1)

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Quando a morte arrebata do convívio um ser amado, algumas pessoas perdem a vontade de viver.

De uma forma até egoísta, esquecem os que convivem no mesmo lar e se enclausuram na própria dor.

Não se dão conta que, agindo assim, maltratam os corações que os amam e que, exatamente como eles, sofrem a ausência daquele que partiu para a pátria verdadeira.

Assim aconteceu com Hamilton, um trabalhador dos correios.
Ele era muito feliz.
Pai dedicado, costumava chegar em casa e ler histórias para seus filhos.

À noite, antes de adormecerem, beijava-os e com eles orava, rogando a proteção dos seres imortais.

Um dia, a morte veio e ceifou a vida do seu menino de sete anos.
A partir deste dia, ele começou a realizar com desleixo o seu trabalho, não mais sorriu, não contou mais histórias.
Tornou-se triste e cabisbaixo.
O ambiente no lar foi ficando sempre mais difícil.

Certo dia, separando a correspondência para entrega, descobriu uma carta sem envelope.
O destinatário era Jesus.
O endereço: Céu.

Curioso, abriu e leu:

Querido Jesus

Resolvi lhe escrever para pedir uma coisa muito especial.
Aqui em casa todos estamos muito tristes: papai, mamãe e eu.

O meu irmãozinho Felipe morreu há alguns meses.
Quando ele estava conosco, adorava brincar com seu trem, sua bola e seu caminhãozinho.

Pois é Jesus, eu queria que o senhor levasse todos esses brinquedos para ele lá no céu.
Tenho certeza de que ele vai querer continuar a brincar com eles.
Acredito que ele sinta falta, principalmente do trem, com que mais brincava.

Outro pedido é que o Senhor traga meu pai de volta.
Não que ele tenha ido embora, mas é como se tivesse ido.

É que desde a morte de Felipe, ele não sorri, não conta histórias, nem ora mais comigo.

Eu gostaria muito que meu pai me tomasse nos braços e contasse histórias, como fazia antes.

Eu queria ver meu pai sorrir de novo.
É tão bonito o sorriso do meu pai!

Eu queria que, de novo, ele viesse me dizer boa noite, orasse comigo e esperasse eu adormecer.

Era tão bom, Jesus.

Eu ouvi meu pai dizer para minha mãe que só a eternidade poderia curá-lo.

Será que o Senhor poderia trazer um pouquinho disso para ele melhorar? Se for possível, eu ficarei muito feliz.

Assinado: Rita.

O trabalhador dos correios sentiu os olhos marejarem de lágrimas.
Deu-se conta de como, em sua dor, fora egoísta.
Esquecera esposa e filha, que também sofriam.

Naquele dia, voltou para casa diferente.
Ao chegar, chamou a filha, tomou-a nos braços, estreitou-a ao peito demoradamente, beijou-a e lhe perguntou:

Quer ouvir uma história?

* * *

Quando a dor da separação pela morte nos ferir o coração, não nos recolhamos em concha, desistindo da vida.

A dor deve nos motivar à continuidade da luta diária, principalmente porque guardamos a lição da imortalidade.

Os que partiram estão mais próximos de nós do que possamos imaginar.
E não nos esqueçamos dos que partilham conosco da mesma dor e de idêntica saudade.

Em nome do amor, não nos tomemos egoístas.
Não nos isolemos, nem firamos ainda mais os que, ao nosso lado, aguardam pela migalha do nosso carinho, o sorriso da nossa ternura, nutrindo-se do nosso afeto.

Redação do Momento Espírita, com base

no livro Remotos cânticos de Belém, de

Wallace Leal Rodrigues, ed.
O Clarim.

Disponível no CD Momento Espírita, v.
2, ed.
FEP.

Em 24.
1.
2025

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