Livro O que é o Espiritismo – Capítulo I – LOUCURA, SUICÍDIO E OBSESSÃO – Allan Kardec

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LOUCURA, SUICÍDIO E OBSESSÃO

V.
— Certas pessoas consideram as ideias espíritas capazes de turbar as faculdades mentais.
Por esse motivo julgam prudente sustar a sua propagação.

A.
K.
— O senhor conhece, por certo, o provérbio: Quem quer quebrar o pote diz que está rachado .
Não é, pois, de admirar que os inimigos do Espiritismo se apoiem em todos os pretextos.
O indicado pareceu-lhes a propósito para despertar temores e suscetibilidades, e dele logo lançaram mão, muito embora não resista ao exame mais superficial.
Ouça, pois, a respeito dessa loucura, o raciocínio de um louco.

Todas as profundas preocupações do Espírito podem ocasionar a loucura.
As ciências, as artes, a própria religião oferecem seu contingente.
A loucura origina-se de um estado patológico do cérebro, instrumento do pensamento.
A loucura é, pois, um efeito consecutivo, cuja causa primária é uma predisposição orgânica, que torna o cérebro mais ou menos acessível a certas impressões: e isso é tão certo, que o senhor encontrará sem dificuldades pessoas que pensam intensamente, sem se tornarem loucas, e outras que perdem o juízo sob o influxo da mais insignificante superexcitação.
Dada a predisposição para a loucura, esta tomará o caráter da preocupação dominante, convertendo-se em ideia fixa.
Esta poderá ser a dos Espíritos, nos que com eles se tenham ocupado, como seria a de Deus, dos anjos, do demónio, da fortuna, do poder, de uma arte, de uma ciência, da maternidade, de um sistema político ou social.
Muito provavelmente, o louco religioso seria espírita, se o Espiritismo fosse a sua preocupação dominante.

É verdade que um periódico publicou que, numa única localidade da América, de cujo nome não me recordo no momento, contaram-se quatro mil casos de loucura espírita.
Nós, entretanto, sabemos que em nossos adversários é uma ideia fixa o crerem-se exclusivamente dotados de razão, e isto não deixa de ser uma mania como outra qualquer.
Na sua opinião, nós todos somos dignos de um manicômio e, conseqüentemente, os quatro mil espíritas da localidade em questão devem ser, logicamente, outros tantos loucos.

Segundo este conceito, os Estados Unidos os contam às centenas de milhares; e em maior número ainda, os restantes países do mundo.
Esse exagero, tem sido pouco empregado ultimamente, porque a discutível loucura conquistou a fina flor da alta sociedade.

Muito barulho se fez com um exemplo muito conhecido, o de Vitor Hennequim.
Esqueceu-se, porém, que antes de se ocupar com os Espíritos, esse cavalheiro já tinha dado provas de excentricidade.
Se as mesas girantes não tivessem aparecido — essas mesmas que, segundo o espirituoso trocadilho de nossos adversários, lhe puseram a cabeça a girar, — a sua loucura teria tomado um outro caráter.

Afirmo, pois, que o Espiritismo não goza de nenhum privilégio nesse sentido; e, ainda mais, digo que, bem compreendido, constitui um preservativo contra a loucura e o suicídio.

Entre as mais numerosas causas de superexcitação cerebral, devem-se contar as decepções, as desgraças, os afetos contrariados, causas essas que são, também, as mais frequentes do suicídio.

Pois muito bem: o verdadeiro espírita vê as coisas deste mundo de um ponto de vista tão superior, que as tribulações são para ele apenas incidentes desagradáveis e de curta duração.
O que abalaria violentamente a muitos, afeta-o mediocremente.
Por outra parte sabe que os desgostos da vida são provas que contribuem para seu adiantamento, se os suportar com resignação, pois que a recompensa virá na proporção da coragem com que forem suportados os reveses.
Esta convicção dá-lhe, pois, a resignação que o preserva do desespero e, conseqüentemente, de uma causa constante de loucura e suicídio.

Por outro lado, as comunicações com os Espíritos, que lhe mostram a sorte deplorável dos que voluntariamente abreviam seus dias, abrem-lhes os olhos.
O quadro é bastante eloquente para fazer refletir.
Por isso é considerável o número dos que, por sua influência, detiveram-se na queda funesta.

Este é um resultado do Espiritismo.

No número das causas determinantes da loucura deve-se também colocar o medo.
O terror pelo diabo já transtornou não poucas mentes.
Sabe-se, porventura, o número de vítimas produzidas por essa figura nas imaginações fracas, que procuram tornar mais hedionda através de horríveis minúcias? Dizem que o demónio só assusta às crianças, e que isto é um freio para as tornar ajuizadas.
Sim, como a bruxa e o papão.
Mas quando se libertam do medo tornam-se piores que antes.
E por aquele magnífico resultado esquece-se o número dos males causados nos cérebros delicados.

Não se deve confundir a loucura patológica com a obsessão.
Esta não procede de quaisquer lesões cerebrais e sim da subjugação exercida por Espíritos maléficos sobre certos indivíduos, e tem, às vezes, aparência de loucura propriamente dita.
Esta afecção, que por sinal é muito frequente, independe da crença no Espiritismo, e existia de todos os tempos.

A medicação orginária é, neste caso, quando não impotente, nociva.
Trazendo à luz esta nova causa de perturbação, o Espiritismo apresentou, também, a única modalidade de cura, agindo não sobre o médium mas sobre o Espírito obsessor.

O Espiritismo é o remédio e não a causa da enfermidade.

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