Mediunidade? Só de graça

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Mediunidade? Só de graça 
Se paga, é enrolação

Pedro Fagundes Azevedo, da Legião Espírita de Porto Alegre

Atualmente estão vivendo em nosso país vários médiuns que, irresponsavelmente, deixaram de lado os compromissos que assumiram quando ainda estavam no plano espiritual, antes de nascerem, e agora fazem deste seu dom um rentável negócio material. Alguns são nomes bem conhecidos, que se prepararam minunciosa e demoradamente para assumir vários tipos de mediunidade quando encarnados, mas infelizmente caíram nas tentações mundanas, atraídos principalmente pelo fama e pelo lucro fácil. Agora encarnados, editam livros, tem programas em rádio/tv e cobram por suas consultas e tratamentos que, obvimente, não têm assistência dos bons espíritos, pois eles não compactuam com esse tipo de negócios. Os espiritos de luz seguem ao pé da letra, a recomendação de Jesus: dá de graça que de graça recebeste (Evangelho de Mateus 10:8) Mediunidade é um dom que se recebe de graça e de graça deve ser praticada. O resto é enrolação que geralmente envolve vários tipos de espíritos atrasados. Esse, aliás, é um erro muito comum na história da humanidade. De certa forma relembra o que foi cometido por Acelino, há cerca de 200 anos, conforme ele mesmo conta no capítulo VIII do livro Os Mensageiros  com narração de André Luiz e psicografia de Chico Xavier.
Recapitulemos, resumidamente, seu testemunho: também parti da colônia espiritual Nosso Lar, após receber valioso patrimônio instrutivo dos nossos assessores. Não faltaram providências para que me felicitassem a saíde do corpo e o equilíbrio da mente. Após formular grandes promessas aos nossos maiores, parti para uma das grandes cidades brasileiras, em serviço de nossa colônia. O casamento estava em meu roteiro de realizações. Ruth, minha devotada companheira, incumbir-se-ia de colaborar comigo para melhor desempenho das tarefas. Cumprida a primeira parte do programa, aos vinte anos de idade fui chamadoà tarefa mediínica, recebendo enorme amparo dos benfeitores invisíveis. Recordo ainda a sincera satisfação dos companheiros do grupo doutrinário. A vidência, a audição e a psicografia, que o Senhor me concedera, por misericórdia, constituíam decisivos fatores de êxito em nossas atividades. A alegria de todos era inexcedível. Entretanto, apesar das lições maravilhosas de amor evangélico, inclinei-me a transformar minhas faculdades em fonte de renda material. Não me dispus a esperar pelos abundantes recursos que o Senhor me enviaria mais tarde, após meus testemunhos no trabalho, e provoquei, eu mesmo, a solução dos problemas lucrativos. Não era meu serviço igual a outros? Não recebiam muitos sacerdotes a remuneração de trabalhos espirituais e religiosos? Se todos pagávamos por serviços ao corpo, que razões haveria para fugir ao pagamento por serviçosà alma? Amigos, inscientes do caráter sagrado da fé, aprovavam-me as conclusões egoísticas. Admitíamos que, no fundo, o trabalho essencial era dos desencarnados, mas também havia colaboração minha, pessoal, como intermediário, pelo que devia ser justa a retribuição. Debalde, movimentaram-se os amigos espirituais aconselhando-me o melhor caminho. Em vão, companheiros encarnados chamavam-me a esclarecimento oportuno. Agarrei-me ao interesse inferior e fixei meu ponto de vista. Ficaria definitivamente por conta dos consulentes. Arbitrei o preço das consultas, com bonificações especiais aos pobres e desvalidos da sorte, e meu consultório encheu-se de gente. Interesse enorme foi despertado entre os que desejavam melhoras físicas e solução de negócios materiais. Grande nímero de famílias abastadas tomou-me por consultor habitual, para todos os problemas da vida. As lições de espiritualidade superior, a confraternização amiga, o serviço redentor do Evangelho e as preleções dos emissários divinos ficaram a distância. Não mais a escola da virtude, do amor fraternal, da edificação superior, e sim a concorrência comercial, as ligações humanas legais ou criminosas, os caprichos apaixonados, os casos de polícia e todo um cortejo de misérias da Humanidade, em suas experiências menos dignas. Transformara-se completamente a paisagem espiritual que me rodeava. À força de mecercar de pessoas criminosas, por questões de ganho sistemático, as baixas correntes mentais dos inquietos clientes encarceraram-me em sombria cadeia psíquica. Cheguei ao crime de zombar do Evangelho de Nosso Senhor Jesus, esquecido de que os negócios delituosos dos homens de consciência viciada contam igualmente com entidades perniciosas, que se interessam por eles nos planos invisíveis. E transformei a mediunidade em fonte de palpites materiais e baixos avisos.
– Mas. a morte chegou, meus amigos, e arrancou-me a fantasia. Desde o instante da grande transição, a ronda escura dos consulentes criminosos, que me haviam precedido no tímulo, rodeou-me a reclamar palpites e orientações de natureza inferior. Queriam notícias de címplices encarnados, de resultados comerciais, de soluções atinentes a ligações clandestinas. Gritei, chorei, implorei, mas estava algemado a eles por sinistros elos mentais, em virtude da imprevidência na defesa do meu próprio patrimônio espiritual. Durante onze anos consecutivos, expiei a falta, entre o remorso e a amargura.
Esse pungente relato de um médium que fracassou na sua missão, nos faz lembrar com insistência a recomendação do Evangelho: dá de graça, o que de graça recebeste . Mediunidade é um dom que Jesus nos concede de graça e de graça deve ser praticado em favor do próximo, pois só assim tem o concurso dos bons. Caso contrário, é enrolação – uma vez que os espíritos de luz se afastam e vem os outros, com graves prejuízos para todos envolvidos.

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