Um espírito que preferiu não se identificar Contribuição de Pedro
Ocupando leito de CTI, a velha senhora sente-se vencida pelos anos que passaram.
Ligada a equipamentos complexos, com fios e tubos envolvendo-a, dá-se conta que a vida física extingue-se, qual chama de uma vela, agora de pequena dimensão.
Recorda-se das experiências da infância, da casa e dos animais.
Lembra-se das brincadeiras simples e divertidas, das primeiras amizades, das comidas cheirosas e dos bolos de fubá, que lhe traziam sorrisos.
Passa em sua mente o filme do primeiro e único namoro, da sua conversão em casamento e dos desafios daqueles tempos, que eram bem diferentes dos atuais.
Depois, a prole que chegou, a criação e os desafios, até que seus cabelos iniciaram a embranquecer, e a beleza da juventude iniciava o ocaso.
Reviu os filhos saindo de casa e montando famílias, os netos que vieram, os beijos e os abraços que se tornavam feliz rotina, acompanhado da gritaria e das bagunças, tão naturais nas crianças.
Recordou a doença que chegara, limitando-a; a perda do companheiro e o rápido processo de envelhecimento que parece não perdoar a ninguém após certo estágio da vida.
Vieram as dores, o diagnóstico, o ir e vir aos hospitais, até que um dia, relembrou, a internação derradeira, a cirurgia inarredável e as complicações decorrentes.
Agora, o leito na unidade intensiva é sua casa.
No silêncio quebrado pelo vai e vem das enfermeiras, na sala com semiobscuridade, nota uma luz estranha que se aproxima e parece transformar-se em pessoa conhecida.
Aos poucos observa o antigo companheiro, liberto da matéria, que lhe sorri, e estendendo os braços lhe diz, na linguagem do pensamento:
-Vem comigo! Teu tempo findou na terra. Uma nova vida te espera.
Ao que o alarme da máquina que a mantinha, soa e provoca correria, mas a vida já havia cumprido seu papel.
Um Amigo Espiritual.
Página psicografada na noite de terça-feira, 17/5/2016, na Sociedade Legião Espírita de Porto Alegre, por Alberto Sampaio.