Desajustes Familiares Após ter sido analisado o casamento, será fácil entender a separação. Casamentos problemáticos caminham céleres para a dissolução.
Todo comportamento humano pode ser examinado pelo binômio essência/aparência. No casamento há o relacionamento real e o que transparece, os quais nem sempre coincidem. Casais aparentemente integrados e felizes podem estar desenvolvendo conflitos enormes, desajustes homéricos. Outros, que deixam transparecer suas divergências, talvez possuam um relacionamento profundo com ligações bastante sólidas. Às vezes somos surpreendidos com anúncios de separação de casais aparentemente perfeitos.
A impressão que se causa (e não a que se quer causar) aos outros tem que ser real. Todo fingimento é desonesto. Manter aparências, demonstrar gentilezas, não divergir em público pode até ser de bom tom social, mas é atitude que seria classificada como hipócrita. É claro, que divergências maiores, tipo briga, devem ser evitadas perante os outros, mas o relacionamento deve ser o mais transparente possível, por uma questão de coerência.
O termômetro do casamento é o carinho. Diminuído o carinho na conversa, no toque, no relacionamento sexual, há o prenúncio de rompimento parcial ou total. O mando, a autoridade, o exclusivismo, a superioridade excluem o carinho. Sua falta pode também ter origem em causas como a desilusão, interferência negativa de terceiros, intranquilidade financeira, doenças e em causas de grave porte como adultério, o comportamento psicótico e o desprezo uni ou bilateral.
A vida conjugal deveria se a soma de ideais e de vontades. Uma constante expectativa de felicidade, aspirações e esperanças repartidas. A união, a composição. Vida a dois como se fossem um. Não é a renúncia e a concessão para manter a união, mas a união amorosa com alguma renúncia e concessão para evitar desajustamentos.
Influências Espirituais Sob este subtítulo devemos lembrar as influências de terceiros na estabilidade do relacionamento e aquelas próprias das almas em convívio, cujo passado espiritual é sempre muito complexo.
No primeiro caso, a influenciação de entidades espirituais, quer sejam amigas ou inimigas, sobre um dos cônjuges ou ambos, é notória. Quando ela é benéfica, tudo bem, há sempre espíritos simpáticos aproximando-se dos lares, com as melhores intenções de manter ou de proporcionar o equilíbrio do relacionamento interpessoal.
No entanto, a influenciação maléfica pode provocar desequilíbrios, tanto maiores quando maior for o grau de aceitação do sugestionamento espiritual.
Em ambos os casos a influenciação recai não apenas sobre o casal, mas em outros familiares que com ele residem, determinando assim o clima ou a psicosfera de todo o lar.
O passado espiritual do casal, na óptica da reencarnação, corresponde a uma influência realmente muito importante na união de hoje. Já foi analisado, no estudo sobre o casamento, que o mesmo não configura mero encontro ou ligação acidental entre pessoas, mas parte de um processo antigo de acúmulo de experiências e amalgamação dos seres, em busca da maturação espiritual. Portanto, a chamada afinidade, a compatibilidade de gênios, a compreensão mútua, podem ser aquisições antigas que são reafirmadas no presente segmento de vida. Por outro lado, o reajuste necessário, com as inúmeras manifestações de desajustes no presente, pode ter suas raízes no passado e deverá se constituir em aquisição nova.
Quando as influências negativas predominam e encontram meio de proliferação, as consequências obsessivas são diversas. Os cônjuges e os demais familiares passam a viver um inferno doméstico que pode levar a qualquer caminho.
Tédio no Lar Os desajustes domésticos são seguidos ou precedidos de explosões emocionais repentinas que abalam a estrutura do lar. Mas há também o desajuste lento e silencioso. Enquanto o primeiro é agudo, o segundo é crônico.
As crises crônicas são muito difíceis de serem superadas. Elas sofrem um processo de sedimentação com o passar do tempo. Iniciam-se sabe-se lá porque e se ampliam às custas de pequeninos fatores desgastantes no dia-a-dia. Progressivamente vão minando as bases do relacionamento. Umas vezes são pequenos defeitos detectados no cônjuge, sem tolerância para aceitá-los, outras vezes são decepções que a vida conjunta reserva a um ou a ambos, sem meios de adaptação a elas.
Com isso vão sendo acumuladas frustrações, queixas, desilusões. Acumuladas, armazenadas e não declaradas. Surge então a mágoa. Um casamento que transpira promessa de felicidade no seu início, pode chegar a embaraçosa situação de desencanto com o passar do tempo. É lógico que para chegar a isto haverá sempre a falta do tempero do amor. Somente o amor provoca a superação de todos os problemas.
A crise crônica é o tédio, o cansaço. Não existe prazer na vida a dois, não há motivações. Cada um continua com suas obrigações formais, com seu sentido de família, até se respeitam, mas não há mais a convivência carinhosa. A vida torna-se insípida e daí desgastante. Quem suporta? Para viver tem que encontrar outras motivações.
O tédio no lar é uma ocorrência muito triste. O reajuste tem que ser providenciado logo antes que o mal se enraíze. O passar do tempo só faz piorar.
Infidelidade conjugal Uma das maiores causas da dissolução dos casamentos é a busca de outro parceiro para o relacionamento sexual. Pode se tratar de uma aventurazinha, uma “amizade colorida”, uma brincadeira, mas é adultério. E adultério é coisa grave. Fere profundamente as regras do respeito e da consideração e magoa até às últimas consequências.
O adultério puro e simples, que é a união temporária inconsequente para a satisfação imediata, revela tendência primeva e degradação moral. Se, entretanto, há um comprometimento emocional do tipo amoroso, a situação muda de figura. Aqui é preciso levar em conta se a situação foi provocada, se o envolvimento foi facilitado ou se o relacionamento era inevitável e ocorreu com naturalidade. De qualquer forma, além dos atenuantes e dos agravantes desse envolvimento oblíquo, há o compromisso moral de se evitar casos constrangedores como tais.
Cabe neste subcapítulo a ponderação de Regis (7): “Se se encontra um novo amor… parece mais moralizante, se houver compromissamento compulsivo, reconstruir a existência em bases de lealdade, do que permanecer no adultério”. O “compulsivo” é o obrigado pelo íntimo apesar de consequências adversas, é o inevitável. Não há como reverter a situação. Então, nessas delicadas ocorrências é preciso avaliar o que menos magoa, o que é mais honesto e decidir com responsabilidade.
Causas atuais e anteriores da separação A grande causa é a falta de amor. Dizem que tudo em excesso faz mal, com exceção do amor. Sem amor não há estabilidade na união. Pode haver durante algum tempo, mas não permanece. Pode haver na aparência, mas não na essência.
Como a sociedade atual já absorveu bem a separação como um fato natural, casar perdeu muito do seu valor de compromisso. Casa-se logo, sem amadurecer a idéia do casamento e seu significado intrínseco. Esta precipitação muitas vezes gera conflitos de relacionamento que culminam com a desunião que, por sua vez, acabou se tornando uma “solução” rápida e simples. Quebra-se compromissos com uma injustificável facilidade! As causas atuais da separação são por demais conhecidas. Mas há também as causas anteriores, muitas vezes inapreensíveis para o ser encarnado, impossíveis para o incrédulo. Para uns são transcendentais porque inexplicadas. Para outros têm a ver com distúrbios psíquicos. Na realidade são fatores fortíssimos ligados a problemas de relacionamentos vividos anteriormente e que agora inspiram vingança, desprezo, ciúme, acusações e outras atitudes menos dignas.
“A Doutrina Espírita esclarece-nos, a respeito dessa seríssima questão que, não raro, espíritos inimizados em encarnações pregressas são ligados pelos laços do matrimônio para que, nesta nova relação, mediante as vicissitudes e as lutas a serem enfrentadas lado a lado, possam vencer o ódio que os separava, reconciliem-se e tornem-se, afinal, bons amigos” (2).
Divórcio O item 5 do capítulo XXII de O Evangelho Segundo o Espiritismo aborda o divórcio com incrível atualidade.
O divórcio é uma prática muito antiga. Ao tempo de Moisés era permitido ao marido repudiar qualquer de suas mulheres (a mulher era propriedade do marido) e lhe passar “carta de divórcio” por qualquer motivo. Já, o Mestre Jesus exigia motivo relevante, como o adultério por exemplo, para que houvesse a dissolução do casamento. Antes, o adultério da mulher era punido com a lapidação e Jesus queria evitar essa calamidade. Assim, na lei criminal, passou a permitir o divórcio em substituição à lapidação.
Tal como Jesus, também achamos que o divórcio pode ser um recurso a ser acionado para se evitar um mal maior. Pode ser uma medida contra o suicídio, homicídio, agressões e outras desgraças. Apesar de não dever ser estimulado ou facilitado, às vezes deve ser usado como recurso (não como solução). Se a Lei faculta, ativar a lei, mas é lei de exceção e não de regra.
Houve época aqui no Brasil em que o divórcio foi tema de acirrada polêmica. Uma verdadeira disputa político-religiosa. De um lado os anti-divorcistas e de outro os pró-divorcistas. Tramitou no Congresso Nacional, cheio de “lobbies”, com ampla discussão, enorme repercussão e finalmente foi aprovado. Depois, regulamentado por lei, foi colocado em prática. Passou a ser fato consumado, sem despertar mais interesse para discussões. No entanto, o seu mérito e as repercussões familiares, precisam continuar a ser enfocadas. Se não em larga escala, pelo menos em grupos pequenos como este interessado em pensar a família.
Considerações finais Como casamento não existe ao acaso, a separação não deve ser facilitada. Ninguém é obrigado a viver com quem não gosta, às vezes é preciso fazê-lo. No casamento se operam burilamentos e reconciliações.
Simonetti é muito enfático quando afirma que o desafio da convivência no casamento é “necessidade evolutiva que lembra antigo recurso para limpeza de pregos quando, por limitações tecnológicas, eles eram produzidos com uma rebarba. Colocados num grande recipiente que ficava girando durante algum tempo, os pregos atritavam-se uns com os outros e perdiam o indesejado apêndice. Alem da eliminação das “rebarbas” produzidas pela nossa própria inferioridade, a vida em família é, também, um ponto de referência que nos ajuda a manter o contato com a realidade. As pessoas que vivem durante muito tempo sozinhas enfrentam problemas neste sentido”.
Do ponto de vista reencarnatório o casamento pede expressar compromisso, reajuste. Neste caso a separação expressará desistência ou abandono. O espírito dispõe da faculdade de interromper, recusar, modificar, adiar o desempenho de compromissos assumidos. Pode não ser o melhor para ele, mas é uma decisão própria que julgou ser conveniente e assim deve ser respeitada.
Voltamos a insistir: a separação não deve ser solução simplista e precipitada. Todo relacionamento exige flexibilidade e tempo para maturar. Entretanto, bem pesado todos os fatores, com reflexão e madureza, pode se tornar um recurso útil e necessário.
Autor : Miguel Carlos Madeira Livro: Família e Espiritismo Autores Diversos, Edições U.S.E. 1.995