OS INCRÉDULOS NÃO PODEM VER PARA SE CONVENCEREM
V.
— Os incrédulos desejam fatos positivos que, na maioria das vezes, não lhes podem ser proporcionados.
Se a todos fosse permitido testemunhar os fenómenos, a dúvida não seria realmente lícita.
Como é que tantas pessoas, apesar da boa vontade que as anima, nada puderam observar?
Opõe-se-lhes, conforme dizem, a falta de fé.
Mas a isto respondem, e com razão, que não é possível ter-se fé antecipada, e que se querem que creiam é mister que lhes sejam dados os meios de crer.
A.
K.
— A razão é simplicíssima.
Desejam submeter os fenómenos às suas ordens e os Espíritos não se sujeitam.
Nós é que temos de esperar a sua boa vontade.
Não basta dizer: apresentem-me tal fato e eu acreditarei.
É preciso que se tenha aquela boa vontade nascida da perseverança; deixar que os fenómenos se produzam espontaneamente, sem pretender forçá-los ou dirigi-los.
Talvez que aquele que se deseja venha a ser exatamente o que se não pode conseguir.
Não obstante, outros apresentar-se-ão, e aquele que é desejado aparecerá quando menos se espera.
Aos olhos do observador atento e assíduo surge uma infinidade de fatos que se corroboram mutuamente.
Mas engana-se redondamente aquele que julga que basta mover a manivela para fazer funcionar a máquina.
Que faz um naturalista que visa estudar os costumes de um animal? Exige porventura que faça isto ou aquilo para ter a comodidade de o observar à vontade? Não; pois sabe muito bem que não será obedecido.
Espreita as manifestações espontâneas do seu instinto.
Espera e colhe-as de passagem.
O simples bom senso demonstra que, com mais forte razão, deve-se fazer o mesmo com os Espíritos, que são inteligências distintas e muito mais independentes que a dos animais.
É erro supor que se exige fé.
Mas a boa fé é outra coisa.
Há céticos que negam a própria evidência.
A estes os prodígios não convenceriam.
Quantos há que, depois de os terem visto pretendem explicar os fenómenos à sua maneira, alegando que nada provam?
Sem lograr quaisquer resultados para si, essa gente serve apenas para perturbar as reuniões.
Por isso não perdemos tempo: afastamo-la.
Existe também um outro grupo, formado pêlos que se sentiriam terrivelmente contrariados se se vissem obrigados a crer na evidência dos fatos, pois seu amor próprio sentir-se-ia ofendido, se tivessem de confessar o que antes negaram.
E o que dizer das pessoas que vêem em tudo ilusão e charla-tanismo? Nada! Preciso é que as deixemos tranquilas; permitir que digam, sempre que quiserem, que nada comprovaram, que nada se pode ou se lhes quis mostrar.
Ao lado desses céticos endurecidos encontram-se os que desejam ver à sua maneira e que, tendo opinião formada, desejam tudo ver por esse prisma.
Não compreendem que certos fenómenos possam deixar de correr à risca e não sabem ou não querem passar às condições indispensáveis.
Quem deseja observar de boa fé não deve crer no que lhe dizem, mas despojar-se de toda ideia preconcebida e desistir de comparar coisas incompatíveis.
Deve esperar, persistir e observar, com inesgotável paciência.
Esta condição é também favorável nos adeptos, pois vem provar que suas convicções não se formaram levianamente.
O senhor tem uma paciência assim?
V.
— Não.
Não tenho tempo para isso.
A.
K.
— Pois então não se ocupe com este assunto, nem fale dele: afinal de contas ninguém o obriga a isso.