Eles sempre guardavam aqueles momentos finais do banho dela para uma brincadeira especial.
Chamavam aqueles instantes de hora de relaxar.
Ele propunha a ela, uma menina bastante agitada, que fechasse os olhos por alguns instantes, e apenas sentisse a água morna caindo sobre a cabeça, sobre os ombros, e curtisse aqueles breves segundos.
O pai também fechava os olhos e, por cerca de um minuto, ficavam ambos, em pleno silêncio.
Com o tempo, ele pensou em elaborar um pouco mais a experiência e foi propondo algumas outras reflexões:
Filha, tente não pensar em nada, sinta apenas a água caindo quentinha sobre os seus ombros e perceba como é gostoso.
Agora, imagine, na sua cabecinha, um lugar bem bonito onde você queria estar, que te deixe bem feliz.
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Nesse instante, o pai, que observava com encanto a dedicação da menina, apenas de rabo de olho, percebeu nela uma expressão de admiração, de estranhamento, que a fez abrir um dos olhinhos.
O que foi filha? Pensou num lugar?
Ao que ela respondeu com a naturalidade e a pureza que só as crianças conseguem ter:
Sim, pai, pensei.
Onde? Quis saber o pai curioso.
Ora, aqui mesmo!
Foi então que o pai entendeu a bela lição.
Não havia para ela, naquele instante, lugar melhor do que aquele.
Ela estava vivendo intensamente o instante, o agora.
* * *
Quando crianças, quase sempre estamos de corpo e alma no lugar, na atividade em que nos envolvemos.
Não estamos divididos.
É quando chegamos na idade adulta que perdemos esse foco.
Fazemos alguma coisa com a alma em outra, realizamos uma tarefa sem estar completamente presente nela.
É muito curioso, mas é como se vivêssemos fugindo da realidade, insatisfeitos com o que a vida nos apresenta, correndo atrás de nós mesmos, do tempo, de um amanhã que nunca chega.
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Acordamos às sete horas pensando quando chegará as dezoito; chegamos na segunda-feira pensando na sexta; vivemos o domingo sonhando com o próximo feriado; trabalhamos com a mente na aposentadoria.
Nunca estamos onde estamos.
Sem perceber, essas condutas têm nos trazido problemas graves de ansiedade, de irritação e de pensamentos pessimistas.
Viver intensamente o agora é a chave da construção da nossa felicidade na Terra.
Fazer bem, tudo na vida, com ânimo, com alma, assegura a saúde do corpo e da mente.
É certo que nem sempre estamos fazendo algo que gostamos.
Nem sempre estamos em situações agradáveis, e a tendência a querer fugir é grande.
No entanto, pensemos como soldados numa batalha, soldados com uma missão, e a cumpramos com louvor para que o quanto antes possamos voltar para casa, para que o quanto antes a guerra termine.
Façamos tudo com capricho, com esmero e com presença de espírito.
Quando nos momentos difíceis, retiremos todas as lições de aprimoramento possíveis.
Assumamos a postura do aluno atento na sala de aula.
Quando nos instantes de júbilo, de paz, permitamo-nos aproveitar, permitamo-nos viver, sem culpa, sem estarmos assombrados com ideias como você não merece; você não pode.
Estamos onde precisamos estar.
Façamos de cada momento o melhor possível.
Redação do Momento Espírita
Em 3.
12.
2021.