Houve um tempo, em nossas vidas, em que engatinhávamos.
E, dessa forma, explorávamos o local onde nos encontrávamos.
Mas o que desejávamos mesmo era poder ver, acima de nós, as riquezas que havia sobre as mesas, na pia da cozinha, no aparador.
O que eram aqueles objetos brilhantes que ficavam em frente a alguma coisa em que, sempre, antes de sair, nossa mãe se sentava, para pentear os cabelos, embelezar ainda mais o seu rosto lindo?
Então, um dia, resolvemos alçar o braço, buscar algo em que nos pudéssemos apoiar e nos erguemos.
Eretos, sobre os dois pés.
Uma vitória, saudada por nossos pais com fotos, palmas, muitos sorrisos.
E incentivos a dar o primeiro passo, o segundo, em direção a eles que mantinham os braços abertos, aguardando-nos.
Quantas quedas.
E a cada uma, o estímulo renovado: Vamos de novo! E de novo.
Andando, ninguém mais nos deteve.
Aprendemos a galgar escadas, subir em árvores, escalar muros, nos equilibrarmos no meio-fio das calçadas.
E até na corda bamba do mundo.
Andando, exploramos o mundo.
Mais próximo, um pouco mais além.
Até que colocamos uma mochila às costas e nos aventuramos em trilhas e escaladas distantes.
Tudo acompanhado e saudado pelos que nos amam.
Rolaram os tempos.
E muitos chegamos à adiantada idade, com certas dificuldades para nos locomover.
O levantar da cama, do sofá, da cadeira, tudo exige um esforço, um apoio a fim de conseguir o intento.
Infelizmente, nem todos temos ao nosso lado aqueles que nos incentivem, que vibrem e festejem cada uma dessas pequenas vitórias.
E como seria importante que isso fosse festejado, comemorado.
O esforço da velhice tem semelhanças com o da infância.
Antes era o tentar descobrir a força dos braços, das pernas, a possibilidade de se locomover de um lado a outro, conforme sua vontade.
No hoje, a igual vontade de ser livre, de se erguer, ereto, e ensaiar alguns passos, mesmo que seja com o apoio de uma bengala, um andador, ou um braço amigo.
Lembremos disso quando olharmos para nossos idosos.
Por vezes, os deixamos por longos períodos sentados porque a dificuldade que apresentam é muito grande.
Isso nos parece mais cômodo: deixá-los onde estão.
No entanto, usemos de empatia, pensemos em como nós gostaríamos de ser tratados, se chegarmos na longeva data que eles apresentam.
Como seria bom que alguém nos tomasse pelo braço e convidasse para um passeio.
Mesmo que seja de dez passos, da cama à janela.
Como seria energizante andar até a porta, até o portão, olhar para a rua, descobrir que o jardim está florido.
Ver a roseira que plantou balançando rosas vermelhas no galho afoito.
Se há primavera em nossos corações jovens, deixemos brotar flores nos corações dos que nos ensinaram a andar, nos carregaram nos braços, estiveram conosco em cada queda da bicicleta, em cada ralar dos joelhos no futebol.
Há sol na manhã.
Acendamos sol na alma dos nossos idosos.
Enquanto a brisa dos encantos nos despenteia a cabeleira da juventude, acariciemos a neve dos nossos velhos, estendamos os braços e andemos juntos.
Redação do Momento Espírita
Em 8.
5.
2024.