A alma perdida – Redação do Momento Espírita 3.33/5 (3)

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Uma história fala de um homem que trabalhava sem descanso, sempre com pressa.

A vida seguia.
Ele dormia, comia, jogava tênis, trabalhava.
Mas não via graça em nada.

Ele tinha a impressão de que tudo à sua volta ficara plano, sem encanto algum, como se ele se movimentasse numa folha quadriculada e vazia de um caderno de matemática, coberta por quadradinhos iguais e onipresentes.

Um dia, depois de uma viagem, quando ele mal podia respirar dentro de mais um quarto de hotel, já não sabia onde estava, o que fazia ali e nem qual era o seu nome.

Era como se não houvesse mais ninguém dentro do seu corpo.
.
.

Procurou uma médica, que lhe foi indicada.
Tratava-se de mulher idosa e sábia daquela região.

Depois de examiná-lo e ouvir as suas queixas, ela lhe disse algo que mudaria toda a sua vida:

Se alguém pudesse nos olhar do alto, veria que o mundo está repleto de pessoas que andam apressadas, suadas e exaustas.

Também veria suas almas, atrasadas e perdidas no caminho por não conseguirem acompanhar seus donos.

Isso cria uma grande confusão.
As almas perdem a cabeça e as pessoas deixam de ter coração.

As almas sabem que ficaram sem seus donos, mas as pessoas muitas vezes nem sequer percebem que perderam a própria alma.

Como é possível? Será que eu também perdi minha alma? Perguntou ele.

A ponderada médica respondeu:

Isso acontece porque a velocidade com que as almas se movimentam é muito menor do que a dos corpos.

Escute.
Você precisa achar um lugar só para si, sentar-se e aguardar com paciência a sua alma.
Não vejo outro remédio.

O homem estava em estado de choque.

Saiu do consultório, alugou uma casinha pequena nos arredores da cidade e, todos os dias, passou a se sentar numa cadeira, esperando.

Simplesmente esperando.

Passaram-se dias, meses e muitas coisas começaram a surgir em sua mente.
Lembranças de como sua vida era antigamente, lembranças da infância, quando tudo era mais simples.

Barba e cabelo cresceram.

Um lugar só para si.

Foi então que, numa tarde, alguém bateu à porta.
E quando ele a abriu, viu na soleira a sua alma perdida.
Estava cansada, suja e arranhada.

Finalmente! – Disse ela, sem fôlego.

Ele observou que ela tinha as mesmas feições dele quando menino.

Desde esse dia, tudo passou a ser diferente.

O homem começou a prestar muita atenção para não fazer nada numa velocidade que sua alma não pudesse acompanhar.

Enterrou no quintal todos os seus relógios e suas malas de viagem.

Dos relógios, nasceram belas flores coloridas.
E das malas, brotaram grandes abóboras com as quais ele se alimentou durante todos os invernos tranquilos que se seguiram.

* * *

Esta história se chama A alma perdida.
É da escritora polonesa Olga Tokarczuk, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de 2019 e leva-nos a refletir:

Quantas vezes nos perdemos de nossa alma? Quantas vezes nos perdemos de nós mesmos?

Precisamos muito desse lugar só para nós, o lugar do autodescobrimento.
Não sendo assim, a vida perde o sentido.

Pensemos nisso!

Redação do Momento Espírita, com base na obra

A alma perdida, de Olga Tokarczuk, ed.
Todavia.

Em 7.
5.
2024

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