Manuel Porteiro

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Escrito por Leile Caccacci

Manuel

Manuel Porteiro

O fundador da sociologia espírita

A figura de Manuel S. Porteiro marca toda uma etapa dentro do movimento espírita argentino e hispano-americano.

Alma sensível e pura, Porteiro representa, pelas qualidades morais que formaram sua personalidade, por sua ampla formação cultural, pelo valor e vigor com que assumiu sua militância nas fileiras espíritas, chegando ao extremo do sacrifício físico no cumprimento de suas tarefas idealistas, esse arquétipo do Homem Novo que o Espiritismo logra produzir quando é compreendido e vivido plenamente.

Inspirado em Kardec e atendendoàs exigências de renovação que o progresso impõe, ofereceuà doutrina espírita um arsenal científico e filosóficoà altura dos tempos que viveu, mediante numerosos trabalhos escritos em jornais, revistas espíritas e conferências magistrais, assim como nos seus três magníficos livros que deixou para a posteridade: Espiritismo Dialéctico, Concepto Espírita de la Sociología e Origen de las Ideas Morales.

Desenvolveu a doutrina kardecista em suas naturais consequências sociais, com tal maestria, que podemos indicá-lo sem vacilações como o pioneiro do Espiritismo Sociológico do qual ainda hoje continua sendo seu mais alto representante.

O mérito de aplicar com o maior rigor a concepção dialéticaà Doutrina Espírita coube portanto a Porteiro, onde desenvolveu os fundamentos científicos da cosmovisão espírita, o conceito dinamogenético da vida e da história, afirmando a evolução biológica e espiritual do homem e das espécies, comprovando a continuidade biopsíquica dentro do processo de reencarnação e descortinando a relação entre determinismo histórico e a lei de causalidade espírita.

Porteiro provou em sua obra que somente a concepção reencarnacionista da vida é plenamente dialética e que a afirmação de Kardec: Nascer, morrer, renascer e progredir sempre. Essa é a lei é a mais genuína expressão da equação dialética, posto que a Tese (nascimento) se opõe a sua Antítese (morte) e somente se resolve e adquire sentido pela Síntese do Renascimento ou Reencarnação.

Assim faz-nos compreender que a dinâmica das mudanças presente em toda a realidade se impulsiona na luta dos contrários dentro da conhecida fórmula de uma Tese que se contrapõe a uma Antítese resolvendo-se em uma Síntese superior.

Apoiando-se na Lei de Causalidade espírita, Porteiro relacionou o Ser espiritual com o Ser biológico e o Ser social dando a importância precisa que cada uma dessas dimensões possui. Superando o formalismo de um espiritismo rotineiro e místico o espírito dialético de Porteiro mostrou entre corpo e espírito, entre o homem e a vida uma relação ampla, dinâmica e aberta.

Desenvolveu sua tese sobre uma visão na qual o homem é testemunha e protagonista de um drama cósmico que o situa transitoriamente em determinada escala do Universo. O homem humaniza a natureza e espiritualiza a vida ao humanizar-se e espiritualizar-se a si mesmo.

 

Justiça e igualdade

A preocupação em edificar uma sociedade nova, onde imperasse a justiça a igualdade e a fraternidade, portanto favorável ao Espiritismo sociológico teve em Porteiro seu mais entusiasta propulsor.

Era sua preocupação permanente alcançar dentro do movimento espírita uma consciência clara da doutrina para que os homens conquistassem um nível ideológico elevado, considerando o Espiritismo como doutrina total, teoria do conhecimento, teoria da evolução, guia para a reforma moral, metodologia para a ação e doutrina social.

 

Ideal democrático

Porteiro atingiu em seu tempo a mais alta elaboração racional dos conceitos espíritas, ao conseguir, respaldado na obra magistral de Kardec, um renascimento da filosofia espírita, com seu pensamento analítico, crítico, unificador, demonstrando que é possível um quadro total do mundo onde o espiritual, o corporal, o individual, o social e o cósmico não se oponham mas que estejam integrados em uma totalidade, cada um com seu caráter específico.

Sua admiração pelo sistematizador da doutrina espírita fica patente em toda sua obra de condutor e ativo militante espírita. Recomendava insistentemente a leitura, análise, compreensão e assimilação dos livros básicos da codificação, a todos que aspirassem inicar em suas fontes mais puras e legítimas como bem sustenta o conhecimento espírita.

Muito temos que aprender com os claros ensinamentos de Manuel Porteiro, principalmente quando ele faz uma formidável críticaàs diversas formas ideológicas de alienação, e afasta as noções equivocadas de pagamento de dívidas ou expiações, que considerava transplantadas das religiões infiltradas sutilmente no corpo doutrinário do Espiritismo, que preferem explicar as desigualdades humanas e as injustiças sociais, como produto normal e natural do carma, pretendendo que todos os males e sofrimentos do presente, tenham sua origem em alguma vida anterior, esquecendo que cada vida, além de ser reflexo das precedentes, tem seu próprio dinamismo e é fonte de novas situações, vivências e acontecimentos.

Em seu escritos e conferências conjugava espiritismo com socialismo e longe de encontrar antagonismo entre ambos os sentia absolutamente unidos. Sua visão era como de Léon Denis o de um socialismo democrático, plural, igualitário, fraterno e espiritualista destinado a unificar homens, povos e nações, ultrapassando as fronteiras geográficas, tanto quanto as raciais, culturais ou religiosas, mediante a elevação da consciência moral dos espíritos encarnados e desencarnados.

Utopia para muitos, um grande desafio para outros. Mas um maravilhoso ideal que revela a grandiosidade de sua alma sonhadora.

 

Um modelo vivo

Precisamente agora, já concluído o século XX, quando assistimos o estrepitoso fracasso de sociedades socialistas repressivas de base materialista, é que se pode comprovar e valorizar ainda mais sua visão social, democrática e espiritual.

Quanto mais lemos, relemos e desfrutamos dos escritos desse dedicado espírito vamos nos certificando da urgente necessidade que têm as novas gerações de estudar e desfrutar do pensamento porteiriano, que segue vivo e atual, mesmo passados 50 anos.

 

Publicado na Revista Cristã de Espiritismo, edição 04.

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