Vianna de Carvalho
Eutanásia, nunca!
Seja qual for a razão pela qual se pretenda interromper uma vida humana, justificativa alguma será aceitável na área da eutanásia.
Por mais longa e dolorosa a enfermidade, ninguém se pode arrogar o direito de, em nome da piedade fraternal, aplicar a terapia do repouso sem retorno.
Mesmo que o paciente, parecendo exausto de sofrer, solicite e autorize a medida extrema, nunca será direita a aplicação do recurso último.
Apesar de esperança alguma restar para a recuperação do enfermo no largo trânsito de uma vida vegetativa, irreversível, diante de uma família desgastada pelas longas vigílias, não se faz moral a usança da técnica de encerramento da vida…
A eutanásia é crime que um dia desaparecerá da Terra, quando a sociedade crescer em valores morais fundamentados nas realidades do Espírito.
Somente uma cultura primitiva, porque bárbara ou semibárbara, aplica os recursos da interrupção da vida, exatamente por desconhecer os comportamentos morais relevantes.
Também medram tais atitudes em homens de formação deficiente, estribados nos extremos do materialismo, que no corpo apenas encontra a legitimidade da vida.
Ignorando ou teimosamente negando a realidade espiritual, pensa que na cessação das expressões fisiológicas se encerra o ciclo da existência humana, se apaga a claridade da inteligência, somente por causa da fragilidade e pouca duração dos implementos que constituem a maquinaria física.
Enfermidades que antes constituíam calamidades; distúrbios orgânicos e psíquicos, que no passado se revelavam irrecuperáveis, problemas de saúde, que antes eram verdadeiras desgraças coletivas e individuais; epidemias que varriam a Terra, periodicamente; males mutiladores e dolorosos que se instalavam em milhões de criaturas; desequilíbrios orgânicos e mentais que assolavam, cruéis, constituem, hoje, lembranças do processo de evolução das Ciências Biológicas e Médicas, que conseguiram apagá-los das páginas da História Contemporânea, constituindo capítulo arquivado na literatura da Medicina…
A cirurgia abriu portais dantes jamais ultrapassados; a terapêutica preventiva e as medidas sanitaristas, o tratamento especializado com recursos de alta sofisticação, as técnicas imunológicas vêm ganhando muito espaço nas “terras de ninguém”, no que diz respeito às doenças lamentáveis.
Outros recursos sociológicos, educacionais, econômicos aumentam, com as valiosas contribuições da Medicina para alongar a estância carnal, quanto à duração da vida humana na Terra…
É certo que ainda faltam muitas realizações a serem ganhas.
Descobrem-se novas enfermidades, porque a diagnose imperfeita do passado as encaixava em quadros outros que não correspondiam à realidade.
Aí estão, assustadoras, ceifando vidas, com outras designações.
Sem embargo, a batalha está travada com cientistas e pesquisadores que encanecem e sacrificam as horas nos laboratórios e gabinetes de estudos, esforçando-se por vencê-las, o que lograrão, sem dúvida, hoje, ou mais tarde, quando o homem já não necessitar de evoluir sob o látego da pedagogia do sofrimento, como ocorre nestes dias…
As enfermidades são resultado do estágio primevo da evolução em que a Terra se encontra.
Por isso, realizam o seu mister invitando a criatura ao estudo da fragilidade carnal, de modo a entender e respeitar-se como ser espiritual que é, em aprendizagem temporária na escolaridade terrena.
Cada instante de vida de um paciente é-lhe valioso, porque lhe pode constituir chamamento para despertar os sentimentos mais elevados, dando-se conta dos objetivos essenciais da existência.
Outrossim, os sucessos felizes ou inditosos que têm curso nas vidas são efeito inevitável dos atos pretéritos realizados nas reencarnações passadas.
Este homem, hibernado, numa tremenda alienação mental, é antigo déspota que se utilizou da vida para infelicitar e afligir, ora expiando em injunção educativa os delitos perpetrados…
Esse padecente, em torpe imobilidade, com os centros mentais e motores lesados, é anterior suicida que pensou burlar a Lei, evadindo-se dos compromissos que assumira e que não quis sofrer…
Aquele, portador de cruel neoplasia maligna com metástase generalizada, em extremos de desespero, é o alucinado destruidor de vidas, que culminou a existência antiga em autocídio espetacular, e que ora resgata, repassando pelos caminhos antes percorridos com a insânia do orgulho e da prepotência…
Todos eles, ressalvadas algumas exceções de abnegados missionários que se entregam à dor para ensinar aos seus coevos como superá-la, os que experimentam largos desgastes na saúde estão em justo mecanismo reparador de que, resignados e humildes, se liberarão, demandando à paz e à felicidade que todos alcançaremos.
Ninguém está condenado irremissivelmente, que não usufrua as bênçãos da harmonia, quando regularizado o compromisso no qual falhou.
É de alta importância a libertação pela dor ou através do sacrifício do bem que se pode produzir, do amor.
Não cabe, portanto, a ninguém, o direito de fazer cessar o processo do sofrimento por meio da eutanásia, mesmo porque a morte do corpo não anula o fenômeno da necessidade específica de cada um, nos múltiplos estágios do crescimento espiritual.
A morte apenas destrói o corpo, sem modificar a estrutura da vida.
Aqueles que pensam driblar a Justiça Divina, fugindo ou sendo expulsos da matéria, despertam, no Além-túmulo, mais sofridos e alienados, retornando à Terra para darem curso à reabilitação em corpos iguais ou menos aparelhados do que aquele de que se supunham liberar…
A vida – na matéria ou fora dela – é indestrutível, já que o Espírito transita pelo corpo ou sem ele, sem entrar ou sair da realidade intrínseca onde se encontra colocado no Universo.
Amar e atender aos pacientes com carinho, envolvendo-os em vibrações de paz, orando por eles, aplicando-lhes recursos magnéticos de que todos dispõem são as atitudes corretas que a consciência cristã e espírita deve aplicar em quaisquer situações em que se encontre, na condição de familial ou facultativo, de amigo ou de companheiro, na enfermagem ou no serviço social…
Eutanásia, nunca!
Vianna de Carvalho
(Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, em 15/12/1980, no Centro Espírita “Caminho da Redenção”, em Salvador, Bahia.) Fonte: Reformador de dezembro de 1990, p. 29(377)-30(378).