Obsessão na Mediunidade – Odilon Fernandes 5/5 (2)

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Aqui estamos no aproveitamento do tempo que nos é disponível nesta reunião de intercâmbio entre as Duas Dimensões da Vida – Dimensões que se integram, que se desdobram e que não sofrem solução de continuidade, porquanto entre o Mundo Espiritual e o Mundo Físico existe uma porta constantemente aberta, por onde os espíritos encarnados tornam á pátria de origem e os espíritos libertos da matéria regressam ao antigo cenário de suas lutas.

Ainda há pouco, meditávamos acerca da mediunidade e dos ensinamentos maravilhosos que a Doutrina Espírita nos enseja em sua compreensão, pois, para o médium compreender a mediunidade, significa compreender a si mesmo, compreender o enigma que não deixa de ser o próprio espírito.

Quais são os caminhos do espírito na eternidade? Quais terão sido os seus passos na noite incomensurável dos tempos? Nem nós mesmos, já libertos do corpo, temos consciência de nossas múltiplas peregrinações no passado…

Estamos vindo de muito longe, dos tempos primitivos, nos arrastando lentamente e lentamente abrindo os olhos para a luz da Verdade.

Conosco trazemos conquistas efetuadas, poucas, assim como trazemos débitos contraídos, muitos. Dentro de nós, a presença da luz e a presença da sombra… Certamente já nos comprometemos das mais variadas formas diante da Lei do Carma; teremos ofendido agredido, magoado as pessoas, teremos atentado contra o equilíbrio que Deus estabelece na harmonia da Criação… Devemos, com certeza, ter igualmente semeado flores; não apenas espinhos: flores também… Algumas almas distantes ou perto de nós nos são gratas, porque, em algum momento, lhe teremos prestado um favor ou lhes sido úteis.

Estamos efetuando estas reflexões, porque, no exercício da mediunidade com Jesus, reparamos que a mediunidade em nós coexiste com a prova. Quase todos os medianeiros que conhecemos no mundo atravessam provas acerbas; quase todos os sensitivos, por mais significativa a tarefa que estejam desempenhando, carregam dentro de si difíceis reminiscências do pretérito, traumas, frustrações e, ousaríamos dizer num esforço de raciocínio, que, muitos dos nossos companheiros médiuns, a mediunidade é uma flor que está desabrochando no espinheiro da obsessão…

Sim, porquanto em quase todo médium a obsessão antecede a mediunidade e, mais, em quase todo medianeiro a obsessão coexista com a mediunidade ou, ainda melhor nos expressando, a faculdade mediúnica convive com o processo obsessivo.

Por este motivo é que reparamos certas alternâncias de comportamento neste ou naquele sensitivo. Em alguns momentos, nele prevalece a mediunidade – a mediunidade genuína sob as bênçãos do conhecimento espírita; em outros momentos, impera nele a obsessão; é aquele vínculo sutil com o seu próprio carma e com aqueles comparsas de outras épocas, encarnados e desencarnados, que não se lhe distanciaram tanto assim no espaço e no tempo.

Esses parceiros do mal logram vez por quando o médium fraqueja na vigilância, uma maior aproximação de sua cidadela psíquica. E, então, quando o médium se perturba, momentaneamente, se sente assaltado pela dúvida; momentaneamente, pensa em desertar do campo de serviços espirituais; e, momentaneamente, se entrega a certos desregramentos de ordem moral.

Neste sentido, necessitamos, sob a óptica da nossa análise do problema, compreender o médium na condição de um espírito enfermo. Senão, vejamos alguns exemplos: médicos de grande conhecimento científico e de grande saber não conseguem o exercício profissional da Medicina, porque são dados ao vício do alcoolismo; causídicos que, de fato, detêm o conhecimento das leis e que as sabem interpretar não logram advogar com eficiência, andam pelas ruas atormentados, como se carregassem dentro de si indefinível conflito, inteligências brilhantes, teóricos primorosos, mas que se sentem impotentes no trabalho prático da ciência do Direito; cantores de excelente timbre de voz e que, no entanto, não conseguem gravar, não se apresentam nos palcos e não alcançam a popularidade, porque não conseguem se desembaraçar dos liames que os prendem aos compromissos cármicos do passado…

Meditemos que o espírito sobre a Terra ainda carrega dentro de si muito mais noite do que dia, e o médium não escapa a esta condição à qual estamos nos referindo; daí o imperativo da vigilância constante, do estudo na ampliação de seus conhecimentos para que ele se fortaleça contra esses assaltos periódicos da tentação, essas crises que experimenta, onde estiver, seja em casa ou no ambiente profissional, seja, ainda, no pleno exercício da faculdade mediúnica em si.

Os nossos companheiros certamente saberão a que estamos nos referindo, porque detectamos em muitos deles a luta sem tréguas para sustentar o pensamento elevado e para manter o padrão vibratório. Testemunhamos em muitos dos nossos irmãos médiuns esse esforço para que não se entreguem, durante a tarefa mediúnica, a divagações doentias e a idéias enfermiças, que acabam por lhes exaurir as forças, tanto físicas quanto psíquicas.

Não podemos exigir de nenhum irmão da mediunidade mais do que ele se disponha a nos oferecer, no entanto, na condição de médiuns, todos carecemos exigir de nós mesmos uma melhor postura, uma mais decidida e determinada atitude no bem.

Quando Jesus nos recomendou a oração e a vigilância, ele estava nos alertando no sentido de que permanecêssemos do ponto de vista espiritual, em permanente estado de alerta.

Precisamos estar de guarda, vigiando os próprios impulsos, lutando contra essa facilidade que temos para assimilar o pensamento negativo e não permitir que esse clichê mental se instale, ganhe vida e se aposse de nós.

São muitos os companheiros médiuns que, sem perceberem, durante a reunião toda, permanecem em estado de transe imanifesto, quer dizer; permanecem mediunizados pelos espíritos que com eles se afinizam, num processo de vampirização recíproca, alimentando-se mutuamente com pensamentos infelizes, quadros doentios, sentimentos que precisam ser rechaçados…

Quando a reunião termina, o médium diz assim: “Hoje eu não trabalhei; hoje eu não consegui cair em transe; hoje eu tive dificuldade na concentração…” Não é verdade. Nenhum médium fica sem entrar em transe, nenhum médium deixa de se entregar à sintonia: quando nós não estamos a serviço do bem, cedendo a nossa instrumentação mediúnica, na passividade desejada, aos espíritos que anseiam se expressar pela palavra ou então possibilitando a comunicação com dos Espíritos Mensageiros que, em nome do Senhor, nos esclarecem e nos orientam vindos do Mais Alto, estamos, sem perceber, em contato espiritual com as entidades que podem ou não estar no ambiente; não falam e não permitem que o transe se exteriorize, porque não desejam ser doutrinada, esclarecidas; não se expressam através do corpo do médium porque não querem ser contidas e, às vezes, essas entidades estão lá fora, além dos portões da instituição, mas existe como que um fio umbilical unindo o cérebro psíquico do desencarnado ao psiquismo do medianeiro…

Não desejando nos alongar, que todos os companheiros da mediunidade não se esqueçam de que, ao lado da faculdade que possuem, pode estar presente, de uma forma ou de outra, a obsessão. O trabalho é nossa oportunidade de cura, a nossa oportunidade de equilíbrio e de quitação dos débitos adquiridos. Necessitamos, pois, lutar para que tenhamos menos obsessão na mediunidade e, consequentemente, mais mediunidade na obsessão.

MÉDIUM: Carlos A. Baccelli.

ESPÍRITO: Odilon Fernandes.

LIVRO: Falando de Mediunidade cap. 19

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