Não têm sido raros, nos caminhos da Humanidade, os estremecimentos e desajustamentos de diversas ordens, entre cônjuges, na estrutura doméstica, sob as mais variadas justificativas.
Alega-se isso ou aquilo, de modo a que um inculpe o outro, enquanto o outro luta por exculpar-se com suas alegações.
Levantam-se problemas recentes ou dramas antigos que, então, vêm à tona, na tormentosa experiência do lar.
Alguns asseveram que o “amor acabou”, e que, por isso, não há porque continuarem juntos.
Muitos observam deficiências naqueles que não se mostram atenciosos, porque, então, seguem com suas carências desatendidas.
Fala-se de traição, de tédio doméstico, de falta de diálogo, de novos interesses, de necessidade moderna de mudar-se, de enfermidades físicas ou morais, todas essas coisas são motivos que, segundo se crê, impedem o prosseguimento da vida dos casais.
Na realização dos esponsais, verificamos o quanto de despreparo toma conta dos candidatos à vida-a dois, determinando desencontros e infortúnios para o futuro casal.
Admite-se nas sociedades pouco reflexivas que, quando os seres se ligam pelo casamento, devem perder a individualidade anular-se.
Os que casam-se, unem-se e não se fundem, o que determina que cada qual prosseguirá com suas conquistas e gostos, preferências e realidades íntimas, inteiramente “sui generis”.
Assim, é fácil verificar que numa conjunção espontaneamente aceita, como deve ser o casamento, cada um deverá respeito ao outro sem que haja qualquer privilégio por parte desse ou daquele parceiro, no tocante às responsabilidades comuns.
A força com que irrompem ciúmes, desconfianças, repulsas, desejos de loucura ou viciações nefastas, demonstra-se o ressumar de experiências do pretérito reencarnatório ou sérios quadros obsessivos que determinam o reencontro das almas implicadas nos processos de ajustes, com vistas ao reequilíbrio de ambos.
Muitos assinalam que não poderão continuar unidos no lar, considerando como provacional ou expiatória a sua desventurada ligação. Entretanto, é exatamente em virtude das necessidades dos testemunhos no âmbito restrito da família, que cada membro deverá penetrar-se de coragem e firmeza, disposição e fé, para levar a bom termo as suas lutas.
O orgulho, ferido em sua intimidade inferior, impede que o casal se entenda, como se faz necessário.
A não aceitação dos direitos do outro, a desatenção aos deveres recíprocos, têm sido fortes fatores de desvinculação perturbadora na vida do lar. É necessário todo um ajustamento educacional para modificar a situação.
É preciso exercitar a nobreza da humildade, que não será dizer “sim” a qualquer coisa, nem será dizer “não”, irrefletidamente. Tudo estará dirigido pelo bom senso, pela lucidez, pela sensatez com que o matrimônio se fortalecerá, para a definitiva vitória sobre as insuficiências do mundo.
É necessário e importante que, sabedores das responsabilidades em que se matricula o casal do consórcio esponsalício, não menoscabemos as oportunidades felizes do tálamo doméstico, insistindo na eficácia de uma segura educação na vida dos cônjuges.
É certo que, sendo individualidades distintas, deparar-nos-emos com idéias diferentes, até mesmo opostas, o que de modo algum justificará a deserção dos compromissos com o lar.
A conjugação de esforços para o entendimento mútuo, pelas renúncias importantes e úteis ao bem-estar geral, não deve ser relaxada. Os empenhos por deixar livre a alma do outro ser, que comunga os mesmos anseios ou os diferentes, permitirão maior compreensão no lar.
O ato de orar a sós ou em conjunto, que se converte numa necessidade, fará o lar penetrado por blandícias e bálsamos dos Céus, auxiliando a família a marchar adiante para a paz.
A interação do casal que segue sob o pálio do amor, do respeito recíproco, do trabalho frutuoso, terá que ser das melhores, uma vez que ela conduz cada um de per si, ou o conjunto familiar, para as romagens de alegria pelas quais se anela.
O mundo, com todos os seus multíplices dramas e conflitos, não pode suportar, sem grandes prejuízos em sua dinâmica, o contingente sempre crescente das desvinculações conjugais.
Daí, para o cristão legítimo, o pensamento de separação do casal, quando se veja iminente, deverá, ser a derradeira providência, quando o amor, nos seus diversos cromos, não houver logrado êxito em suas expressões.
Ante os conflitos íntimos, as insinuações do orgulho, ou qualquer disfunção doméstica, procurem os cônjuges o hálito de Deus a inundar lhes a vida, convidando ao entendimento, à reconstrução, através da prece fervorosa.
Não desconsiderem os membros do lar, a insinuação sombria de companheiros infelizes do Além, e, por isto, orem mais, reestruturando cada qual as próprias ações, reeducando-se a fim de que o remansoso recanto doméstico possa converter-se em oásis de paz e de bênçãos, nestes tempos tumultuados e carentes de Deus, por que passa o gênero humano, até a libertação definitiva sob a assistência de Jesus.
Espírito : Camilo Psicografia : J. Raul Teixeira Livro : Educação e Vivências – Cap. 11 – pág. 79