Pedro Fagundes Azevedo Contribuição de Pedro
Chico Xavier e o Homem Invisível
(Texto de Pedro Fagundes Azevedo, ex-presidente da Legião Espírita de Porto Alegre, baseado em antigo depoimento prestado por Chico ao médico Elias Barbosa).
Em 1922, quando Francisco Xavier tinha 12 anos de idade e frequentava o curso primário do Grupo Escolar São José, em Pedro Leopoldo, o Governo de Minas instituiu um concurso para premiar os alunos das escolas públicas que apresentassem as melhores páginas sobre a História do Brasil. Chico aceitou o desafio e quando preparava-se para concorrer percebeu ao seu lado, em plena sala de aula, um senhor tentando lhe ditar o que deveria colocar no papel. Surpreso, ele perguntou ao colega do lado se ele também estava vendo aquele intruso. Ele disse que ali não tinha ninguém e que o Chico se acalmasse.
O homem, contudo, permaneceu impassivel e ditou a primeira frase do trabalho. No mesmo instante, Chico levantou-se e pediu para falar com a professora. Ao chegar bem perto, disse a ela, em voz baixa: “Dona Rosália, perto de mim, na carteira, eu percebo um homem ditando o que devo escrever.” A professora que era uma criatura de extrema bondade e compreensão, também em voz baixa, estabeleceu o seguinte diálogo: E o que é que esse homem invisível está mandando você escrever?… – Bem, ele disse que eu podia começar assim: “o Brasil, descoberto por Pedro Alvares Cabral, pode ser comparado ao mais precioso diamante do mundo que logo passou a ser engastado na Coroa Portuguesa”.
Sem esconder sua surpresa, a professora que era católica, apressou-se em recomendar: volte, meu filho, volte para a sua carteira e trate de escrever a sua prova. A sala está repleta de pessoas que nos observam e este não é o momento de ficarmos procurando gente invisível. Na certa, você está ouvindo você mesmo. Dê atenção ao seu pensamento e não se fala mais nisso. Depois, enviados os trabalhos concorrentes e passados alguns dias, a direção da escola foi informada que as autoridades da capital mineira haviam distinguido a redação do Chico com Menção Honrosa. Dona Rosália ficou toda satisfeita com a honraria concedida enquanto seu aluno, contrariado, dizia que o mérito não era dele.
Logo, logo o assunto do Escritor Invisível se espalhou e houve gente suspeitando que o Chico recebera a Menção de Honra porque havia copiado o trabalho de algum livro de História. Seus colegas passaram então a gracejar com a tal aparição, estabelecendo-se, já naquele tempo, o que hoje seria chamado de bullyng e que muito desgosto trazia ao principal envolvido. Até que uma vez, em sala de aula, um colega disse que se ele vira um homem invisível ditando a redação pela qual foi distinguido, era natural que agora ele voltasse a ver esse homem de novo.
Bastou o colega falar isso, para o Chico avistar o homem que os outros não viam e dizer a professora que esse personagem estava novamente ali, prontificando-se a escrever sobre qualquer assunto. Depois de muita discussão, a professora Rosália permitiu que o seu aluno fosse ao quadro negro a fim de escrever o que estava ouvindo. Antes, porém, a colega Oscarina Leroy fez uma última sugestão. Gostaria que o tema fosse a palavra “areia” porque estava carregando muita areia para ajudar numa pequena construção de seu pai. Toda a turma riu-se da ideia, achando que areia era uma coisa muito insignificante. Houve até os que fizeram piadas mas acabou valendo o pedido de Oscarina.
O espírito, então, começou a ditar e o Chico ia escrevendo no quadro o que só ele ouvia: “Meus Filhos, ninguém escarneça da criação. O grão de areia é um quase nada , mas pode ser comparado uma estrela pequenina refletindo o sol de Deus…” E o ditado seguiu nesse nível elevado, com ideias maravilhosas e originais, incapazes de serem concebidas pela mente de um menino de formação primária em grupo escolar. Daí em diante, Dona Rosália proibiu qualquer comentário em classe sobre o Homem Invisível. Nem o Chico poderia falar sobre as coisas estranhas que visse, nem os colegas podiam lhe perguntar sobre qualquer coisa fora dos estudos habituais. Era assim a escola de então…