Contribuição de Orleide Felix de Matos
APRESENTANDO SÃO CAMILO DE LÉLLIS AOS ESPÍRITAS
Camilo nasceu em 25 de maio de 1550, em Bucchianico, na Itália, quando sua mãe, chamada Camila, estava com quase 60 anos de idade. Nasceu num estábulo, como era de costume na época, para pedir com mais força a ajuda dos céus no momento do parto e esperava-se para ela maior ajuda dada a sua idade. E Camilo nasceu imitando Jesus e Francisco de Assis, de quem sua mãe era devota.
João de Lellis, pai de Camilo, era militar e nobre decaído. Homem de fé sincera, mas aventureiro e jogador inveterado. João e Camila casaram-se em 1526.Ele com 25 anos e ela com 30 anos.
Durante a gravidez, Camila havia tido um sonho inquietante. Via no sonho um grupo de crianças e na frente delas uma pessoa mais alta e todos tinham uma cruz no peito. Os tempos eram agitados e ela interpretou o sonho como um mau presságio, vendo nas crianças um bando de malfeitores o qual seu filho nascituro chefiava, destinado talvez ao crime e à forca.
Camilo era robusto e sua altura chegava a mais de 2 metros. Um dia o chamariam de “grande gigante da caridade,” não somente por sua solidariedade, mas também em relação a sua superioridade física.
João de Lellis, constantemente, fora de casa, muitas vezes muito distante, não estava presente para ajudar na educação de Camilo e o rapaz aproveitava decadência física da mãe e sua indulgência e meiguice para passar o dia nos campos e praças, cultivando a preguiça.
Seguindo o mau exemplo do pai, tornou-se jogador inveterado e entre dados e cartas perdia todo o dinheiro que seu pai lhe dava.
Ingressou na vida militar como seu pai, alistando-se no exército de Veneza. Diversas vezes alistou-se no exército, mas sempre voltava à vida habitual de festas, mulheres e jogatinas. Seu dinheiro começou a escassear, mas a vontade de procurar trabalho também era escassa e com isso ficou reduzido à miséria. Chegou a pedir esmolas na porta da igreja de São Domingos.
Camilo tinha uma ferida nos pés e tornozelo e começou a se espalhar por toda a perna e esta ferida o acompanhou por toda a vida. Achava-se que era de origem venérea e o aconselharam a ir tratar-se no hospital de São Tiago, renomado pelo tratamento da sífilis e Camilo submeteu-se à terapia do guaco que era tida como milagrosa.
Diversas vezes prometeu ao Senhor fazer-se frade franciscano, mas passado o problema que o afligia, as promessas eram, facilmente, esquecidas. Depois de muito sofrimento encontrou seu caminho de Damasco.
No hospital de São Tiago dedicou-se aos doentes, foi agente sanitário renovando as formas de tratar os pacientes. Acolhia-os, assistia-os, fazia todo o serviço de enfermagem, ajudava-os a comer quando necessário, atendia-os a qualquer hora do dia ou da noite e preparava-os para a desencarnação, caso não houvesse um sacerdote presente. Era preciso tratar os enfermos com todo amor como se estivesse tratando o próprio Jesus: esse era o seu lema.
Encontrou cinco homens piedosos e com eles começou a formar um grupo que, mais tarde, chamaria Ministros dos Enfermos, hoje Ordem Camiliana. Seu grupo se dedicaria ao hospital “servindo Jesus sofredor nos doentes, com desinteresse e abnegação”.
A comunidade o elegeu como superior e uma de suas decisões foi que os Ministros dos Enfermos deveriam trazer a cruz vermelha no peito sobre o hábito, confirmando assim o sonho de sua mãe Camila. Sua comunidade era chamada a atender os serviços mais árduos, como recolher cadáveres e encaminhá-los para o sepultamento quando epidemias dizimavam a população. Às vezes, encontravam recém-nascidos mamando no peito de suas mães já mortas e os alimentava com leite de cabra. Em toda epidemia ou seca estava presente com seus companheiros sempre vendo nos doentes a figura de Jesus, tratando-os e assistindo-os como se fosse o próprio Jesus a necessitar dos cuidados. Dizem que, muitas vezes, os doentes cuspiam em seu rosto e o mandavam embora, ao som de palavrões que ele respondia:
– Meu irmão, eu não vou embora enquanto não te ver bem e feliz. O que mais posso fazer para agradá-lo?
“Mas, sobretudo, amava os doentes, via neles Cristo, concretamente, sofredor e crucificado; por isso, tinha com eles o relacionamento que um cristão fervoroso, um santo, tem com Jesus no Getsêmani ou no Calvário: olhava para eles com o mesmo arrebatamento, o mesmo coração. Tratava-os com afeto, ternura, solicitude, delicadeza, da admissão no hospital (ou da sua chegada na casa do enfermo) até a alta, ou o falecimento. Camilo vivia para os doentes, pensava sempre neles, em que fazer, como prover para que estivessem melhor, trata-los com mais dignidade, confortá-los, tranquiliza-los curá-los no corpo e na alma, torná-los novamente produtivos ou, então, ajuda-los com a palavra, a graça, os sacramentos a ir para o céu”. (1)
Camilo dizia que era necessário colocar mais coração nas mãos ao tratar dos doentes.
Camilo desencarnou no dia 14 de julho de 1614, dia de São Boaventura, como havia previsto. Diz-se que na hora de sua morte, seu rosto transfigurou-se e iluminou-se. A Igreja Católica o proclamou santo em 29 de junho de 1746, patrono dos hospitais, dos cardiopatas e dos portadores de estimuladores cardíacos dentre outros.
Orleide Felix de Matos
Referências Bibliográficas
(1) SPINELLI, MARIO. Camilo de Lellis:’ Mais coração nas mãos”. Tradução de Antonio Efro Feltrin, São Paulo, Edições Paulinas, 2010 (Coleção Luz do Mundo)
Nota do Autor:
Por que São Camilo?
Nosso amor e respeito por Camilo de Lellis começou com um presente. Cursávamos Nutrição, no Centro Universitário São Camilo, na época ainda Faculdade de Ciências da Saúde São Camilo, e um dia, o padre Augusto Mezzomo, diretor da faculdade, nos deu de presente um livro que era um resumo de outro livro sobre a vida de São Camilo. E nada acontece por acaso, porque eu nunca havia dito a ele que era espírita e não tinha contato com ele. Era o ano de 1978 ou 79. Lemos o livro por volta de 1990 somente e nos apaixonamos pela vida e exemplos de Camilo.
Fomos morar em Uberaba e trabalhamos no Sanatório Espírita como nutricionista entre 1992 e 1995 e participávamos como colunista do jornal do Sanatório.
Um dia, falamos ao saudoso Dr. Elias Barbosa sobre o livro e ele nos pediu emprestado e também enamorou-se, nos pedindo que fizesse um resumo e fôssemos publicando no jornal do sanatório em capítulos. E assim fizemos.