Das pétalas arrancadas – Redação do Momento Espírita 5/5 (2)

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A menina pequena começou a perceber o jardim de sua casa.

Encantou-se com uma flor de cor vermelha – bougainville.

Ainda no colo, pediu ao pai para chegar mais perto.
Desejava ver com as mãos e sentir seu perfume.

Ao puxar um pequeno galho colorido, a maioria das pétalas se desprendeu acidentalmente.
Estavam agora na palma da mão pequenina.

Havia deixado o ramo da planta escarlate quase sem vestes.
A criança se assustou.
O galho retornou velozmente para trás.

Olhou para o pai como que dizendo: Não pretendia machucá-la.
.
.

Logo após fez um gesto inusitado.
Esticou o bracinho, segurando na mão as pétalas soltas que ainda guardava e buscou novamente as flores que haviam permanecido no galho.

Ela queria devolver o que havia retirado da flor, agora semidesnuda.

O pai ficou sem ação.
Seu primeiro impulso foi dizer que não era possível, no entanto, aceitou o desejo da filha e deixou que ela ajeitasse delicadamente as partes arrancadas junto às que ainda se mantinham no arbusto.

Enfim, a menina deu a situação por resolvida.
O pai, porém, não.
Ficou com as pétalas arrancadas no pensamento.

* * *

É possível devolver uma pétala para uma flor?

Os botânicos certamente dirão e provarão que não.
Uma vez retiradas, não voltam mais.
Não há como colar, costurar ou provocar qualquer espécie de regeneração.

Assim como o tempo; assim como as palavras que proferimos; assim com os atos.
Não há como desfazer o que foi feito, o que foi dito, o que passou.

Ferimos alguém profundamente e pedimos desculpas.
Será que somos nós tentando devolver pétalas arrancadas?

Assim, voltemos à questão original: é possível devolver uma pétala para uma flor?

Tudo nos leva a aceitar o não como a resposta mais razoável, ou a única plausível.
Resposta triste.

Porém, se a ingenuidade e pureza infantis acreditaram ser possível, quem sabe possamos acreditar tornar possível, mas de uma forma diferente.

E se decidíssemos cuidar daquela árvore de uma maneira especial, olhando-a todos os dias, assim como o Pequeno Príncipe um dia cuidou de sua rosa?

Estarmos atentos ao que ela precise e não deixar que lhe falte coisa alguma.
Vamos nos ocupar do solo, mantendo-o fértil.

Conversarmos sempre, dizer o quanto está bela, acompanhar seu crescimento e lá estarmos, emocionados, quando finalmente, novas pétalas nascerem no lugar das faltantes.

Quem sabe será nossa forma de devolver.
.
.

E se não pudermos restituir exatamente aquela flor por alguma razão, poderíamos cumprir nossa missão da mesma forma, com outras.
Entendendo que nossa dívida é com a natureza como um todo.

* * *

O homem sofre sempre a consequência de suas faltas.
Não há uma só infração à Lei de Deus que fique sem a correspondente punição.

Desde que o culpado clame por misericórdia, Deus o ouve e lhe concede a esperança.
Mas, não basta o simples pesar do mal causado.

É necessária a reparação, pelo que o culpado se vê submetido a novas provas em que pode, sempre por sua livre vontade, praticar o bem, reparando o mal que haja feito.

A sua felicidade ou a sua desgraça dependem da vontade que tenha de praticar o bem.

Redação do Momento Espírita, com base na crônica

Das pétalas arrancadas, de Andrey Cechelero e no cap.
XXVII,

item 21 do livro O Evangelho segundo o Espiritismo, de

Allan Kardec, ed.
FEB.

Em 24.
10.
2019.

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