PODER PARA O PRAZER – Livro – Amor Imbativel Amor 5/5 (1)

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A formulação hedonista do prazer conduz o indi­víduo a considerá-lo como sendo uma inevitável con­seqüência do poder, transferindo todas as aspirações para esse tipo de conquista, muito confundido com o triunfo em apresentação de sucesso.
O poder tem recursos para levar ao prazer em ra­zão das portas que abre, quase todas porém, de resul­tados enganosos, porque aqueles que se acercam dos poderosos estão, quase sempre, atormentados pelo ego, utilizando-se da circunstância para satisfazer aos con­flitos em que se debatem. Os seus referenciais são fal­sos, a sua amizade é insustentável, a sua solidariedade é enganosa, e eles trabalham como atores em uma peça cuja fantasia é a realidade…
A busca do poder vem-se tornando febril, gerando conceitos errôneos que propõem qualquer método des­de que o objetivo seja alcançado, especialmente com brevidade, já que o tempo é muito importante para a usança do prazer.
Na Obra de Oscar Wilde, denominada O retrato de Dorian Gray, é possível ver-se a terrível aflição do jovem para manter a aparência, a fim de desfrutar de todos os gozos, mesmo os derivados da abjeção, com rapidez e sofreguidão.
Não lhe importavam as vidas ceifadas, as angústi­as dilaceradoras que a sua insaciável busca ia deixan­do para trás. A indução infeliz de Lorde Harry Wolton permanecia-lhe na mente aturdida, como uma hipnose dominadora. Ele falara-lhe que a juventude passava ra­pidamente e que o corpo belo se transformaria inevita­velmente, desorganizando-se, degenerando. Seria pois, necessário, fruir o prazer até à exaustão, naquele momento fugidio, na estação dos verdes anos.
O moço, embriagado pelo narcisismo, sem escutar a sensatez do seu amigo, o pintor Basil Hallward, dei­xou-se arrebatar e proclamou o desejo de que envelhe­cesse o retrato, não ele, ficando no esplendor da juven­tude, que era o seu poder mais relevante, assim pas­sando a viver a situação amarga que o vitimou.
Wilde, sem conhecer os complexos mecanismos do perispírito, descreveu como os atos ignóbeis do ser pas­sam a ser registrados nesse corpo intermediário e sutil, que se deforma até a mais vulgar e depravada expres­são, decorrente da conduta perversa e promíscua de Dorian, culminando em mais crime e na tragédia da autoconsumpção…
Por outro lado, o poder econômico parece acenar com maior quota de prazeres, considerando-se o nú­mero de pessoas que se escravizam ao dinheiro, ven­dendo a própria existência para atender à desmedida ambição. Em razão disso, o desespero pela sua aquisi­ção torna-se meta de muitas vidas que naufragam, quando o conseguem — não se sentindo completadas interiormente — ou quando não se vêem abençoadas pelo apoio da fortuna, enveredando pelo corredor da revolta e tombando mais além da miséria a que se en­tregam.
O poder converte-se, desse modo, em verdadeira paixão ou numa quimera a ser perseguida. E porque os seus valores são ilusórios, as suas vítimas se multipli­cam volumosamente.
Todos aspiram a algum tipo de poder. Até o poder da mentira é mencionado com suficiente força para se conseguir algum triunfo, e não são poucos os indivíduos que o utilizam, terminando por infamar, destruir, malsinar…
Mediante o poder adquire-se a possibilidade de manipular vidas, alterar comportamentos, atingir os cumes das vaidades doentias.
É inata essa ambição, porqüanto está presente nos animais expressando-se em força, mediante a qual so­brevive o espécime mais forte.
O homem, no entanto, porque pensa, recorre ao poder a fim de desfrutar de mais prazer, e o faz indivi­dualmente, tornando-se um perigo quando o transfe­riu para as massas que, através de pressões violentas, alteram a conduta do próprio grupo social: sindicatos para a defesa de empregados, agremiações para prote­ção dos seus membros, clubes para recreações, condo­mínios para guarda de algumas elites, clínicas de vari­adas especialidades para a proteção da saúde…
Graças a essa força transformada em poder coleti­vo o processo de evolução da humanidade tornou-se factível, mas também as guerras irromperam cada vez mais cruéis, as calamidades sociais mais desastrosas, o crime organizado mais virulento… Nessa marcha, com a soma do poder nas mãos de governos arbitrários, a possibilidade da destruição de milhões de vidas e mes­mo do planeta, torna-se uma realidade nunca descarta­da dos estudiosos do comportamento coletivo dos po­vos.
O poder, quando em pessoas imaturas, corrompe­as, assim como se torna instrumento de perversão de outros indivíduos que se lhe entregam inermes e ansi­osos.
Tudo, porém, guardando-se a ambição do prazer que se poderá usufruir.
O poder, por mais recursos disponha, é antagôni­co ao prazer. Isto porque o prazer resulta do inter-rela­cionamento das energias que são liberadas no fluxo das sensações que o ser corporal experimenta em si mesmo ou no meio em que se movimenta. O poder, no entan­to, é forte enquanto produz o represamento e o contro­le da energia. Ademais, o poder é fonte de conflito, o que impede o prazer real, exceto em condições patoló­gicas do seu possuidor.
Através do poder surgem o abuso, a ausência de senso das proporções, a dominação ameaçadora e de­sagregadora do relacionamento humano. A vida fami­liar perde a sua estrutura quando um dos cônjuges as­sume o poder e o expande, submetendo o outro e os demais membros do clã. No grupo social, o mais fraco se sente sempre intimidado sob a espada de Damocles, que parece prestes a cair-lhe sobre a cabeça.
Há uma tendência natural no poder, que o leva a submeter os demais seres ao seu talante, tornando-se repressório e cruel. Toda repressão e crueldade castram o prazer, mesmo quando este se pode apresentar, por­que se vê rechaçado ou rebaixado à condição de satis­fação individual, angustiada.
Quando o poder, no entanto, supera as barreiras dos interesses mesquinhos do ego, passa a trabalhar para a comunidade igualitária, na qual surgirão os pra­zeres compensadores. Para que tal se realize, torna-se inevitável a necessidade, o cultivo da criatividade, per­mitindo que o ser humano cresça e expanda a sua ca­pacidade realizadora, fomentando o bem-estar geral e a harmonia entre os indivíduos, jamais se direcionan­do para fins que não sejam o crescimento e a valoriza­ção da sociedade.
Seja qual for a forma de poder, torna-se imprescin­dível a liberação da sua carga egoísta para preencher a superior finalidade do prazer.

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