O último retrato… – Redação do Momento Espírita 5/5 (2)

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Desde a chegada da pandemia vivemos em sobressalto.
Hoje nos chegam as notícias de um amigo, abraçado por ela e em estado crítico, no hospital.

Ontem, foram as notas breves nos informando de familiares distantes contaminados, que a morte levou, num tempo quase recorde.

Não pudemos comparecer para lhes ofertar algumas flores, ou ensaiar um último adeus.

A cada notícia televisiva ou radiofônica, detalhando as milhares de mortes e de contaminados, corremos a verificar se nosso amor mais próximo está bem, se nossos filhos estão bem, nossos netos, nossos primos.
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Preocupamo-nos com nossos pais e avós, de idades avançadas, cuja fragilidade os torna os preferidos dessa pandemia, que parece se eternizar.

Quando chega a notícia de alguém querido, alguém mais próximo da nossa afetividade que se foi, quantas vezes nos surpreendemos pensando: E nem me despedi direito da última vez.
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Se eu soubesse que ele morreria.
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Pensemos que com pandemia ou sem ela, todos os que nos encontramos na Terra estamos com o bilhete de volta no bolso.
Uns o temos para logo mais, outros para daqui há semanas, meses, anos.

Mas, conforme assinalou Jesus, essa data, somente o Pai Celestial tem conhecimento.

Por isso, se não temos o hábito, vamos criá-lo: o hábito de nos despedirmos com carinho, amor, toda vez que alguém sair para o trabalho, para as compras, para qualquer compromisso que lhe exija a presença.

Os que estamos no mesmo lar, abracemo-nos, estreitemo-nos, sintamos o coração bater sincronizado com o nosso próprio compasso cardíaco.

E digamos Até logo, tchau.

Depois, o acompanhemos com o olhar até o portão, até a saída.

Se estiver a pé, vejamo-lo voltar-se antes de tomar a rua e acenar, mais uma vez.

Se utilizar veículo próprio, vejamo-lo entrar no carro, colocar o cinto de segurança, ajustar o espelho retrovisor.

Acompanhemos cada gesto.
Detenhamo-nos à porta para observar.

Quando, finalmente, ele ligar o motor e nos olhar outra vez, acenando, acenaremos também.

Jogaremos beijos, sorriremos, utilizaremos as duas mãos e gritaremos uma vez mais: Tchau, até logo.
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Façamos isso a cada saída de alguém, mesmo que esteja indo simplesmente comprar pão, ali na esquina.

Se, eventualmente, esse for o último Até logo, teremos muitas fotos registradas na alma para recordar: Ele sorriu para mim.
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Ele tornou a acenar, depois de fechado o portão, já na rua.
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Ele entrou no carro, mas resolveu entrar de novo e disse tchau outra vez.
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Tenhamos em mente: a vida na Terra é impermanente.
Deixemo-nos ficar na porta, na janela, acenando um tanto mais, até a pessoa desaparecer na curva da estrada, ou no final da rua, dobrando a esquina.

Não tenhamos pressa.
A pandemia nos está ensinando que devemos mais e mais saborear a vida familiar.

Que devemos prezar amigos, colegas, conhecidos.
Que devemos valorizar a presença do outro.

Saibamos nos despedir, demoradamente.
Poderá ser o último retrato do amor que partirá logo mais.
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Que não venhamos a nos arrepender de não ter abraçado, beijado, aconchegado.

O logo mais somente Deus o sabe.

Pensemos nisso.

Redação do Momento Espírita.

Em 22.
3.
2021.

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