BEM-AVENTURADOS OS LIMPOS DE CORAÇÃO… – Rodolfo Calligaris – O Sermão da Montanha 5/5 (1)

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Como se verifica pela leitura do Velho Testamento, os judeus

eram extremamente meticulosos no que dizia respeito à limpeza,

quer em sua vida privada, quer nas práticas cerimoniais de seu

culto.

Preocupavam-se sobremaneira com toda e qualquer forma de

contaminação exterior, cumprindo à risca as regras severíssimas

estabelecidas pelo rabinismo quanto à alimentação e à vestimenta,

assim como aos holocaustos ou sacrifícios oferecidos no templo.

O Levítico, livro das leis judaicas, chega ao exagero de proibir

certos atos devocionais a quem apresenta deformidades, a saber:

se for cego, coxo, de nariz pequeno, grande ou torcido, se tiver

quebrado o pé ou a mão, se for corcovado, se remeloso, se tiver

belida no olho, se portador de sarna ou impigem.
.
.
(21:17 a 20.
)

Jesus, todavia, longe de dar atenção a esse formalismo de

somenos importância, conhecendo a incúria geral para com os

verdadeiros mandamentos de Deus, indicou, mais de uma vez, a

necessidade de curarmos, com maior empenho, as mazelas e

sujidades de nosso íntimo, pois são estas que nos impedem a

entrada no Reino dos Céus.

Assim é que, a um fariseu, por quem fora convidado a jantar

em sua companhia e que consigo fazia reparos por não ter Ele, o

Mestre, lavado as mãos antes de sentar-se à mesa, disse sem

rebuços: “Vós outros pondes grande cuidado em limpar o exterior

do copo e do prato; entretanto, o interior de vossos corações está

cheio de rapinas e de iniquidades”.
(Lucas, 11:37 a 39.
)

De outra feita, respondendo à mesma censura feita a seus

discípulos, chamou o povo para perto de si e assim se expressou:

“Escutai e compreendei bem isto: Não é o que entra na boca que

macula o homem; o que lhe sai da boca é que o macula.
O que sai

da boca procede do coração e é o que torna impuro o homem,

porquanto do coração é que partem os maus pensamentos, os

assassínios, os adultérios, as fornicações, os latrocínios, os falsos

testemunhos, as blasfêmias e as maledicências.
Essas são as

coisas que tornam impuro o homem”.
(Mateus, 15:1 a 20.
)

Em nova oportunidade, como completando a elucidação desse

ponto, ao perceber que seus discípulos procuravam afastar

algumas crianças que lhe eram trazidas para que Ele as

abençoasse, falou-lhes severamente: “Deixai que venham a mim

as criancinhas e não as impeçais, porquanto o Reino dos Céus é

para os que se lhes assemelham.
Digo-vos, em verdade, que

aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, nele

não entrará”.
(Marcos, 10:13 a 15.
)

Deduz-se, pois, dos ensinos de Jesus, que impureza de coração

não significa apenas malícia e abuso dos prazeres sexuais, mas

também a fatuidade, o orgulho, o interesse egoísta e outras falhas

morais, cujas manchas são bem mais difíceis de remover do que

aquelas existentes na superfície das coisas.

Dizendo que o Reino dos Céus é para os que se assemelham às

crianças, quer com isso dar a entender que, enquanto não alijarmos

de nós os pensamentos vulgares, a linguagem descuidada e as

ações desonestas (no sentido mais amplo do termo), adquirindo a

candura, a humildade e a simpleza personificadas na infância, não

estaremos em condições de comparecer à presença de Deus.

Cuidemos, então, do refinamento de nossas ideias e maneiras,

para que, um dia, ainda que longínquo, possamos ter a ventura de

“ver a Deus face a face”! (Mateus, 5:8.
)

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