“Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos de todo mal.
Assim seja.
”
Esta última parte do Pai-nosso envolve uma questão muito
séria: a das tentações.
Seriam elas prejudiciais à sorte de nossas almas, ou, ao
contrário, seriam experiências indispensáveis ao nosso
desenvolvimento espiritual?
Para os que entendam sejam elas sinônimo de “instigação para
o mal”, por obra de Satanás, seriam, sem dúvida, um fator de
perdição.
Nesse caso, quanto menos fôssemos tentados, tanto
melhor, pois correríamos menor risco de “pecar” e,
consequentemente, de ser condenados.
O sentido exato, entretanto, em que o Mestre usou o termo, na
rogativa em epígrafe, não é esse, mas sim o de “ser posto à prova”.
Destarte, o que aí pedimos ao Pai celestial não é o afastamento
das provas, mas que não nos deixe cair (quando estivermos) em
tentação, isto é, que nos dê forças para sairmos vitoriosos dos
inúmeros e variados testes pelos quais temos que passar, em cada
existência.
Espíritos assaz insipientes que somos, cumpre-nos viver uma
série quase infinita de situações difíceis e antagônicas, para
aprendermos a discernir as coisas, ganharmos tirocínio, tornarmonos
inteiramente conscientes de nossas ações e prosseguirmos,
cada vez mais seguros, nossa jornada rumo à perfeição.
As tentações a que somos submetidos constituem, assim, uma
espécie de exame ou sistema de aferição de nosso adiantamento.
Os que vencem, esses adquirem novas forças e elevam-se a
níveis superiores; os que sucumbem estacionam e vão repetindo
as lições da vida, até que as aprendam suficientemente.
Se as tentações em si mesmas fossem danosas para as nossas
almas, Deus, que é todo bondade e justiça, certamente não as
permitiria; se as permite, é porque sabe serem elas proveitosas a
todos os seres em relativa inferioridade.
Os que procuram escusar suas quedas em face das tentações,
sejam elas de que natureza forem, atribuindo-as às fraquezas da
carne, ou sofismam ou não sabem o que dizem.
Com efeito, sendo a carne destituída de inteligência e de
vontade própria, não poderia, jamais, prevalecer sobre o Espírito,
que é o ser pensante e livre; portanto, a este e não àquela é que
cabe a responsabilidade integral de todos os atos.
Desregramentos, excessos, mau gênio etc.
, não são
determinados por disfunções orgânicas ou outros fatores que tais,
mas tão só e unicamente pelas más tendências anímicas de cada
um.
O Espiritismo, com a revelação do mundo espiritual que nos
envolve e das leis que o regem, fez novas luzes em torno do
problema, permitindo-nos compreender melhor o mecanismo de
muitas das tentações que nos assaltam, e como vencê-las.
Ele nos ensina que todo pensamento é vibração de tal ou qual
frequência, pela qual nos pomos em sintonia com os planos da
espiritualidade.
Conforme sejam nossos pensamentos, o que equivale a dizer:
nossos sentimentos — puros, idealistas, construtivos, pomo-nos
em comunicação com os seres de elevada hierarquia, de cujo
consórcio resulta para nós uma vida bem orientada, tranquila, feliz
e repleta de nobres realizações.
Da mesma sorte, se a nossa mente
só destila pensamentos impuros, mesquinhos, deprimentes,
destrutivos, colocamo-nos automaticamente na mesma faixa
vibratória dos Espíritos menos evoluídos, que, consoante nossos
pendores, procurarão manter-nos nos caminhos declivosos do
vício, das paixões, do crime, e muitas lágrimas nos farão derramar.
Isso nos faz compreender a extensão da advertência do Cristo,
quando dizia: “Orai e vigiai, para não cairdes em tentação”.
É preciso, pois, que apliquemos incessantes esforços contra
tudo aquilo que nos deprime e avilta; essa atitude fará que as
entidades trevosas se afastem naturalmente, porque nada podem
fazer, e renunciam a qualquer tentativa junto aos puros de coração.
Ó Senhor, muito temos errado, contínuos têm sido os nossos
fracassos, e isto nos demonstra quanto ainda somos fracos e
imperfeitos e quanto devemos esforçar-nos para atingirmos o
Divino Modelo, que é Jesus.
Amparai-nos em nossa debilidade, infundi-nos o desejo sincero
de corrigir-nos e inspirai-nos sempre, pela voz de nossos anjos
guardiães, a fim de que sejamos capazes de resistir às sugestões
do mal, mantendo, inquebrantável, o propósito de só pensar, só
almejar e só realizar o bem.
Assim seja!
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