– Vós a reconhecereis pelo desenvolvimento moral. Acreditais estar muito adiantados por terdes feito grandes descobertas e invenções maravilhosas, porque estais melhor instalados e melhor vestidos que os vossos selvagens, mas só tereis verdadeiramente o direito de vos dizer civilizado quando houveres banido de vossa sociedade os vícios que a desonram e quando passardes a viver como irmãos, praticando a caridade cristã. Até esse momento não sereis mais do que povos esclarecidos, só tendo percorrido a primeira fase da civilização. A civilização tem os seus graus, como todas as coisas. Uma civilização incompleta é um estado de transição que engendra males especiais, desconhecidos no estado primitivo, mas nem por isso deixa de constituir um progresso natural, necessário, que leva consigo mesmo o remédio para aqueles males. A. medida que a civilização se aperfeiçoa, vai fazendo cessar alguns dos males que engendrou, e esses males desaparecerão com o progresso moral. De dois povos que tenham chegado ao ápice da escala social, só poderá dizer-se o mais civilizado, na verdadeira acepção do termo, aquele em que se encontre menos egoísmo, cupidez e orgulho, em que ns costumes sejam mais intelectuais e morais do que materiais, em que a inteligência possa desenvolver-se com mais liberdade, em que exista mais bondade, boa-fé, benevolência e generosidade recíprocas, em que os preconceitos de casta e de nascimento sejam menos enraizados, porque esses préjuízos são incompatíveis com o verdadeiro amor do próximo, em que as leis não consagrem nenhum privilégio e sejam as mesmas para o último como para o primeiro, em que a justiça se exerça com o mínimo de parcialidade, em que o fraco sempre encontre apoio contra o forte, em que a vida do homem, suas crenças e suas opiniões sejam melhor respeitadas, em que haja menos desgraçados, e, por fim, em que todos os homens de boa vontade estejam sempre seguros de não lhes faltar o necessário. (1) (1) Será essa a civilização cristã que o Espiritismo estabelecerá na Terra. Como se vê pelas explicações dos Espíritos e os comentários de Kardec, a civilização incompleta em que vivemos é apenas uma fase de transição entre o mundo pagão da Antigüidade e o mundo cristão do Futuro. Nos costumes, na legislação, na religião, na prática dos cultos religiosos vemos a mistura constante dos elementos do paganismo com os princípios renovadores do Cristianismo. Cabe ao Espiritismo a missão de remover esses elementos pagãos para fazer brilhar o espírito cristão em toda a sua pureza. Veja-se, a propósito, todo o cap. I de “O Evangelho segundo o Espiritismo”. (N. do T.)