Ela era filha dos arquiduques da Letônia.
Quando os russos invadiram o país, em 1945, todos os pertencentes à realeza foram presos.
Ela foi para um campo de concentração, separada dos pais, do marido e dos dois filhos, que nunca mais viu.
Para humilhá-la, as companheiras de cativeiro a obrigavam a lavar os sanitários.
Era sua vingança particular para alguém de estirpe nobre.
Ela queria morrer para se ver livre.
Queria viver para se vingar.
Resolveu que sobreviveria, para denunciar ao mundo as maldades sofridas.
Revoltou-se contra Deus por não entender por que tudo aquilo acontecia.
Que culpa tinha ela de ter nascido entre a nobreza? Era uma grande injustiça.
Dez anos depois, ela foi liberada, embora tornasse a ser aprisionada, quando a Hungria foi invadida pelos tanques russos.
Eles temiam um levante por aqueles que eram o símbolo da realeza.
Foram mais seis anos de campo de concentração.
Com tuberculose pulmonar, ela recebeu a liberdade.
Foi morar em um barraco coletivo e se tornou varredora de rua.
Varria as mesmas ruas nas quais seus pais haviam sido arquiduques.
Pensando em deixar o país, começou a insistir junto à embaixada russa para que lhe conseguisse o passaporte.
Foi humilhada, esbofeteada, aprisionada.
Finalmente, em 1980, algemada, com dois dólares, dois vestidos, um par de calçados, um sabonete, ela foi colocada num trem.
Quando chegou à fronteira, foram-lhe retiradas as algemas e lhe entregaram o passaporte.
Ela se transferiu para a terceira classe, continuando a viajar com a janela abaixada, sem ânimo.
E com pavor do mundo.
Na primeira parada, levantou a persiana da janela.
Estava em território suíço.
Com os dois dólares, conseguiu uma passagem em outro trem e desembarcou em Genebra.
Na Instituição Soleil, pela primeira vez, em seus últimos anos de vida, encontrou uma pessoa gentil.
Passou a ser dama de companhia da esposa do diretor da instituição, depois governanta.
Para todos, ela era simplesmente Nadja, pseudônimo que adotara, temerosa de voltar a sofrer perseguições.
Quando lhe descobriram a cultura excepcional, o domínio de nove idiomas, foi convidada a colaborar em traduções.
Passou a ter um salário expressivo.
E mantinha o propósito de publicar um livro para que o mundo soubesse a tragédia do regime que massacrara sua família e seu país.
Foi-lhe oferecido traduzir um livro.
Ela relutou muito porque falava de Deus, de redenção, de sacrifício.
Seu ódio era tamanho que mais de uma vez parou de traduzir, disposta a abandonar a empreitada.
Então, chegou na parte que apresentava a lei de justiça divina, as reencarnações sucessivas, a lei de causa e efeito.
E entendeu: nada era injusto.
Algo fizera, em épocas anteriores, que justificava seu sofrimento atual.
Aos setenta e cinco anos, encontrara uma resposta para as suas dúvidas.
E declarou: Este livro acaba de salvar a minha alma.
Agora creio em Deus.
Ainda tenho dificuldades para perdoar.
Mas entendi.
Tinha dívidas a quitar.
Agora, estou gozando o fruto de uma nova vida, que recomeçou.
Redação do Momento Espírita, com base no cap.
3, do
livro Da verdade nada se oculta, de Divaldo Franco e
Délcio Carvalho, ed.
LEAL.
Em 14.
6.
2024