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      Contribuição de Pedro Fagundes Azevedo

Dois de Novembro – Dia de Finados
A morte, um amanhecer
Pedro Fagundes Azevedo, ex-presidente por três gestões da Legião Espírita de Porto Alegre
Comparando a morte a um amanhecer, Elisabeth Kubler Ross procurava passar tranquilidade e esperança, à cabeceira do leito de seus numerosos pacientes terminais. Extraímos o título acima, nesta proximidade do Dia de Finados, de um de seus mais de 20 livros sobre o assunto, traduzidos em 26 idiomas. Nascida na Suíça e radicada nos Estados Unidos, ela trabalhou em vários hospitais de Chicago, Colorado e Nova York. Em todos, ficava profundamente triste e até indignada com a pouca atenção dispensada aos então chamados moribundos. Nos anos 60, contra a vontade de seus colegas médicos, decidiu investir seu tempo nessas pessoas, sentando-se ao lado delas, trocando idéias e ouvindo suas queixas. Seu objetivo, dizia, era romper a crosta de negação social e profissional que impedia esses doentes de expressarem suas preocupações mais íntimas a respeito de sua morte próxima. Como resultado, em 1969 publicou um livro no qual explicava suas experiências com mais de 500 homens e mulher es desenganados.
Sobre a Morte e os Moribundos foi um best-seller que revolucionou esse tipo de atendimento e mudou o seu enfoque. A partir daí, passou a ser um diálogo mais humano, mais terno e franco sobre a morte e o morrer. Hoje, a formação em tanatologia faz parte dos currículos de Medicina e Enfermagem nos Estados Unidos. Para Kubler Ross, morrer era tão-somente despir-se do corpo físico, como quem se livra de uma pesada roupa de escafandrista, ou como uma mariposa abandonando seu casulo. Em 1970, ela começou a explorar a possibilidade da existência de vida após a morte. Somos seres espirituais vivendo uma experiência humana, pensava.
Mas, a Universidade de Chicago, onde trabalhava, presa ao antigo paradigma cartesiano, achou que isso já era demais e simplesmente a demitiu. Face a nova situação, Elisabeth passou a atender em seu consultório particular as pessoas em fase de luto e aquelas desesperançadas com a gravidade de suas enfermidades. Criou um curso itinerante Vida, morte e transição para todos os tipos de perda, que há mais de 30 anos é oferecido em várias partes do mundo. Em 1975, publicou entrevistas e testemunhos de pessoas que passaram pela experiência de quase morte. Nas mesmas, hoje bem conhecidas e estudadas, os pacientes falam da morte como uma experiência agradável, em que há um feliz e surpreendente reencontro no plano espiritual com familiares e amigos já falecidos.
Doutora Honoris Causa por várias universidades, incluída pela Times entre os cem maiores pensadores do século passado, Elisabeth morreu placidamente, aos 78 anos, em 24 de agosto de 2004. Após prolongada enfermidade, estava no seu sítio, em Scottsdale, Arizona, cercada pelo carinho de sua família e de seus amigos. E bem longe da assepsia fria das UTIs modernas, onde geralmente as pessoas morrem sem apoio amoroso, experimentando talvez como um último sentimento o medo da solidão. No seu enterro, um rabino pronunciou uma prece, uma índia norte-americana a encomendou dentro de seus primitivos rituais e um monge tibetano entoou textos do Livro Tibetano dos Mortos.
Ao serem lançadas pétalas de rosas sobre seu esquife, centenas de borboletas foram libertadas e pousaram suavemente entre os presentes. Um símbolo da continuidade da vida, ideia em que ela tanto investiu.

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