Pedro Fagundes Azevedo, de Porto Alegre Contribuição de Pedro Fagundes Azevedo
Rushmore, nos Estados Unidos, é um monte famoso por suas esculturas gigantescas com os rostos de Washington, Jefferson, Lincoln e Theodore Roosevelt. Naturalmente, ninguém vai pensar que foram obras do acaso. Mesmo com a prolongada ação do tempo e do vento, da chuva e da erosão, isso seria impossível. Já num relance, o bom senso nos indica que pessoas talentosas planejaram e esculpiram as históricas figuras na rocha granítica. Caso contrário, seria um absurdo tão grande como a hipótese de um vendaval – ao soprar por anos a fio sobre um depósito com todas as peças da cabine de comando de um Boeing 777 – conseguir montá-la, ao aca so.
De igual forma, quando se examina a complexidade da vida e a multiplicidade de formas do universo em que vivemos, é óbvia a conclusão de que somente uma inteligência superior poderia tê-las criado. E sabe-se, pela meditação, que o seu nome está no inconsciente de cada pessoa – Deus. Naturalmente, não se trata do velho de longas barbas brancas, sentado num trono sobre as nuvens, conforme nos foi passado pelas antigas tradições. Aliás, foi justamente esta a primeira questão levantada por Allan Kardec na sua principal obra, intitulada O Livro dos Espíritos – que é Deus? Ressalte-se que ele não perguntou quem é Deus e sim que é Deus. E a resposta dos espíritos foi curta e concisa: Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas.
Já o Evangelho nos afirma que Deus é amor. Por enquanto, essa duas definições devem nos bastar. Como ainda estamos do beabá da espiritualidade, não temos condições de compreender a natureza íntima de Deus. Nesse caso, poderíamos ser comparados a criancinhas do Jardim da Infância querendo entender uma equação de segundo grau. Está longe do nosso alcance. Kardec esclarece, mais adiante, que a inteligência de Deus se revela em suas obras, como a de um pintor em seu quadro. Mas, as obras de Deus – como a natureza, por exemplo – não são o próprio Deus, assim como o quadro não é o pintor que o concebeu e executou.
Ainda sobre o assunto, registramos outra pergunta de Kardec, no mesmo livro, a de número 37: o Universo foi criado, ou existe de toda a eternidade, como Deus? Resposta dos espíritos: Sem dúvida, o Universo não pode fazer-se a si mesmo. E se existisse, como Deus, de toda a eternidade, não poderia ser obra de Deus. A razão nos diz não ser possível que o Universo se tenha feito a si mesmo. E que, não podendo ser obra do acaso, deve ser obra de Deus. Para finalizar, eis uma interessante estorinha no livro Idéias e Ilustrações, de Meimei, psicografia de Chico Xavier:
Conta-se que um velho árabe analfabeto orava com tanto fervor e com tanto carinho, cada noite, que, certa vez, o rico chefe de grande caravana chamou-o à sua presença e perguntou:
– Por que oras com tanta fé? Como sabes que Deus existe? O crente respondeu: – Grande senhor, conheço a existência de Nosso Pai Celeste pelos sinais dele. – Como assim? – indagou o chefe, admirado. O servo humilde explicou-se: – Quando o senhor recebe uma carta de pessoa ausente, como reconhece quem a escreveu? – Pela letra. O empregado sorriu e acrescentou: – Quando ouve passos de animais, ao redor da tenda, como sabe, se foi um carneiro, um cavalo ou um boi? – Pelos rastros — respondeu o chefe, surpreendido.
Então, o velho crente convidou-o para ir fora da barraca e, mostrando-lhe o céu, onde a Lua brilhava, cercada por milhões de estrelas, exclamou, respeitoso: Senhor, aqueles sinais, lá em cima, não podem ser dos homens!. Nesse momento, o orgulhoso caravaneiro, de olhos lacrimosos, ajoelhou-se na areia e também começou a orar.