A alma não morre, mas o corpo morre quando dele ela se afasta. A alma é para si mesma seu próprio motor; o movimento da alma é a sua vida. Mesmo quando está prisioneira no corpo e como que a ele ligada, ela não se amesquinhaàs suas estreitas proporções e aí não se encerra. Mas muitas vezes, quando o corpo
jaz imóvel e como que inanimado, ela fica desperta por sua própria virtude; e, saindo da matéria, não obstante a ela ainda ligada, concebe, contempla existências além do globo terrestre; vê os santos
desprendidos do envoltório dos corpos, vê os anjos e a eles ascende na liberdade de sua pura inocência.
Inteiramente separada do corpo e quando aprouver a Deus tirar-lhe a cadeia que lhe é imposta, não terá ela, eu vos pergunto, uma visão muito mais clara de sua natureza imortal? Se hoje mesmo, e nos entraves da carne, ela já vive uma vida completamente exterior, viverá muito mais depois da morte do corpo,
graças a Deus que, por seu Verbo, a fez assim. Ela compreende, abarca em si as idéias de eternidade, de infinito, pois é imortal. Assim como o corpo, que é mortal, não percebe senão o que é material e perecível, também a alma, que vê e medita as coisas imortais, é necessariamente imortal em si mesma e viverá sempre,
porque os pensamentos e as imagens de imortalidade jamais a deixam e nela são como um foco vivo, que alimenta e assegura a sua imortalidade. Com efeito, não está aí uma descrição exata da irradiação exterior da alma durante a vida corporal, e de sua emancipação no sono, no êxtase, no sonambulismo e na catalepsia?
O Espiritismo diz exatamente a mesma coisa, e o prova pela experiência. Com as idéias esparsas contidas na Bíblia, nos Evangelhos e nos Pais da Igreja, sem falar dos escritores profanos, pode constituir-se toda a doutrina espírita moderna.