ARTE TERAPIA E ESPIRITUALIDADE

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ARTE TERAPIA E ESPIRITUALIDADE

No afã de esclarecer algumas particularidades dos sentimentos e observações na consecução do meu exercício nas artes plásticas, tenho convicção em afirmar-lhes o que ora transcrevo.

Principiei este talento a partir de um curso de modelagem em argila no mês de agosto de 2004, em que objetivava a cura de uma síndrome depressiva originária das consequências pela perda de entes queridos, do meu saudoso pai vítima de câncer e suicídio de meu filho com 16 anos; e principalmente, da perda do vínculo empregatício profissional como médico veterinário no governo estadual.

Descortina, assim, a iniciação do meu fascínio e gosto pelas artes plásticas, traduzidas numa linguagem surrealista ao materializar obras na representação do irracional, transcendendo pela vazão dos impulsos psíquicos de minha imaginação fecunda, onde vislumbro plasmar a expressão enigmática, porém, coerente do subconsciente na interação inequívoca com o orbe terráqueo e Deus.

Na consecução dos trabalhos fui naturalmente seduzido pela arte em suas diversas vertentes de expressão. Inicialmente, esculturas de argila. E o aprendizado de pintá-las, cada uma, em conformidade com o estilo. Depois, exercitei a confecção de artesanatos de materiais recicláveis. Em seguida, iniciei o aprendizado de designer de móveis rísticos e peças de arte em madeira, dando a estes apenas o leve toque do olhar artístico.

Após essas experiências que me deram confiança e destreza, iniciei um curso de pintura em tela  o qual permaneci por três meses onde aprendi a pegar no pincel, mesclar as cores e noções técnicas de pintura acadêmica, em areia e de santos  católicos. Os desenhos eu os projetava em minha mente e passava para as telas.

E assim, deixei-me envolver na criação e projeção do automatismo sem me importar com os meandros das críticas coerentes ou não, que muitas das vezes, subjugam de forma simplista a expressão inequívoca dos valores inalienáveis e intangíveis de cada obra de arte representando a superação interior do artista.

Minhas obras julgo-as se enquadrem no conceito da arte romântica, em que o artista procura se libertar das amarras das convenções acadêmicas deixando que os sentimentos da liberdade e fluidos transcendentais, sejam o pano de fundo , metamorfoseando a exteriorização do imaginário em congruência com meu Eu e DEUS.

Enquadra-se, ainda, no conceito de arte ingênua que é a arte da espontaneidade, da criatividade autêntica, do fazer artístico sem estudo sistematizado, portanto instintivo. Não me preocupo em preservar as proporções naturais e anatômicas dos meus trabalhos.

Dessa forma, arrisco dizer-lhe que posso considerar-me um artista nato, que executo meus trabalhos com dedicação, ousadia, criatividade, e diversidade incomum. Porém, é perceptível na diversidade das obras a singularidade dos meus traços artísticos. É o que dizem os entendidos do assunto.

Não limito minhas criações nos estudos acadêmicos e conceituais da arte em busca de uma identidade que agrade os intermediadores da comercialização de arte. Neste sentido, tenho o privilégio de fazê-lo assim até porque a arte emergiu e adentrou em minha vida de uma forma inusitada, inopinada de benfazeja terapia, sem preocupar-me com a necessidade de vendê-los para sobreviver.

Portanto não as faço limitando minha criação e emoções com o receio de não agradar o cliente. É óbvio que procuro atender sua expectativa. No entanto, para mim, o reconhecimento ou não de cada obra pelos expectadores, passa a ser uma consequência tão natural, como o é o interesse dele em adquiri-la.

Fazer ARTE na concepção da palavra é algo intrínsecoàs condições de equilíbrio mental e psicológico de cada artista. È preciso estar de bem com a vida para a inspiração fluir de forma criativa. Fazer reprodução de trabalhos e formas abstratas, que muitos fazem não se insere na minha afirmativa. Respeito quem os faz a título de exercício no aprendizado, mas não considero a cópia como arte e nem o executor com artista autêntico. Nesta lógica de entendimento, cada um exercita sua própria superação materializando os trabalhos no limite de sua capacidade de criação.

Admiro cópias bem feitas e o talento de quem as reproduz, mas acho que é um subterfígio e não arte na sua essência. Por isso, meu desafio é criar minhas obras, sem seguir o que denominam de linhas ou traços. Prefiro ter autenticidade, ser versátil e deixar a criação fluir levemente sem amarras, conceitos acadêmicos e interesses do mercado já que posso me dar esse privilégio.

O maior entrave da maioria dos artistas, e também meu, é ter que comercializar diretamente com o interessado meus próprios trabalhos. As pessoas limitam o preço pelo que dispõe a pagar, e não, pela qualidade e originalidade da obra. Barganham pelo menor preço sem respeitar o criador. Em consequência disso o artista se sente desestimulado para produzir novos trabalhos.

Este sentimento de desvalorização a qual me reportei já vem de longas datas. Artistas hoje renomados tiveram as mesmas dificuldades e suas obras só foram valorizadas após suas mortes. Pablo Picasso foi um dos artistas famosos privilegiados, que ainda em vida, teve seus trabalhos reconhecidos.

Nosso povo, ainda, em sua maioria, não manifesta o gosto pela arte. È uma questão cultural. Pena que os gestores atuais da arte e cultura, ainda, não imprimam uma política de valorização e gosto pelas artes nas escolas de uma forma coerente e salutar. Bem diferente da cultura dos europeus.

Isto implica na desvalorização dos trabalhos artísticos; e em consequência, o desestímulo do artista em continuar produzindo seus trabalhos por preços simbólicos que mal cobrem os custos gastos.

No Brasil a cultura é do artesanato, ou seja, a da arte popular, que tem preço acessível que facilita a aquisição dos trabalhos por todas as camadas sociais. As estatísticas demonstram isso. Em 2008, o artesanato representou nada menos que 12 % do PIB nacional.

Conseguir sobreviver no Brasil de venda da produção artística é uma longa estrada a percorrer onde muitos fatores alheios ou nãoà qualidade da obra, é que determina o sucesso do artista. Temos excelentes artistas em nosso país, mas os trabalhos são pouco divulgados e reconhecidos.

Concluindo meu enfoque como artista (?), faço questão de asseverar que o EGO é o referencial termômetro para a auto-avaliação dos meus trabalhos onde busco incessantemente o equilíbrio do meu EU, harmonicamente com a Fé espiritualista, a Razão e a conjetura do Existir.

Assim, a cada dia, e em cada obra ou ação, a sensibilidade aguçada flui de uma forma peculiar desencadeando-me minhas superações com consequentes sensações de paz, serenidade e de felicidade com a reincidência de novas descobertas, sejam nas artes plásticas ou na escrita.

Palmas, 04 de abril de 2008.

Roberto Luiz

Médico Veterinário e Artista Plástico

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