O Confronto entre a Mágoa e a Culpa

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O Confronto entre a Mágoa e a Culpa

Tenho experimentado nos íltimos anos uma busca sistemática pelo entendimento de minha relação com meu irmão caçula, o Leonardo. Essa busca está orientada por um baixo grau de entendimento dos porquês  de não conseguirmos manter uma relação minimamente cordial entre nós dois. Ora, se somos irmãos, temos a mesma referência de Pai e Mãe , se temos outros irmãos também em comum e, mais do que isso, fazemos parte da mesma família, por que então não conseguimos nos entender?

Então, no propósito de entender melhor isso, passei a buscar nas minhas leituras espíritas, ou espiritualistas, um caminho que me permitisse entender melhor essas coisas todas. Acho que no fundo talvez eu estivesse buscando um aval superior para a minha razão. Isso, pois no fundo eu não acreditava ter qualquer culpa sobre esta mágoa velada que se transformou numa trincheira ideologia e afetiva entre mim e meu irmão Leonardo. E isso é tão marcante que, imaginem só, eu cheguei a identificar meu irmão Leonardo num sonho no qual ele era meu algoz. Alguma situação como estarmos no porão de um navio, ou coisa parecida, e ele, com um tamanho gigantesco, pronto para me ferir de alguma maneira. E vejam que isso, esse sonho, aconteceu numa noite quando pedi ao meu anjo da guarda uma revelação que me ajudasse a entender aquela bendita trincheira.

Num determinado momento, até acreditei ter encontrado motivações claras para nosso estado de desarmonia. Só que não sabia o que fazer com isso. Vejam, encontrei as razões que buscava e permanecia sem entender como remover a bendita trincheira.

Eis que essa situação deve ter torrado a paciência de meu anjo da guarda e dos meus eternos amigos invisíveis que, numa noite dessas, na calmaria do quarto do sítio, deitado ao lado do meu filho Lucas, e aqui cabe um parêntese… Lembram-se daquele sonho quando identifiquei meu irmão Leonardo como meu algoz? Pois é, naquele mesmo sonho eu estava acompanhado de alguém que me parecia ser o meu filho Lucas. Ocorre que quando acordei, tinha uma dívida cruel: se meu algoz no sonho era meu irmão Leonardo ou se era meu filho Lucas. Ora, não tive dívidas, meu algoz não poderia ser meu filho a quem tanto amo e que tanto me demonstra amor. Cabia o parêntese ou não?

Bom, continuando… Naquela abençoada noite no quarto do sítio eu tive um sonho muito agradável. Na verdade não me lembro do sonho em si, mas, com muita clareza, me recordo das frases que ficaram martelando em minha mente. Era uma coisa que me remetia claramenteàquela bendita trincheira, só que de uma forma meio diferente. Eu não coseguia mais pensar sobre essa situação como que havendo um culpado e um ofendido, um algoz e uma vítima, um vilão e um mocinho. Não, o que mais me vinhaà mente era que a Mágoa aprisiona apenas quem a cultiva. Que a Mágoa faz sofrer apenas quem a sente e a mantém viva. Peguei-me pensando sobre aquela bendita trincheira e como aquilo tudo me fazia sofrer, e como aquilo tudo poderia estar fazendo meu irmão Leonardo também sofrer. E sofrer por quê? Sofrer porque, por mais que eu tentasse encontrar uma culpa em mim ou nele, eu não conseguia encontrar alguma culpa que fosse, sozinha ou associada a outras, motivação suficiente para justificar aquela bendita trincheira. E vejam que a partir desse momento eu passei a acreditar que aquela trincheira era de fato bendita. Que ela tinha alguma coisa de nobre que a justificasse.

Pois bem, ainda debaixo do cobertor eu passei a construir uma cena na qual eu conversava com meu irmão Leonardo e a construir também um monólogo  no qual eu o pedia para refletirmos juntos sobre algo que talvez pudesse nos ajudar a remover aquela bendita trincheira. Naquela cena eu dizia a meu irmão Leonardo que eu já me sentia esgotado por tanto tentar encontrar motivos sem êxito. Que não conseguia definir uma causa atual que justificasse aquela barreira emocional que nos separava.

Naquela cena eu dizia a ele sobre o sonho que houvera tido e sobre as impressões que me causaram. Mas também dizia a ele que eu não mais estava buscando encontrar as causas, e isso por um motivo só: prá mim, a partir desta noite, algo ficou mais claro. Eu acho até que meu anjo da guarda e meus eternos amigos invisíveis se cansaram de tanta ignorância e resolveram me dar o peixe .

Pois bem, nesse monólogo todo eu passei a reproduzir para meu irmão Leonardo as mensagens que acredito ter recebido de meu anjo da guarda e de meus eternos amigos invisíveis que diziam alguma coisa do tipo:

Se algo houve no passado que possa ter gerado sentimentos menos nobres e construído uma barreira ideologia entre nós dois, isso é passado e não está acontecendo agora.

Se, de fato, a Família é o laboratório de crescimento que recebemos para que possamos nos melhorar a todos, então façamos bom uso dele.

Se houve culpa no passado, e elas de fato, de uma forma ou de outra, sempre ocorrem, porque somos seres em crescimento, a Justiça Divida que age sobre a consciência de cada um de nós, há de fazer com que o culpado experimente em algum momento o sincero arrependimento e receba de Deus o direito de purgar suas culpas seja pela Dor, pelo Serviço ou pelo Amor. E vejam que eu não falei do Perdão.

Ora, se eu posso crer que o arrependimento sincero é capaz de produzir o direito a uma missão recuperadora, onde então o Perdão atua como agente purificador?

Aqui está posta a alegria que tive ao acordar do sonho desta noite…

Se houve um vilão, um culpado, um algoz, em contrapartida também houve um mocinho, um traído, uma vítima. E se a culpa onera a existência do vilão, por fragilidade no Amor, a Mágoa, por semelhante fragilidade também onera, e muito, a existência da vítima.

Ah, então quer dizer que a Mágoa que guardo daquele que possa ter sido um dia meu algoz pode, pela benção do arrependimento sincero, não produzir efeito de vingança algum naquele por quem nutro tal sentimento menos nobre?

Ora, então é por isso que a Doutrina Espírita versa que a Mágoa é um veneno que bebemos na esperança que o outro morra?

Nossa! Então eu poderia intuir que se de um lado o arrependimento sincero abre portas de crescimento espiritual para quem pecou , o instituto do Perdão é benção que revigora e favorece o crescimento daquele que outrora se viu injustiçado?

Será esse então meu Deus o mistério que precisamos desvendar em nós mesmos para que possamos almejar a tão sonhada harmonia humana?

Será esse então meu Deus o mistério para o qual tenhamos que nos abrir para que possamos aproveitar bem o Laboratório de Crescimento Espiritual que se nos apresenta como nossa Família aqui na Terra?

Então meu Deus, se tudo isso é verdade, não vou perder mais tempo tentando entender o passado, até porque, se é pedra lançada não poderei mais retomá-la, pois já é lançada. Vou então buscar caminhos para construir melhor presente e mais harmonioso futuro.

Vou pedir perdão a meu irmão Leonardo, por males que o tenha feito no passado. Menos pelo bem que isso possa me significar na minha existência atual, mas, sob a égide do Amor, mais pelo enorme bem que esse perdão possa produzir na sua própria existência.

Meu irmão Leonardo perdoe-me por todos os males que eu lhe tenha causado e sorva na sua vida todos os benefícios que esse Perdão possa produzir. Se permita perceber que temos nessa existência uma bela oportunidade de zerarmos  qualquer pendência  que tenhamos trazido de um passado remoto e, ainda mais, findarmos os desentendimentos que tenhamos reproduzido nesta vida.

Se algo ele me tenha feito de mal no passado ainda mais remoto que possa ter sugerido uma vingança minha em outra época, ou mesmo se mal me tenha feito apenas por mera inclinação ao delito, então meu Deus já o tenho perdoado.

Meu irmão Leonardo, eu não reconheço qualquer motivo para sentir mágoa de você. Muito pelo contrário. Eu o amo de todo meu coração e quero construir contigo uma harmonia verdadeira e eterna.

Meu Deus, nos conceda celebrarmos a Harmonia Eterna e construirmos nosso crescimento espiritual naquele que é nosso principal laboratório nesta Terra: A Família.

Santa Branca, 30 de Junho de 2012

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