O Fantasma e o Filósofo 2.5/5 (2)

Our Score
Click to rate this post!
[Total: 0 Average: 0]
Download PDF

Pedro Fagundes Azevedo, jornalista, ex-presidente da Soc. Legião Espírita de Porto Alegre. Contribuição de Pedro

Conta o próprio Allan Kardec, na sua Revista Espírita de março de 1859, citando o testemunho de um amigo, que há muito tempo existia em Atenas uma bela casa que apesar de grande e confortável permanecia em completo abandono. Ninguém queria saber de ali morar por causa de uma fantástica assombração. Ao chegar a noite, ouvia-se ruídos de ferros e, apurando bem o ouvido, captava-se um rumor de correntes, que a princípio parecia vir de longe e aproximava-se pouco a pouco. Aparecia então o espectro de um velho, muito magro, muito abatido, com uma longa barba e cabelos desgrenhados, com correntes nos pés e nos pulsos.

Assim, os que tentavam habitar aquela casa passavam por noites de medo e terror. Embora durante o dia o fantasma não aparecesse, o medo que havia provocado durante a noite não deixava ninguém sossegado. Até que seus proprietários resolveram passar adiante o terrível problema que já era bem conhecido em toda a cidade. Colocaram então um aviso de venda ou aluguel no jornal local, com a esperança de que alguém, menos avisado, viesse a se interessar.

A publicação desse anúncio coincidiu com a visita a Atenas do filósofo Atenodoro que na época procurava uma casa para ali fixar residência. Lê o anúncio e procura informar-se. Contam-lhe a história e, longe de interromper o negócio, trata de concluí-lo sem demora. Instala-se e temendo que sua imaginação chegasse a um temor tão frívolo a ponto de imaginar fantasmas, aplica toda sua atenção na arte de escrever suas ideias filosóficas. Logo na primeira noite um profundo silêncio reina na casa, como por toda parte. Depois ele ouve o entrechoque de ferros e barulho de correntes. Não levanta os olhos nem larga a pena; tranquiliza-se e esforça-se por escutar. O ruído aumenta, aproxima-se e dá a impressão de estar junto à porta do quarto. Ele olha e vê o espectro, tal qual lhe haviam descrito. O fantasma estava de pé e o chamava com o dedo indicador. Atenodoro faz sinal com a mão para que espere um pouco e continua a escrever na mais completa calma, como se nada estivesse acontecendo.

O espectro recomeça então o barulho com as correntes, que faz soar aos ouvidos do filósofo. Ele olha ainda uma vez e vê que continua a ser chamado com o dedo. Então, sem mais delongas, levanta-se, toma um castiçal com duas velas acesas e o segue. O fantasma caminha com um passo lento, como se oprimido pelo peso das correntes. Chegando ao pátio interno da casa, desaparece de súbito, deixando ali o nosso filósofo. Este, no dia seguinte, procura as autoridades locais a quem narra a estranha ocorrência e pede que mandem escavar naquele lugar. Cavaram e para espanto geral encontram um esqueleto com os ossos ainda presos às correntes. Rezam e convidam a população para a cerimonia de enterro público ao entardecer do mesmo dia. A partir daí, depois da comunidade ter rendido as homenagens fúnebres, o fantasma nunca mais apareceu.

Loading