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Contribuição de Orleide Felix de Matos

HISTÓRIAS INFANTIS PARA ADULTOS

CONVERSA NA FLORESTA

Já era madrugada e a discussão ia acalorada na floresta.

Juvelina, uma rinoceronte frequentadora do Centro Espírita Irmã Caridade, localizado nas florestas da África, discutia sobre as preleções da noite com seus amigos.

-Antigamente eu não me importava com nada e nem queria saber sobre religião. Nem pensava em Deus e raramente me lembrava Dele – dizia Juvelina.

-Deus é muito importante em nossas vidas, dizia Gilcélia, – a zebra mais velha da floresta. Depois que comecei a orar, minha vida modificou muito. Sou mais paciente, mais resignada e procuro ajudar os outros animais.

-Sem dúvida,- dizia Jovelina, – agora me sinto melhor, mais confiante. Achava-me a tal, mas depois que passei por dificuldades de saúde, passei a compreender a necessidade de ter uma religião. O orgulho cegava-me, mas a dor foi minha grande professora.

-Bem, – dizia Psitácido, o papagaio, – Jesus nos trouxe o seu Evangelho que é de libertação e os homens fizeram dele uma prisão para o Espírito. Inventaram regras, formas de vestir-se, rituais e tantas outras coisas. E tudo isso faz com que todos se preocupem mais com o culto externo e não com a melhoria interior.

-É verdade, – dizia Gilcélia,- a religião é para ligar o homem a Deus e não para afastá-lo Dele.

-Vejo a necessidade da ligação com Deus, – dizia Leocádio, um leopardo que gostava de frequentar diversos templos religiosos – como uma coisa inadiável. Cada religião quer ter a posse exclusiva da verdade, mas Deus está acima de tudo isso.Ouvi dizer que entre os humanos as guerras que mais mataram foram as guerras religiosas. Isso é um absurdo. Matar em nome de Deus! Pobres humanos! E ainda se classificam no topo da escala dos animais como os mais inteligentes.

-Eles não se entendem, – dizia Leontina, – a girafa.

-Não vejo o cristianismo como uma religião, – dizia Horácio, o iguana – mas como um processo educacional.

-Concordo, – dizia Psitácido, – é um processo de educação constante, mas muitos se apegam ao culto exterior.

-Lá no centro onde frequento fala-se muito sobre reforma íntima – dizia Juvelina.

-Precisa ter muita vontade, pois lutar contra as más tendências não é fácil – dizia Gilcélia.

-Por isso falo que o cristianismo é um processo educacional – dizia Horácio. Quem segue Jesus, quem O coloca no fundo de seus pensamentos e atitudes se modifica.

-E Joanna de Ângelis diz que quem conhece Jesus nunca mais será o mesmo, – dizia Juvelina.

-O processo educacional do cristianismo se concentra na luta contra nossas imperfeições- disse Psitácido.

-De acordo, – disse Horácio – pois se não fosse assim não teria sentido o Divino Mestre encarnar na Terra e passar por tudo o que passou para depois passar a mão sobre nossas cabeças e dizer que nossos erros estão perdoados. No plano espiritual superior não tem gente má, cheia de defeitos, mas sim Espíritos em aperfeiçoamento lutando contra as próprias imperfeições.

-Reaprender a viver, – disse Altivo, o leão. Aprendemos a viver de forma contrária aos ensinamentos de Jesus, damos asa às nossas imperfeições, nos lambuzamos cada vez mais na lama e depois a correção é dolorosa. Nossas imperfeições ramificam-se, aprofundam-se como as raízes de uma árvore secular, que tem vários metros de raízes para cada lado e depois arrancá-la não é fácil. Precisamos da escavadeira da boa vontade, do guindaste da luta constante para retirá-la, já que pesa muito.

-Por isso que ser cristão de verdade é muito difícil, disse Altamirando, o hipopótamo. Falar, seguir cultos exteriores, louvar através da música é muito fácil. Porém, manter a fé quando Deus tira todos os bens materiais e louvá-lo como fez o homem da história bíblica isso é para quem tem aquela fé de transportar montanhas como ensinou o Mestre.

-A gente fala que tem fé, mas quando vem a provação, despenca, disse Severino, o macaco prego.

-E como ter fé? – perguntou Alzira, a preguiça. Fico aqui o tempo todo e nada acontece.

-Você já é preguiçosa por natureza – disse Altivo. Não vai caçar para alimentar seus filhos, fica aí deitada o tempo todo.

-Ai que dor nas costas, – disse Alzira. Esse reumatismo está acabando comigo. Acho que estou com hérnia de disco, artrose, escoliose, cifose, etc.

-Faça como eu, sorria, – disse Valéria, a hiena. Não seja pessimista.Todos os que olham para mim dizem que parece que estou sorrindo o tempo todo e realmente estou. Sou muito feliz.

-É porque você não tem essas dores de coluna que eu tenho, disse Alzira.

-Mexa-se, disse Horácio – vá trabalhar. Tem tanto bicho na floresta precisando de ajuda. Vai ver que a dor vai passar rapidinho, porque você ocupará sua mente com coisas úteis.

Alzira ficou furiosa e foi deitar-se em uma árvore distante.

Reclamar é algo que não resolve – disse Juvelina.

-Há poucos dias – disse Psitácido- eu estava lendo um livro muito interessante chamado Terapia Anti Queixa do Roosevelt Andolphato Tiago e li um provérbio muito interessante que diz assim: “Se o seu problema tem solução, por que reclamas? Se o seu problema não tem solução, por que reclamas?” Isso me fez pensar mais ainda que como disse antes, acho que o cristianismo é um processo educacional, pois Jesus nos ensina a fé, a paciência, a resignação, o perdão, a misericórdia.

-Sim, Psitácido, concordo plenamente – disse Indalécio, o elefante que acabava de entrar na conversa. Seu ponto de vista é muito interessante quando diz que o cristianismo é um processo educacional.

-Reclamar tira a dor – disse Alzira lá da outra árvore.

-Não diga besteira, disse Horácio. Nas leituras que fiz nunca li que reclamar tivesse a função de anestésico ou de anti inflamatório. Reclamar é falta de resignação à vontade do Pai Celeste, isso sim.

-Reclamar é sinal de dor!!!!!!!!!!!!Ai, Ai!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!- disse Alzira.

-Bem, já que estamos falando em Evangelho, em seguir Jesus, vamos ajudar Alzira em sua dor. Vamos chamar o doutor Silvino, o tigre de Bengala e sua fiel equipe de enfermeiros e fisioterapeutas para aplicar injeções para dor e passar alguns exercícios de alongamento.

-Não precisa. Já estou melhor- gritou Alzira.

-Viram como fazer reforma íntima não é fácil – disse Gilcélia. Falou em sair do comodismo, movimentar-se, tomar novas atitudes perante a vida Alzira ficou curada na hora.Quer continuar do jeito que está, gosta da vida que leva.

-Então, minha gente, disse Altivo, – vamos dormir porque logo mais temos muitos animais para ajudar e muita caridade para fazer. E isso é só o princípio da luta contra nós mesmos.

-Que Deus nos abençoe – disse Indalécio – e nos dê forças para prosseguir nossa luta contra nós mesmos.

-Assim seja – disse Leontina.

A conversa foi encerrada. Todos foram para suas casas, mas lá da outra árvore ouvia-se a voz lenta e rouca de Alzira:

-Ai que dor!!!!!!!!!!!!!!!!!!!Ai que dor!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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