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Na área das manifestações afetivas, o desenvolviÂmento da percepção deve dar-se de maneira espontânea, sem qualquer tipo de manipulação dos sentimentos.
Inata, em a criatura humana, a afetividade é funÂdamental para um desenvolvimento emocional sauÂdável, respondendo pela felicidade e auto-realização do ser.
A imaturidade dos adultos, não raro, desde cedo, por mecanismo de transferência de sentimentos conÂflitivos, procura adquirir o afeto da criança medianÂte a sedução, que conduz, no íntimo, algum distírÂbio da libido. Naturalmente, esses, que assim se comportam, como muitos pais, não têm conhecimenÂto da relação subjacente de conotação sexual.
Incapaz de compreender a sedução de que se faz objeto, a criança se sente impossibilitada de exerÂcer o critério da livre escolha, ou de fazer exigências naturais para a conquista do que lhe resulta em prazer. Quando o consegue, descobre a maneira de chantagear, passando a mascarar os seus sentimenÂtos e derrapando em interesses subalternos. Essa conduta propõe um dilema no processo psicológico da mesma, que é a dificuldade de como agir, de forma que a si mesma se agrade, sem desatenderàquele que lhe proporciona prazer, embora por meio de astícia, de ser livre e escolher a própria satisfação de maneira segura.
Nesse jogo de afetividade doentia, surge a rejeiÂção como mecanismo punitivo, no qual o medo de ser descoberto pelo sentimento perturbador que manÂtém, pune o ser que seduz, por haver-se tornado instrumento de gozo e de possível sofrimento.
Esse distírbio resulta da carência que experiÂmentam alguns adultos, que transferem, de imediaÂto, para a prole, essa necessidade afetiva, passando a seduzir os filhos, não raro, amando-lhes os corpos, o contato físico, em razão da repulsa que sentem pelo próprio.
Conduta de tal natureza, além de afligir a crianÂça e perturbar-lhe o desenvolvimento psicológico saudável, contribui para que surjam conflitos afetiÂvos. Poderá manter ojeriza pelo corpo, caso tenha observado o dos pais, especialmente se são exibiciÂonistas, e o apresentam com o pretexto de darem início a uma educação sexual, que ocorre no moÂmento inadequado. A criança pode ser tomada de pavor em verificar como ficará na idade adulta, passando a realizar um conflito castrador, notando a ausência de beleza no corpo adulto. Porque ainda éincapaz de entender estética e harmonia, a exibição física dos pais ou de outro adulto qualquer, poderá provocar um sentimento de anulação do próprio corpo, passando a abandoná-lo, mesmo que inconsÂcientemente.
O esquizóide, por exemplo, nega o corpo e assuÂme, quase sempre, uma postura infantil e de incapaÂcidade.
Somente o amor real, destituído de interesses perturbadores, consegue irradiar a luz da harmonia entre as criaturas. Será ele que oferecerá recursos para uma conduta saudável, pela força intrínseca de que é portador, anulando a possibilidade da instalaÂção de conflitos.
Mesmo o esquizóide não se encontra imune ao amor. Tem dificuldade de amar, é certo, porém é receptivo ao amor. Quando este se lhe acerca, transÂforma-o, o ego nele predominante abandona sua heÂgemonia, facultando que fiqueà disposição da ouÂtra pessoa.
Nesse estado, aquele que ama, não somente vive um sentimento de união com o ser amado, como também com tudo e com todos, em um estado de perfeita identificação. Alteram-se, ante as suas emoÂções, os painéis da natureza, e a vida flui de forma generosa, harmônica.
Indispensável que a conduta se encontre estabeÂlecida entre parâmetros que definam como agir e como vivenciar as próprias experiências.
O conhecimento oferece recursos hábeis para o cometimento. No entanto, a espontaneidade não deve ser banida dessa conquista, em razão dos benefícios que proporciona. Uma atitude natural é muito mais valiosa do que aquela que se fez estruturar artificiÂalmente, oferecendo uma postura robotizada.
Por isso, o treinamento não pode eliminar a posÂsibilidade das reações normais, o que tornaria os gestos totalmente destituídos de encantamento e naÂturalidade.
Certamente, se deve pensar antes de agir, partiÂcularmente quando se é defrontado por circunstânÂcias e ocorrências importantes. Todavia, o gesto afeÂtivo espontâneo consegue muito mais do que as arÂtimanhas e elaborações do intelecto. Ademais, o senÂtimento puro irradia-se e conquista, enquanto a atiÂtude estudada oferece gentileza mas não espontaÂneidade.
O conhecimento exerce um grande valor na conÂduta afetiva, no entanto, o estabelecimento de reÂgras presentes em manuais de como conquistar pesÂsoas, de como mantê-las vinculadas, constitui um perigo para a própria expressão do amor, que se torna artificial, desinteressante, em razão de considerar-se o outro como objeto de uso, de exploração que, após preencher a finalidade, pode, a qualquer momento, ser deixadoà margem.
Destacam-se dois elementos na área da afetiviÂdade que não podem ser desconsiderados: o conheÂcimento e o sentimento. O conhecimento amplia os horizontes, mas o sentimento vivencia-os. O conheÂcimento liberta, porém o sentimento dá calor e vida.
Não seria fácil estabelecer uma escala de valores para demonstrar qual dos dois é mais importante na estruturação da vida afetiva. Deve-se, no entanto, ter em conta que o amor trabalhado mediante fórÂmulas é destituído de luz e de calor, com duração efêmera, podendo saturar com rapidez.
Por outro lado, o sentimento sem controle escraÂviza, perturbando a função afetiva com exigências descabidas, principalmente se o ego comanda a conÂduta.
Ideal, portanto, que o ato afetivo seja espontâÂneo, sem fórmulas, com respeito e doação, com calor e sem ardência, o que se consegue mediante a eduÂcação do sentimento.
Costuma-se afirmar que o coração não pode ser educado, o que é verdade, no entanto, podem ser orientadas as explosões do ego como necessidade afetiva.
Seria desejável que essa proposta de educação dos sentimentos, começada no lar, prosseguisse na escola, de forma que a criança pudesse experienciar a afetividade sem afetação, sem sedução, evitandoÂ-se, por consequência, o fenômeno da rejeição.
Nesse programa educativo, seria viável que se retomasse a espontaneidade, ao lado do currículo estabelecido sem rigidez, para que se logre, na comÂpetitividade do grupo social, a produção e a conÂquista de recursos financeiros compensadores para o ego e realizadores para o Self.
Todo recurso de sedução é prejudicial, em razão da falta de autenticidade afetiva, propondo confliÂtos, perfeitamente dispensáveis.
Joana de Ângelis – Psicografado por Divaldo franco